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Pesquisadores avisam que vírus, bactérias e fungos se beneficiam com degradação do planeta
Por Fernanda Alves
Três dos principais especialistas brasileiros no combate a enfermidades provocadas por vírus, bactérias e fungos alertaram, em evento remoto promovido pela Fapesp, que a degradação ambiental e o aumento da temperatura do planeta vão dificultar o combate a microrganismos que provocam tuberculose, febre amarela ou Covid, entre inúmeras outras enfermidades que podem levar à morte dos infectados. “Vivemos uma crise silenciosa”, descreveu o médico Arnaldo Colombo, um dos participantes do evento. Ele é especialista em fungos, pesquisador do CNPq e titular da disciplina de Infectologia, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Nós já estamos atrasados em relação ao aquecimento do planeta”, avisou o pesquisador Colombo, que vê na degradação do meio ambiente – provocada pelo modelo de desenvolvimento não sustentável – um dos maiores riscos ao surgimento de novas endemias e pandemias em futuro não muito distante. “Precisamos criar um centro global de saúde”, propôs, bem como rever toda a legislação que regula o uso de fungicidas no planeta, sugeriu.
Especialista no controle de bactérias, a bioquímica Andrea Dessen, também conferencista no evento, disse que o uso inadequado e indiscriminado de antibióticos tem provocado o surgimento de micro-organismos cada vez mais resistentes. E a indústria farmacêutica, por sua vez, tem reduzido investimentos para desenvolver novos medicamentos para esta finalidade, preferindo investir em drogas para uso contínuo – como produtos para o câncer. “São mais rentáveis”, ao que afirmou a pesquisadora do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), da França, e docente na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“A grande maioria das companhias farmacêuticas saiu desses antigos negócios e não está mais investindo em pesquisas para novos antibióticos. O processo não é rentável, pois o custo de desenvolvimento de um novo antibiótico pode chegar a US$1,5 bilhão, não trazendo o retorno almejado, pois são medicamentos para uso de curta duração”, disse Andrea.
De acordo em ela, em função dessa estratégia da indústria farmacêutica, a comunidade científica já vem pensando em propor a criação de um chamado “modelo Netflix” para aquisição de medicamentos. “No momento, os governos do mundo inteiro pagam as indústrias farmacêuticas por dose, ou por caixinha de antibiótico, e no modelo Netflix pagarão para ter acesso aos novos antibióticos do futuro, que serão sintetizados e descobertos. Então, paga-se agora para ter acesso no futuro. É uma ideia que está sendo discutida”, explicou a pesquisadora.
Andrea Dessen também chamou a atenção para a necessidade de preservação da biodiversidade, fonte natural para a descoberta de novos medicamentos. “Mas existem problemas na proteção desses biomas, que são fantásticos. Um artigo que retirei da revista Fapesp, por exemplo, mostra que não só destruímos os biomas, mas favorecemos o aparecimento de novos vírus e de novas bactérias resistentes quando os destruímos”, ressaltou.
Focada no controle de vírus e nacionalmente conhecida por sua atuação quando no surgimento da Covid-19 no Brasil, a médica e professora Ester Sabino, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitarias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a terceira participante do seminário da Fapesp, disse ser “preciso melhorar nossa capacidade de monitorar novos vírus”.
Segundo ponderou Sabino, o trabalho de monitoramento de agentes etiológicos das principais síndromes infecciosas deveria ocorrer “de forma rotineira”, e não apenas pontualmente, quando do surgimento de endemias ou surtos. “Precisamos também melhorar a atenção primária à saúde e desenvolver testes mais baratos”, afirmou a médica.
“É super importante ter equipes treinadas, integradas e colaborativas, no SUS, nas universidades… É preciso que o poder público entenda o que se está falando para conseguir definir melhor as políticas públicas. Isso precisa ser feito antes que as novas epidemias aconteçam, para a gente conseguir fazer algo em tempo de melhorar nossa resposta a esses problemas”, ressaltou Sabino.
Aqui, acesso ao seminário promovido pela Fapesp
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti.
Edição: Fernanda Almeida
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