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O historiador Rodrigo Motta, da UFMG, lança livro para combater negacionismo da violência da ditadura
Por Vitória Landgraf
Após 36 anos do fim da ação que foi classificada por historiadores como um golpe de estado, o Brasil ainda não conseguiu virar a página do regime militar como possibilidade de salvação e de debater as sequelas da ditadura. A afirmação foi feita pelo historiador Rodrigo Patto Sá Motta, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em conversa com o jornalista Ricardo Balthazar a respeito de seu novo livro, Passados presentes – O golpe de 1964 e a ditadura militar, recentemente lançado. O encontro foi transmitido ao vivo, nesta quarta-feira (10), pelo canal da editora Companhia das Letras, no YouTube.
Especialista em história contemporânea a história republicana do Brasil, Motta contou que a inspiração para a produção de sua nova obra surgiu após se indignar com o recente aumento do número de saudosistas da época da ditadura militar e devido ao atual cenário marcado pela forte presença de membros das Forças Armadas na administração pública federal.
“Minha motivação é enfrentar os que elogiam esse período pautados por paixões ideológicas. Eu quis trazer uma leitura baseada em pesquisa acadêmica e mostrar que a ditadura não foi só preto no branco. Houve, sim, violação dos direitos humanos”, observou o escritor.
“É preciso questionar as heranças da ditadura”, defendeu o escritor ao apontar que “os militares não nos entregaram um país melhor”. A exaltação de discursos autoritários e antidemocráticos foram uma consequência negativa do regime militar, que tem ameaçado a ordem social no Brasil. “Um dos problemas da ditadura foi socializar esses militares com valores autoritários e uma visão salvacionista, em que, até hoje, acham que são eles que precisam conduzir o país”.
Segundo o professor Motta, após o regime militar, as lideranças do país e grande parte da sociedade tiveram receio de lidar com os militares, e não discutiram sobre a ameaça que a “remilitarização” do governo poderia trazer à democracia nacional. “Estamos acomodados, o presidente Bolsonaro flerta com o autoritarismo militar, incita ao golpe e não se toma uma atitude à altura. Ficamos sempre nesse jogo de morde e assopra”, criticou.
Segundo argumentou o jornalista Ricardo Balthazar, da Folha de S. Paulo, o apoio à ditadura, ainda nos dias de hoje, está na dificuldade de acadêmicos e jornalistas entenderem e explicarem essa “onda” de conservadorismo arraigado na sociedade, que aceita tortura e autoritarismo.
Entre as motivações para golpes políticos, Motta elencou o discurso anticomunista e anticorrupção como os mais mobilizadores. Para ele, as pessoas podem pensar como quiserem, mas o problema está em usar este discurso para manipular grupos conservadores que possuem grande oposição a mudanças sociais e, dessa forma, justificar repressão.
“Criou-se a ideia de que os militares nos salvaram do comunismo, mas foi a própria ditadura quem fez o convite para as guerrilhas comunistas e lutas armadas”, pontuou Motta.
Autor dos livros Jango e o golpe de 1964 na caricatura (2006) e As universidades e o regime militar (2014), o pesquisador disse que não “não basta ter eleições diretas” para que uma nação se considere democrática. De acordo com ele, é preciso sinalizar à população a necessidade do desenvolvimento de uma “educação democrática”, que busque internalizar na sociedade valores cívicos, a importância da liberdade democrática e a aceitação de opiniões diferentes, diminuindo a polarização política.
Apesar das críticas ao governo militar, Rodrigo enfatizou a importância das Forças Armadas para um país. Segundo ele, os militares devem ser respeitados e ficarem responsáveis apenas pela segurança e defesa externa e territorial da nação. “Precisamos superar essa tradição da nossa história e colocar os militares para atuarem em suas devidas áreas”.
Aqui, acesso à entrevista com o historiador Rodrigo Patto Sá Motta.
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