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Evento climático caracterizado por secas e invernos mais fortes retorna pelo segundo ano consecutivo no Brasil

Por: Guilherme Frezzarin e Lucas Ardito
O setor agrícola brasileiro está sendo diretamente influenciado pela prorrogação do evento climático La Niña. Para enfrentar os períodos de estiagem que deverão ocorrer na região Centro-Sul do país até o outono de 2022, agricultores buscam se planejar com antecedência. Profissionais rurais alegam que é possível passar pelo período do fenômeno sem ter prejuízos, mas que isso torna a produção mais cara.
Marcélio de Oliveira, diretor de uma fazenda no estado de Minas Gerais, explica que a estiagem prolongada pelo La Niña não prejudica a produção graças às estratégias elaboradas por sua equipe, que conta com pivôs de irrigação para auxiliar o plantio. “Nossa produção não é afetada, pois a gente se programa para a seca. Só planta na seca quem tem pivô, e se planta o tipo de cultura específico para aquele momento. Você tem um custo maior, mas se tiver um produto, que ninguém mais tem, é possível agregar valor no preço desse produto”, diz.

O pivô é uma técnica de irrigação muito utilizada por fazendas que possuem grandes escalas de produção. O sistema possui motor e rodas para que haja o deslocamento e seja possível atingir toda a plantação. Segundo o gestor, seu uso implica em aumento de 15% a 20% no custo da produção.
O La Niña é um fenômeno atmosférico-oceânico que ocorre no Oceano Pacífico, mais especificamente na linha do Equador, onde a temperatura da superfície do Oceano fica abaixo da média histórica. Isso significa que acontece um esfriamento anormal das águas dessa região. A ciência ainda desconhece a causa desse fenômeno, que provoca invernos rigorosos e períodos prolongados de secas. No Brasil, as regiões Sul e Nordeste são as que costumam sofrer mais com este evento, pois apresentam maior variabilidade de estiagem e temperatura em relação à média histórica. Contudo, outras regiões também são afetadas.
Apesar de existir a possibilidade de superar o fenômeno sem prejuízos, existem ressalvas. Em 2021, o La Niña foi responsável pelo maior atraso da colheita de soja dos últimos dez anos no país, o que impactou tanto a parte de produção quanto de exportação da semente. O agronegócio é parte importante da economia brasileira: de acordo com cálculo divulgado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em 2020, o agronegócio alcançou participação de 26,6% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
O diretor de outra fazenda em Minas Gerais, Luciano Goulart, também relata que o principal impacto causado pelo período de La Niña é o financeiro. “Nós temos uma área irrigada que fazemos o plantio no período de seca mesmo, e a água dessa irrigação vem do Rio Grande, com outorga (autorização para uso de recursos hídricos), para utilizar nos pivôs. É lógico que acaba sendo uma lavoura bem mais cara, porque temos o custo de energia elétrica e óleo diesel”, explica.
A pesquisadora e diretora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura (Cepagri), Priscila Pereira Coltri, explica como o fenômeno pode afetar a agricultura e agronegócio brasileiro. “Esse fenômeno afeta o clima do mundo inteiro. Quando digo clima, estou falando que há uma variabilidade mais acentuada nas variáveis meteorológicas como temperatura e
chuva, principalmente. Nesse sentido, há possibilidade dessas variáveis ficarem fora do padrão esperado para aquela época. Isso pode ser prejudicial em particular para a agricultura e, consequentemente, para o agronegócio. É importante ressaltar que a interferência no agronegócio depende, basicamente, da intensidade do fenômeno e da vulnerabilidade do produtor rural. Quanto mais informações o produtor tem, melhor ele consegue se adaptar”, afirma.
Priscila complementa seu raciocínio ressaltando a importância de os produtores rurais conhecerem bem o clima no qual trabalha. “O conhecimento dos padrões climáticos, bem como suas possíveis alterações, é de fundamental importância para o produtor rural. Uma vez que ele consegue monitorar as variáveis atmosféricas da sua região e acompanhar as previsões sazonais, é possível planejar suas ações em campo, minimizando o efeito do tempo na produção. Há uma necessidade urgente, hoje, da convivência com o clima e não do combate a ele. Os seres humanos não conseguem combater fenômenos naturais, mas conseguem se adaptar a eles”, explica.
Conforme informado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), o La Niña deverá perder força apenas no outono de 2022, ou seja, entre os meses de março e junho. Por conta disso, a pesquisadora do Cepagri diz que os produtores devem tornar o clima seu aliado. Segundo Priscila, “o conhecimento traz empoderamento. Uma vez que os produtores conhecem a atuação dos fenômenos naturais, ele consegue planejar suas atividades agrícolas, a curtoo, médio e logo prazo, fazendo do clima seu aliado e não seu oponente”.
Orientação: Profª Rosemary Bars
Edição: Letícia Almeida
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