Destaque
O uso de tecidos humanos artificiais é um dos 20 métodos para substituir cobaias
Por Livia Lisboa e Washington Teodoro
O curta-metragem intitulado “Salve o Ralph” reacendeu o debate em torno do uso de animais para testes de produtos de beleza. Após seu lançamento, em 16 de abril, as buscas no Google pelo termo “empresas que fazem testes em animais” alcançaram o seu maior número desde 2016. Giulia de Andrade Marinho, professora de Neurobiologia no Instituto Brasileiro de Formação de Educadores, também questiona o uso de cobaias para o desenvolvimento de novas fórmulas de dermocosméticos.
Marinho conta que para testes in vitro já existem diversas alternativas que substituem com eficiência o uso de animais, e há pelo menos 20 registrados e aplicados atualmente.
Segundo a professora, a regulamentação brasileira, desde setembro de 2019, se tornou mais rígida. “As indústrias que ainda os usam [cobaias], precisam minimizar qualquer tipo de sofrimento e passam por fiscalização constante do Conselho Nacional de Controle e Experimentação Animal”, conta.
A professora apostou em uma das alternativas: a produção de tecidos humanos de forma artificial, que é capaz de produzir pele, olhos, gengiva e outros. Essa técnica utiliza células de pele de cirurgias plásticas que são doadas para o cultivo em laboratório.
Marinho explica que “esse tecido pode ser tridimensional e é mais seguro que o teste em animais, pois é ainda mais semelhante ao tecido dos usuários finais – seres humanos”. A técnica, por reduzir o custo da manutenção dos animais usados para teste, é ainda mais barata para a indústria.
Campanha “Salve o Ralph”
Produzido pelo Humane Society International com a intenção de conscientizar a população e proibir o uso de animais para testes, o curta já conta com mais de 5 milhões de visualizações no Youtube. O enredo acompanha a história do coelho Ralph, que é utilizado para testes de produtos de beleza e sofre diversos maus tratos durante o vídeo.
O curta-metragem foi dirigido pelo cineasta Spencer Susser, e estreou no Brasil em abril de 2021. Para Orestes Toledo, historiador e curador do Museu de Imagem e Som de Campinas, a qualidade técnica da produção e a temática são os aspectos que mais o chamaram atenção no filme. Além disso, para Orestes a humanização do personagem merece destaque. “A narrativa dá um aspecto humano ao coelho, provocando uma identificação com o espectador”, conta.
Essa identificação, de acordo com Orestes, faz com que a narrativa seja eficiente e conscientize quem não sabe como os testes em animais são feitos. “O que mais me impactou foi quando o coelho começou a ser testado”, relata o historiador.
Para Marinho, a campanha é totalmente necessária para a conscientização da população. A professora também ressalta a importância e o direito de saber quais são os processos adotados por empresas que consumimos produtos. “Vejo que a falta de informação é o que leva, muitas vezes, ao consumo desenfreado de cosméticos e a campanha trouxe à tona esse assunto”, ressalta Marinho.
O mesmo é observado por Maura Padula, doutora em Ciências da Comunicação e professora da PUC-Campinas, que ressalta que “a campanha veio para reforçar a tendência das práticas de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) para grandes empresas”. Para a Padula, cada vez mais é necessário que as corporações passem a se preocupar com questões ambientais, assim como a adoção do movimento Cruelty Free.
Baixa expectativa de vida
De acordo com Marinho, que também é mestre em Biologia Funcional e Molecular, os testes normalmente são feitos em cães e roedores, já que são animais que possuem alta compatibilidade genética com humanos e ciclo reprodutivo rápido. Além disso, a professora relata que “os animais têm sua expectativa de vida reduzida e ao apresentarem qualquer alteração de saúde são abatidos por não servirem mais para os testes”.
Marinho também destaca que testes oftalmológicos e dermatológicos são realizados constantemente, assim como os mostrados no curta-metragem “Salve Ralph”. “As cobaias são mantidas em espaços minúsculos, pois a movimentação intensa pode interferir nos resultados”, explica.
Publicidade negativa
Após o lançamento do curta-metragem em 16 de abril, apresentou-se também um aumento repentino nas buscas por nomes de empresas que ainda utilizam animais para testes. Segundo a Padula, “após a divulgação do nome das empresas, espera-se que aconteça uma queda de vendas, e é claro, de reputação dessas marcas”.
Padula ainda avalia que é preciso que as instituições revejam os seus processos de produção, e busquem avaliar como estão afetando negativamente o planeta. “A empresas precisam ser parceiras do meio ambiente e, além disso, assumirem o papel de conscientização”, pontua a doutora.
Para a criação de novas fórmulas de dermocosmético ou produtos de maquiagem, o uso de cobaias pode ser questionado. Para Marinho, “não vemos grandes avanços científicos que justifiquem o uso de outra vida em detrimento do avanço”.
Aqui, trecho do curta “Salve o Ralph”
https://www.youtube.com/watch?v=AjdMtLF0Z6w
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Patrícia Neves
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