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Pouca representatividade afeta tratamento de negros

Assistente social Aparecida Miranda diz que paciente não se vê nos médicos brancos

 

Aparecida Miranda sobre o racismo institucional: “Os profissionais de saúde estão despreparados para trabalhar com políticas de saúde focalizadas” (Foto: vídeoconferência)

 

Por: Sofia Pontes

A falta de profissionais negros na área da saúde é consequência direta do racismo institucional. Isso poderia ser evitado se houvessem estratégias do governo para que mais negros tenham acesso a essas posições. Essa é a opinião da assistente social Aparecida do Carmo Miranda, que participou do 4º Encontro do Webinar Diálogos sobre o Racismo, organizado pela PUC-Campinas. “O paciente é recebido pelo porteiro, que pode ser negro ou não, pela secretária, que pode ser negra ou não, mas, quando vai passar pelo profissional, há grande possibilidade de este não ser negro.”

O debate, intitulado “Quando a cor da sua pele define seu atendimento à saúde”, ocorreu na noite desta quinta-feira (5) e procurou analisar as formas com que o racismo se faz notar no sistema de saúde público e privado no Brasil, dando foco ao período de pandemia.

 

 

O racismo institucional ocorre quando há tratamento desigual que se baseia na cor da pele do indivíduo, podendo se manifestar em instituições como empresas, universidades e órgãos de saúde. Isso tem origem no período escravocrata, como a submissão da etnia negra, considerada inferior, à branca. “O racismo institucional vem do racismo estrutural enraizado na nossa sociedade”, disse Aparecida Miranda, que é doutora em saúde coletiva pela Unicamp.

Ainda segundo ela, a pouca presença de negros entre os funcionários da saúde acaba afetando o próprio paciente, que não consegue se identificar com o profissional que o atende e, dessa forma, não consegue expressar devidamente aquilo de que necessita. “O profissional [branco] precisa ser capaz de olhar além do indivíduo sentado na cadeira, precisa olhar para a questão social que o acompanha, as entrelinhas.” O atendimento atropelado e a indicação de medicações sem orientação sobre seu uso para o paciente negro e pobre também foram citados pela assistente social do Hospital das Clínicas: “Muitas vezes esse paciente entra e sai com mais uma doença, a de ser ignorado em um espaço de saúde”.

“Não adianta não ser racista, é preciso ser antirracista”, diz doutoranda Giorgia do Nascimento (Foto: Videoconferência)

Como solução, a implementação de mais políticas públicas, e o constante acompanhamento pela sociedade das medidas que estão em andamento, foi enfatizada pela doutoranda em antropologia social na Unicamp Giorgia Carolina do Nascimento. “A gente precisa lutar para manter tudo isso firme e continuar os processos de implementação que já estão em curso.” Engajada na luta antirracismo, Giorgia ressaltou a necessidade de se ter profissionais negros na área da saúde: “Não adianta não ser racista, é preciso ser antirracista, ser um aliado nessa luta”, disse.

Aparecida Miranda ainda salienta que a falta de investimentos na educação de profissionais da área da saúde e a resistência à adoção de mecanismos e estratégias de não discriminação dentro desse espaço é o que perpetua a existência não só do racismo mas também de sexismo, intolerância e LGBTfobia. “Eles estão despreparados para trabalhar com políticas de saúde focalizadas nesses públicos, e isso é e está sendo refletido nesse período de pandemia.”

O próximo webnário Diálogos sobre Racismo, promovido pela PUC-Campinas, será dia 12 de novembro e trará o tema “Povos e comunidades tradicionais de matriz africana: a luta por reconhecimento e respeito”.

 

Orientação: Profa. Juliana Doretto

Edição: Fernanda Almeida


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