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Segundo o professor Valdir Iusif Dainez, nem todos perderam com a pandemia
Por: Alessandra de Souza
A crise econômica provocada pela política recessiva do governo Bolsonaro, associada à necessidade das medidas de distanciamento social que afetou comércio e indústria, só tende a se agravar nos próximos meses. “O empobrecimento irá continuar, a menos que haja uma inflexão das medidas econômicas”, avalia o professor Valdir Iusif Dainez, da Faculdade de Ciências Econômicas da PUC-Campinas, para quem o abrandamento das políticas recessivas não deverá ocorrer sob o comando do ministro Paulo Guedes.
“A pandemia aumentou a renda de quem já tinha renda alta, piorando a desigualdade social. No entanto, nem todos perderam, muitas pessoas ganharam com a pandemia, especialmente os bancos. O setor financeiro está surfando na onda do endividamento público, que garante um ganho real e seguro”, explicou o professor Dainez.
De acordo com o economista, o governo federal não tomou medidas para proteger a parcela mais desfavorecida da sociedade. Políticas de proteção social teriam surtido efeito positivo não apenas para os mais pobres, mas também para o setor produtivo.
“O ideal teria sido oferecer um auxílio emergencial maior. Com uma renda maior, as pessoas comprariam mais e a indústria produziria mais, então haveria uma arrecadação maior de impostos”, observa o docente. Segundo ele, a melhor política que existe é a geração de empregos. “Os programas de auxílio são sempre bem-vindos, mas o ideal é oferecer condições para as pessoas terem um bom emprego”.
De acordo com o economista, nos últimos seis anos, o brasileiro viu seu salário perder poder de compra, enquanto os que haviam conquistado um padrão de consumo mais elevado viram esse padrão cair. Hoje, um em cada três brasileiros está sem renda, informa o docente, lembrando que com o arrefecimento da crise econômica – em função da pandemia – a classe média já se igualou em termos porcentuais ao contingente da parcela mais empobrecida, de 47% da sociedade.
A crise econômica que se acentuou nos últimos anos teria tido início já no ano de 2015, o que ficou grave com o fechamento do comércio e dos setores industriais. “Muitas pessoas perderam o emprego, além de ter havido queda de renda das pessoas que estavam empregadas”, declarou.
O economista explica que a queda da renda dos brasileiros acabou não sendo compensada pelas políticas públicas. “O governo deveria ter aberto canais para ajudar as empresas, em especial as pequenas e médias, que foram as que mais sentiram a crise. Ao mesmo tempo, o investimento público caiu, além de terem ampliado a política recessiva, o que já vinha desde o segundo governo Dilma”, disse.
Conforme relata o professor, nos últimos seis anos, o Brasil sofreu com os cortes de gastos do governo, que visam reduzir o déficit público. “O governo arrecada direta ou indiretamente da produção e da renda. No entanto, se cai a renda, a arrecadação de impostos diminui. Essa política de cortar gastos só piora o déficit, fazendo a alegria do setor financeiro, aumentando o desemprego”, observou o economista Dainez.
Outro fator que também ajudaria a explicar o encolhimento da classe média, segundo o professor, foi o processo de desindustrialização do Brasil e o desaparecimento de bons empregos. “Devido a essa desvalorização da taxa de câmbio, do segundo governo FHC até o governo Dilma, com o barateamento dos produtos importados, a substituição de matéria prima nacional pela importada e a quebra das cadeias produtivas, muitas empresas fecharam as portas e as pessoas perderam empregos de qualidade”.
De acordo com o economista, o empobrecimento da população brasileira tende a diminuir o consumo e, consequentemente, a produção, afetando diretamente o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, o país não está longe de um processo de convulsão social, já que parte da população é segregada, o que pode aumentar o tráfico e o roubo, somando-se a esta equação a falta de acesso à educação e à cultura.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Oscar Nucci
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