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Para Maria Amália e Pedro Hallal, “espaço natural de muvuca” também precisa garantir diversidade
Por: Stella Miranda
“O país que não produz ciência não produzirá tecnologia, e terá sua soberania e autonomia constantemente ameaçadas”, advertiu a reitora da PUC-SP, Maria Amália Pie Abib Andery, referindo à falta de perspectivas para o financiamento das universidades brasileiras em futuro próximo. Caracterizadas como espaço naturalmente voltado “à muvuca, à confusão, ao barulho”, as universidades – segundo disse – são espaços de convivência plural que não têm recebido atenção adequada da parte dos governantes.
As afirmações de Maria Amália foram feitas durante o seminário remoto “A universidade do futuro”, realizado no canal da Folha de S. Paulo no YouTube, nesta segunda (4). Ela participou do evento ao lado do epidemiologista Pedro Hallal, professor da Universidade Federal de Pelotas; Giorgio Schutte, professor associado da Universidade Federal do ABC; e da professora e pesquisadora Ângela Rocha, da Universidade Federal da Bahia.
Em sua participação, Maria Amália pontuou que “a universidade brasileira produz a imensa parte do conhecimento desenvolvido no país”, sem receber a devida contrapartida, seja por conta do governo ou do próprio setor produtivo, um dos beneficiados pelo conhecimento ali produzido.
“Toda universidade, seja pública ou privada, enfrenta problemas sistemáticos e históricos de financiamento”, queixou-se a reitora da PUC-SP, para quem – ao contrário do que já afirmou o atual ministro da Educação – o país precisa de mais universidades e de maior inclusão de seus jovens no ensino superior. O problema se estende, segundo ela, a instituições que financiam pesquisas, como o CNPq, que sistematicamente vem perdendo financiamento.
Uma das consequências geradas pela falta de financiamento das universidades brasileiras se refletiria na condição em que se encontra a Universidade de São Paulo (USP) – a melhor pontuada do país nos rankings internacionais – que se encontra apenas entre as 300 melhores do mundo. “Deveria estar, pelo menos, entre as 50 ou 100 melhores”, disse Hallal, para quem a condição internacional da USP não refletiria as potencialidades do país.
Segundo Maria Amália, a universidade é por natureza uma força disruptiva. “É um espaço natural de muvuca, de barulho, de confusão”, festejou ao reforçar que os cursos superiores precisam ser o mais diversificados possível, o que acaba por incomodar as forças conservadoras. Um exemplo de reações desta natureza seria o próprio governo do presidente Bolsonaro, o qual qualificou como “retrógrado, elitista e muito pouco solidário”.
O professor Pedro Hallal – falando a partir da Califórnia, onde faz pós-doutorado – disse que, durante a pandemia, as universidades brasileiras responderam com a urgência necessária às demandas da sociedade. “Estávamos presentes”, disse o docente, que ao lado de outros pesquisadores ganharam grande espaço nos meios de comunicação, explicando o funcionamento do vírus, pesquisando, participando de testes e indicando as medidas protetivas que deveriam ser adotadas.
“No pós-pandemia, temos que seguir fazendo esse contato com a população, falando direto sobre produção e divulgação do conhecimento”, disse o docente. Segundo ele, o financiamento precário da universidade brasileira dificulta o planejamento, pois os recursos são incertos e inexistem políticas que facilitem as parcerias público-privadas.
Em sua participação, o professor Giorgio Schutte, da Federal do ABC, disse que a sociedade precisa pressionar instituições como o Congresso Nacional para que se imponha ao governo efetivas políticas de planejamento e ampliação de vagas no ensino superior.
“As universidades não podem só abrir as portas e não garantir que alunos de classes menos favorecidas consigam permanecer na universidade”, disse o docente referindo-se a programas de inclusão, como o Prouni, que abriu vagas mas não assegurou a permanência dos alunos nos bancos escolares. De acordo com ele, empresas multinacionais se instalam no país, mas continuam aplicando em suas matrizes – no exterior – os investimentos em pesquisa, sem nenhuma contrapartida na pesquisa local. Para ele, novos marcos legais precisam ser desenvolvidos neste sentido.
Segundo os docentes, a universidade brasileira precisa manter os programas de cotas, procurando assegurar a maior diversidade possível em suas salas de aula. “Nossa desigualdade social impede o ingresso na universidade”, disse Ângela Rocha, da Federal da Bahia. A docente afirmou, ainda, que um curso superior não precisa, necessariamente, ter relação direta apenas com a carreira profissional do interessado. “A universidade é um ambiente que impregna pela vida toda, que muda a pessoa apenas por estar lá”, observou.
Aqui, acesso ao debate Universidade do Futuro.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Fernanda Almeida
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