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O ato que contou com líderes sindicais e políticos teve um público estimado de 5 mil pessoas
Por Luiz Oliveira
Ocorreu hoje (07), com o apoio de grupos religiosos e movimentos sociais de Campinas e região, o 27º Grito dos Excluídos e Excluídas. O ato que contou com a participação de líderes políticos e sindicais aconteceu no Largo do Pará, e teve, segundo organizadores, um público estimado de 5 mil pessoas. Com discursos e apresentações musicais ao longo da Avenida Francisco Glicério, a manifestação foi pacífica, e teve início as 9h da manhã. Homenagens as vítimas da pandemia e ao ex-prefeito eleito de Campinas, Antônio da Costa Santos, o Toninho, foram realizadas no ato, que este ano uniu forças com a Campanha Fora Bolsonaro.
“O ato de hoje é importante para reafirmar que o povo brasileiro quer uma mudança”, diz Cristiane Alves, 49, empresária e moradora do Conjunto Habitacional Padre Anchieta em Campinas. Para ela, a situação que estamos vivendo no país é inaceitável: “o povo está morrendo de fome, sem conseguir comprar combustível ou um pacote de arroz.” Cristiane diz que manifestações como o Grito dos Excluídos podem afetar não apenas as escolhas e decisões do governo, mas também de apoiadores, sendo importantes para a manutenção da democracia.
Para Lucia Oliveira, 55, moradora de Sumaré, o Grito dos Excluídos é uma expressão de sua fé, além de luta contra injustiças e desigualdades. “Esse ato mostra uma parte da igreja que se importa, aquela igreja que vai a rua e batalha por melhores condições de vida”, diz Lucia. Católica e membro da Pastoral da Juventude, ela veio com os amigos para a manifestação no Largo do Pará, e acredita que o ato pode impactar positivamente no cenário político que enfrentamos.
Maria Celeste Piva, 61, conta que participa anualmente do Grito dos Excluídos desde seu início. Para a assistente social aposentada, “as manifestações servem para levam aos políticos nossas reivindicações e nossos problemas, fortalecer a luta popular e dar voz ao excluído.” Para ela, os atos populares têm o poder de influenciar os líderes políticos, incentivando a realização de melhorias nas políticas públicas.
A manifestação e o cenário político
Carlos Fábio, 45, conhecido como “Índio”, atua na CUT há 8 anos, sendo atualmente secretário de cultura da CUT-SP. Segundo ele, o ato que ocorreu no Largo do Pará não foi realizado visando confronto com apoiadores do governo, que se manifestaram no mesmo dia. O Grito dos Excluídos e Excluídas já acontece há 27 anos, sempre no Dia da Independência do Brasil, sendo anterior a posse do presidente Jair Bolsonaro.
Carlos também foi um dos articuladores da união entre a Campanha Fora Bolsonaro e o Grito dos Excluídos deste ano. A decisão coletiva tinha como finalidade somar forças para a manifestação, frente as ameaças antidemocráticas por parte do governo. “Em defesa da vida, da democracia, e dos trabalhadores, a Campanha Fora Bolsonaro se dispôs a ajudar no que fosse necessário para a organização do Grito”, diz Fábio.
O Grito dos Excluídos e Excluídas
Lourdes Simões, 62, fez parte da articulação inicial do Grito dos Excluídos em Campinas, há 26 anos. Militante da Marcha Nacional de Mulheres, ela diz que o Grito é uma manifestação popular, sendo um espaço plural e aberto para entidades, grupos, igrejas e movimentos sociais. “O Grito visa denunciar o modelo político-econômico, tornar público nas praças e nas ruas o rosto desfigurado dos excluídos e propor caminhos alternativos a este modelo econômico”, diz Lourdes.
Este ano, o ato teve como tema ‘Vida em Primeiro Lugar’ e lema ‘Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já!’. Lourdes diz que a defesa da vida é um tema recorrente, mas que este ano tem especial importância. Segundo ela, esse Grito dos Excluídos é particular, pelo momento político nacional que vivemos. “A democracia e a soberania brasileira estão sob ataque. Mais de 580 mil pessoas morreram vítimas de Covid, e o número de sequelados passa dos 20%. Isso é um atentado à democracia e aos direitos constitucionais”.
Ela conta que o Grito dos Excluídos nasce da tradicional Romaria dos Trabalhadores a Basílica de Aparecida/SP, no final da década de 80. “A romaria que ocorria anualmente no 07 de setembro buscava debater a soberania e a religiosidade popular”, relata Lourdes. “Depois, com a Semana Social Brasileira debatendo o tema da exclusão e da fome, em conjunto com a Campanha da Fraternidade, houve a oficialização do Grito dos Excluídos”, diz ela.
A Igreja e as manifestações
Formado em Filosofia pela PUC-Campinas, e doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), Márcio Tangerino, 61, diz que em um país democrático, se supõe que haja liberdade para a realização das manifestações, desde que estas defendam a constituição. Segundo ele, é de suma importância que a população se organize e se manifeste, devendo os setores organizados da sociedade civil se unir para tentar barrar ideias antidemocráticas. Dessa forma, os grupos religiosos realizam um importante papel na defesa da democracia, sendo necessária a união de igrejas cristãs, orientais, de matriz africana, e de outras confissões.
Quanto à atuação da Igreja Católica no Grito dos Excluídos, Márcio diz que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) vem se mostrando, desde o fim da década de 60, como uma entidade que apoia a democracia. Segundo ele, “a igreja não é uma especialista em política, mas é uma especialista em humanidade”, e desta forma, defende os direitos do cidadão. “Podemos ver nos documentos de João Paulo II, Paulo VI, e Bento XVI a tradição da igreja em defender a participação democrática”, diz o professor. “O Papa Pio XII chegou a dizer que a forma mais alta da caridade cristã é a participação política”, conta ele.
Desde 1891, com o Papa Leão XIII, a igreja tem uma posição clara quanto ao avanço do liberalismo econômico, defendendo a causa operária e agindo em defesa dos direitos trabalhistas. “Desde então, nós temos uma infinidade de documentos da Doutrina Social da Igreja que enfatizam os direitos dos trabalhadores frente ao avanço do capitalismo”, diz Tangerino. “Numa sociedade dividida, a Igreja se posiciona ao lado daqueles que são excluídos: da mulher marginalizada, do índio, do pequeno camponês, do operário, da criança órfã, do sem-terra e do sem-teto”, completa.
Aqui, acesse o álbum com mais fotos do 27º Grito dos Excluídos
Orientação: Profº Gilberto Roldão
Edição: Luiz Oliveira
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