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Cirineu, da Canal Mais FM, diz que diariamente recebem pedidos para divulgar campanhas solidárias
Por: Beatriz Mota Furtado
No pior momento da pandemia do novo coronavírus – quando o número de vítimas se aproxima de uma média diária de 4 mil mortos e o comércio se encontra praticamente paralisado, ceifando empregos e sufocando renda – as rádios comunitárias buscam mobilizar suas audiências para arrecadar e distribuir alimentos às comunidades mais afetadas. Em apenas três meses, por exemplo, a emissora Noroeste FM, da Vila Boa Vista, chegou a arrecadar mais de 15 toneladas de alimentos, que foram distribuídos para mais de 200 famílias daquela região de Campinas.
Locutor e coordenador da emissora, Jerry de Oliveira, 52, disse que a ação encampada pela Noroeste ocorreu em conjunto com movimentos sociais e entidades sindicais. “Chegamos também a pedir ajuda da prefeitura para continuar com as arrecadações, mas não tivemos resposta. E muitas pessoas tiveram que voltar ao trabalho e acabaram contraindo o vírus”, afirmou.
Além da Noroeste FM, outras rádios comunitárias das mais diversas regiões do estado de São Paulo se mobilizam para tentar mitigar o problema da fome. É o caso da emissora Canal Mais FM, localizada na periferia de Bauru, onde atua o locutor Cirineu Fedriz. A rádio fez arrecadações de alimentos e promoveu campanhas, como a da “Sopa Solidária”, que só no inverno do ano passado distribuiu mais de 1.500 pratos para moradores em situação de rua e residentes em favelas.
Na Região Metropolitana de Campinas, a rádio Comunicativa FM, comunitária de Hortolândia, arrecadou alimentos, agasalhos, cadeiras de rodas e atualmente está promovendo campanhas para arrecadação de cestas básicas. As emissoras têm promovido lives solidárias via Youtube e Facebook, além de usarem os próprios microfones para conclamar a participação dos moradores das comunidades onde atuam.
O maior problema enfrentado pelas rádios comunitárias, segundo dizem seus coordenadores, é a falta de recursos financeiros e apoio governamental. “Com essa situação de pandemia, a rádio só consegue sobreviver através dos recursos dos próprios diretores, que custeiam o funcionamento do próprio bolso, por amor ao que fazem”, contou Marcos Antônio da Silva, 45. Ele é um dos fundadores da rádio Comunicativa FM e integrante da ABRACO, Associação Brasileira de Rádios Comunitárias.
Para o locutor Jerry, o alastramento do vírus em Campinas e a falta de recursos para a população é consequência da falta de políticas públicas no país direcionada à proteção dos mais carentes. Citando dados da Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto e do Ministério da Saúde, ele disse que o governo Bolsonaro já gastou desnecessariamente R$ 32,2 milhões com a divulgação da campanha de vacinação em emissoras de televisão aberta.
“Seria necessário que esse dinheiro fosse investido em alimentos para as famílias, não em propaganda. Isso as emissoras já fazem por conta própria. Nós, das rádios comunitárias ou não, também temos feito isso”, criticou Jerry.
Segundo disseram os responsáveis pelas emissoras, os problemas de financiamento da atividade das rádios comunitárias agravaram sensivelmente. “Isso acontece porque uma rádio comunitária sobrevive praticamente de apoios culturais. Com a pandemia e a decorrente crise e fechamento dos comércios, os comerciantes deixaram de contribuir, o que acabou deixando a rádio numa situação de crise financeira jamais vista em todo nosso tempo de operação”, ponderou o locutor Marcos Antônio da Silva, da Comunicativa FM, emissora que está no ar desde 2008.
Para os operadores das emissoras comunitárias, a pandemia também trouxe, por outro lado, um forte sentimento de solidariedade nas comunidades. “Esse ano, diariamente, estamos recebendo pedidos de divulgação de campanhas independentes de arrecadação de alimentos, promovidas por entidades e grupos solidários. Então, estamos auxiliando na parte de divulgação e conscientização”, relatou Cirineu Fedriz, locutor da comunitária Canal Mais.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Oscar Nucci
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