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Pesquisadora Eliane Navarro Rosandiski avalia que a recontratação acontecerá após a pandemia

Eliane Navarro é professora extensionista no Observatório PUC-Campinas, na área de trabalho e renda (Foto: Acervo pessoal)
Por: Vinícius Zaia Ferreira
A pandemia do coronavírus não poupou os trabalhadores no Brasil. Formais e informais, muitos perderam o emprego e o trabalho desde que a crise se instalou pelo país. Levantamento feito pela Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC) mostrou que 278.256 pessoas ficaram sem trabalho formal na Região Metropolitana de Campinas (RMC), no primeiro semestre de 2020. Este número corresponde a quase 58 mil desempregados a mais em comparação ao primeiro semestre de 2019.
Para a economista e professora Eliane Navarro Rosandiski, do Centro de Economia e Administração (CEA) da PUC-Campinas, o jovem é mais propenso à demissão no mercado de trabalho, porque ele é uma mão de obra menos experiente e fácil de ser recolocado no futuro. Ela acredita, no entanto, que após a pandemia as empresas vão recontratar profissionais mais jovens para compor seus quadros de funcionários. Confira no Digitais a entrevista da professora extensionista do Observatório da PUC-Campinas, que é doutora em Economia Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Digitais: Por que o mercado de trabalho procura mais jovens na faixa etária de 18 a 24 anos?
Eliane Navarro Rosandiski: Porque essa é uma mão de obra barata, mais qualificada, com ensino médio completo ou até mesmo uma graduação. Além disso, os jovens têm uma energia maior para o trabalho, estão pré-dispostos para adquirir novos conhecimentos e por isso o processo seletivo tem beneficiado este perfil.
Qual é o perfil de trabalhador mais afetado durante a pandemia?
Aqueles que têm maior faixa etária e com uma escolaridade abaixo do ensino médio. No movimento de recontratação, os contemplados foram os jovens. Como o desemprego afetava muito os jovens, o governo federal fez uma Medida Provisória que garantiu um custo menor para as empresas e, portanto, estimulou a contratação de pessoas desse grupo. Com isso a inserção do jovem no mercado de trabalho está cada vez mais forte.
Quando esta MP foi lançada em novembro passado, havia o risco de ocorrer uma precarização do trabalho, já que ela permite um salário menor, trabalho aos domingos e feriados. Isso ocorreu?
Este ponto é muito importante. Logo após a aprovação da MP, começou a pandemia da covid-19. Talvez essa contratação de jovens que estamos vendo hoje seja reflexo disso. O Paulo Guedes (ministro da Economia) quer instituir a Carteira Verde e Amarela, que representa uma série de vantagens para o empregador. Pagar menos Fundo de Garantia e ter uma menor contribuição de direitos trabalhistas são algumas das vantagens. Este tipo de situação coloca o jovem numa situação mais precária. A ideia de retirar as proteções trabalhistas é muito grave, porque o empregado não decide quando será demitido. Sabendo que vivemos numa economia capitalista, precisamos de uma renda para financiar o desemprego, até ser empregado novamente. Também foram aumentadas as condicionalidades para o acesso ao Seguro Desemprego.

A docente Eliane Navarro analisa dados fornecidos pelo IBGH; jovens foram os mais afetados pelo desemprego, este ano (Foto: Acervo pessoal)
Essa medida representa mais vantagens ou desvantagens ao trabalhador?
Todas essas situações colocam a pessoa numa posição de insegurança, onde ela se dispõe a trabalhar por qualquer valor, favorecendo uma rotatividade com rebaixamento de salários. As empresas não são “malvadas”, mas encontram nessas brechas um entendimento de que a mão de obra é um custo.
Como a recessão atual afeta os jovens?
A recessão afeta os jovens por eles serem mais sujeitos à rotatividade. Um grupo de trabalhadores, tanto aqueles que foram demitidos quanto aqueles informais, receberam o Auxílio Emergencial. Outro grupo, o dos trabalhadores mais qualificados e em cargos superiores, também foram preservados. Para demitir essas pessoas mais qualificadas e com mais tempo na mesma empresa é muito caro. O jovem é mais propenso a ser demitido, porque é uma mão de obra menos experiente e fácil de ser recontratada no futuro.
Você acredita que após a pandemia os jovens terão mais oportunidades de trabalho?
Sim, e isso já está acontecendo. As empresas estão se desfazendo de trabalhadores mais velhos e menos qualificados. A recomposição está sendo feita com jovens, mais capazes de aprenderem coisas novas, potencial de inovação e disposição física e mental para novos trabalhos. Além disso, no ponto de vista de custo, é uma mão de obra mais barata.
Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Thiago Vieira
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