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Educação Municipal de Campinas marcou a menor taxa em três anos durante a pandemia
Por Stela Ribeiro Pires
A Secretaria Municipal de Educação de Campinas registrou uma queda de 43% na taxa de evasão escolar nas escolas municipais durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Foram 111 casos em 2019 e 64 no ano passado, quando marcou a menor taxa de evadidos desde 2018. Mesmo com a queda, segundo o Secretário de Educação de Campinas, José Tadeu, os dados devem ser analisados com ressalvas.
Para ele os dados são inconclusivos. A taxa de evasão escolar é calculada através da presença do aluno na escola e, como não houve aulas presenciais, a leitura dos números deve ser feita com cautela. “O fato de você ter atividades remotas, ou seja, atividades em casa, diminui a chance de você saber exatamente com segurança se a criança frequentaria ou não a escola se as aulas fossem presenciais”.
Com as mudanças ocasionadas pela pandemia da Covid-19 e o fechamento das escolas, a maneira tradicional de medir a taxa também sofreu mudanças. O critério, agora, é o aluno estar matriculado e se manteve alguma relação virtual com a escola durante o período. Segundo José Tadeu, o número indica que o ensino remoto pode ter sido favorável à diminuição da evasão.
“Com essas ressalvas, é algo positivo, mas ainda a ser confirmado com mais clareza e com mais segurança quando as aulas presenciais voltarem a acontecer”, esclarece o secretário.
Para a professora e pesquisadora do GPPES (Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas, Educação e Sociedade) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Dirce Djanira Pacheco e Zan, os dados precisam ser analisados com muita cautela e podem não representar a realidade da educação em Campinas, assim como no País.
A pesquisadora aponta que a realidade vai ao contrário dos dados apresentados e que provavelmente, quando as escolas reabrirem, o número de evasão será maior, ainda mais nas escolas de periferia. Em análise socioeconômica, as famílias empobreceram no contexto da pandemia e muitas crianças podem estar em condição de miserabilidade, afetando diretamente os dados concretos sobre a evasão. “Muitos deles podem estar nos semáforos agora, pedindo e trabalhando, ou foram para trabalhos precários”, analisa.
Dirce Zan reforça que levantamentos estatísticos para ajudar a compreender o que o país está vivendo são importantes para que seja pensado nas políticas públicas, em especial a política educacional. “Não é essa a intenção de boa parte dos nossos governantes, já visto que está sendo anunciado com relação a não realização do censo e o desmonte de pesquisas quantitativas”, lamenta.
EM AULA
Para os professores da rede municipal, há dificuldade na percepção da evasão, já que a educação de Campinas decidiu aplicar atividades mitigadoras, que servem para diminuir os impactos do ensino remoto, e não obrigatórias.
Segundo a professora do ensino fundamental II, Cecília Rodrigues, de 27 anos, as atividades eram entregues impressas aos alunos, mas não havia retorno das famílias enquanto a realização. Cecília conta que “conseguia falar com a família, saber mais ou menos, mas muitas vezes o feedback era de que estavam fazendo – as atividades -, mas ver a atividade em si, a gente não via”.
A escola em que Cecília trabalha constatou que o contato com os alunos não era eficiente através da plataforma utilizada pela educação municipal, então decidiram utilizar outros meios para isso. Para ela, o contato com os familiares ou com as crianças não pode ser levado em consideração no cálculo da evasão, já que a visualização de mensagens ou respostas não significam que o aluno esteja de fato realizando as tarefas e aprendendo.
Na educação infantil, segundo a professora da educação básica I, Julia Evangelista, de 25 anos, os alunos estão matriculados, mas não frequentam as aulas ou realizam as atividades. “Sem a gente ter nenhum tipo de contato, eles seguem matriculados”, explica.
Educação básica enfrenta falta de apoio do município
Em maio de 2020, a Secretaria de Educação de Campinas distribuiu chips de internet aos 21,4 mil alunos do Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) e Educação de Jovens e Adultos (EJA), deixando de fora os estudantes da educação básica.
A professora Julia Evangelista, da educação básica I, de 25 anos, dá aula à alunos de bairros periféricos e enfrenta dificuldade de contato com estes estudantes. “Existem famílias que não têm acesso à internet, tudo isso dificulta o nosso trabalho”.
Julia ainda expõe que a dificuldade de contato está além do acesso à internet, mas também na falta de apoio que as crianças estão sofrendo. Sem ter contato direto com o professor, esses alunos dependem dos pais para realização das atividades, que, muitas das vezes, não conseguem disponibilizar tempo para isso.
“O meu trabalho depende do intermédio da família. Eu atendo um público que são crianças que vivem em situação de pobreza, e as famílias têm outras demandas que não a escola”, relata.
Segundo Dirce Djanira Pacheco e Zan, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, a falta de acesso às atividades educativas têm um impacto imensurável, ao mesmo tempo em que a educação remota para a faixa etária é o que os profissionais não desejam às crianças.
“O que a gente está tendo são crianças isoladas com suas famílias, com muitos adultos, com ausência de outras crianças, então é um impacto não só para a aprendizagem, mas para o processo de socialização dessas crianças”.
Orientação: Prof. Marcel Cheida
Edição: Oscar Nucci
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