Destaque

Preservação que Vale: um fruto do mar criado na fazenda

Método sustentável e inovador viabiliza a carcinicultura no interior paulista

Carcinicultura é uma atividade rentável para o agronegócio brasileiro. Crédito: Aqualuz Camarão

Por: Fernanda Machado

As ações humanas têm causado mudanças em todo o planeta, inclusive nos oceanos que, por não estarem sempre presentes em nossos cotidianos, muitas vezes passam despercebidas. No artigo “A meta-analysis reveals edge effects within marine protected areas”, publicado em julho de 2021, os pesquisadores Sarah Ohayon, Itai Granot e Jonathan Belmaker, da Universidade de Tel Aviv, analisaram 27 áreas de preservação costeiras em todos os continentes – exceto a Antártica –, dentre as quais, a Reserva Extrativista Marinha de Corumbau, em Porto Seguro (BA). O estudo concluiu que impactos advindos de pesca excessiva, poluição e outras pressões humanas reduzem a vida marinha em até 60% nos entornos dessas áreas, comparado às suas regiões internas. Uma alternativa a fim de mitigar esses danos é a carcinicultura – criação de camarões – intensiva num sistema fechado, independente dos ecossistemas litorâneos, que vem sendo implementada numa fazenda em Taubaté (SP), no Vale do Paraíba.

O biólogo Dalton Nielsen: “tecnologia de Bioflocos é vantagem sustentável e ecológica em relação ao método tradicional”. Crédito: Aqualuz Camarão

De acordo com o carcinicultor e sócio-proprietário da Aqualuz Camarão, Dalton Nielsen, um sistema inovador de tratamento é o diferencial da empresa. “Aprimoramos os conhecimentos tradicionais para não precisarmos trocar a água, apenas uma faixa de 5% é reposta a cada 6 meses por conta da evaporação.” Além disso, ele explica que uma das técnicas aplicadas é a do Biofloco (BTF), que consiste “na formação de bactérias dentro do tanque de cultivo no qual ele vai eliminar todos os compostos nitrogenados, no caso amônia, nitrito e nitrato”.

Segundo Nielsen, que é mestre em zoologia pela Universidade de Taubaté, a tecnologia utilizada pela Aqualuz permite criar camarão longe do mar, eliminando os impactos sobre os biomas ali presentes. Essa característica é uma vantagem sustentável e ecológica em relação à carcinicultura tradicional, que pode causar danos. “No Nordeste, que é o principal polo, muitas fazendas foram construídas em cima de mangues – áreas de preservação ambiental – e estão tendo que se transferir”, observa.

Outro diferencial do sistema intensivo é a capacidade de entregar os camarões com mais qualidade para os clientes. “Um camarão produzido no Nordeste demora até 25 dias para chegar em São Paulo, então é um camarão que já tem muita dificuldade de apresentar um aspecto fresco. No tanque você consegue analisar a morfologia, principalmente de antenas, se o intestino e o hepatopâncreas estão em ordem, se ele está transparente e ativo”, ressalta Nielsen.

Cuidados com a água permitem entregar camarões frescos e de melhor qualidade. Crédito: Aqualuz Camarão

Na Aqualuz, o trabalho para levar o camarão até o consumidor final começa no processo de engorda. As larvas do tipo PL 10, que significa ‘pós-larva de 10 dias’, são compradas de laboratórios de produção e levadas para os tanques de criação. “A partir daí ela será engordada até atingir de 12 a 20 gramas, para ser abatida e vendida. Esse processo demora cerca de 4 meses aqui na nossa região.”

A carcinicultura é uma atividade rentável para o agronegócio brasileiro, porém tradicionalmente causa impactos ambientais nos ecossistemas marinhos. Ao eliminar a dependência das fazendas em relação ao mar, tecnologias como a do Biofloco ajudam a mitigar esses efeitos, além de promover um aumento na produtividade e qualidade do camarão. Um exemplo de como inovação e sustentabilidade podem caminhar juntos e, assim, construir um modo de vida mais conectado com o meio ambiente.

Ouça aqui o podcast “Preservação que Vale: um fruto do mar criado na fazenda”


Orientação: Profª Cyntia Andretta
Edição: Caroline Adrielli


Veja mais matéria sobre Destaque

Provão Paulista incentiva estudantes da rede pública


Desde 2023, a prova seriada se tornou porta de entrada para as melhores universidades do Estado de São Paulo


Sistema de Educação ainda requer ajustes para incluir alunos PcD na educação física


Apesar dos avanços na educação, alguns profissionais ainda se sentem despreparados para lidar com esse público nas aulas


Revolução na luta contra Alzheimer: Unicamp lidera avanços com IA na inovação farmacêutica


Pesquisas inovadoras unem tecnologia e biociência na busca de tratamentos eficazes para doença neurodegenerativa


Projeto social promove atividades pedagógicas em escolas de Campinas


São pelo menos 280 jovens mobilizados nos encontros e quatro escolas que abraçam as atividades propostas


Valinhos é eleita a cidade mais segura do Brasil em 2024


Uso de tecnologia e aumento de 30% no efetivo da Guarda Civil Municipal aumentam a segurança e a qualidade de vida na cidade


Novembro Azul destaca o papel da hereditariedade no avanço do câncer de próstata


Especialista explica como o fator genético pode acelerar o câncer masculino



Pesquise no digitais

Siga – nos

Leia nossas últimas notícias em qualquer uma dessas redes sociais!

Campinas e Região


Facebook

Expediente

Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes / Daniel Ribeiro dos Santos / Gabriela Fernandes Cardoso Lamas / Gabriela Moda Battaglini / Giovana Sottero / Isabela Ribeiro de Meletti / Marina de Andrade Favaro / Melyssa Kell Sousa Barbosa / Murilo Araujo Sacardi / Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.