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A líder indígena urbana Avani Fulni-ô avalia que a pandemia trouxe visibilidade à causa
Por Letícia Franco
A indigenista Gabriela Rosa Medeiros, especialista em gestão pública, disse ontem que o governo de Jair Bolsonaro faz com que o país retroceda ao início da colonização com as políticas públicas que adotada para os povos indígenas. Ao invés de reconhecer a autodeterminação dos povos, ele adota a filosofia da assimilação, cujo resultado será a destruição da cultura e identidade desta parcela da população brasileira. Ao lado da artesã indígena Avani Fulni-ô, da etnia Fulni-ô, que chorou em sua participação, Gabriela integrou o seminário virtual promovido pelo Sesc-São Paulo dedicado a debater a associação entre Covid e povos indígenas urbanos.
Para a pesquisadora Gabriela, que tem focado estudos em conflitos políticos em terras indígenas, é preciso ficar atento em relação à indiferença governamental com os povos nativos. Gabriela destacou o fato de o governo de Bolsonaro ser o primeiro, desde a Constituição de 1988, a não demarcar mais nenhuma terra indígena. “É uma regressão histórica”, advertiu.
Pesquisadora focada em questões indígenas, Gabriela tem atuado na terra Tenondé Porã, na cidade de São Paulo, onde estuda os Guaranis M’bya, tendo sido assessora técnica do governo local para as políticas indigenistas da metrópole paulistana. No seminário, ela afirmou que o governo federal tem retomado as políticas de assimilação e integração dos povos indígenas adotadas desde a colonização até à Constituição de 1988, quando foi reconhecida a legitimidade da organização social dos indígenas brasileiros. Segundo disse, a autodeterminação amparada constitucionalmente está sendo ameaçada com as atitudes do atual governo, que possui uma agenda anti-indígena, não reconhecendo a diversidade dos povos ao declarar que há somente o “povo brasileiro”.
Em sua participação, a professora e artesã indígena Avani Fulni-ô disse que os indígenas urbanos da cidade de São Paulo eram invisíveis até o enfrentamento da Covid no município, mas que tiveram sua importância reconhecida pelas medidas adotadas na cidade. Mesmo assim, a líder indígena se emocionou ao falar sobre os 16 anos de resistência como indígena urbana, bem como ao abordar a discriminação que sofre como mulher indígena na cidade. “Enfrento o machismo, estereótipos e questionamentos sobre minha opção de viver em uma cidade”, afirmou.
Coordenadora, no município de São Paulo, dos povos Indígenas urbanos da Arpinsudeste, Avani disse que trava uma luta solitária para cobrar das autoridades as promessas que raramente saem do papel. “Não é fácil sair da aldeia e vir para a cidade de São Paulo. É necessário a adoção de políticas públicas de amparo aos indígenas urbanos”, afirmou a líder indígena ao lembrar da importância de políticas públicas para a causa.
Gabriela Rosa disse que não há interesse em promover políticas públicas a esses povos remanescentes dos que ocupavam o território brasileiro muito antes do contato com o colonizador. Ela destacou – o que chamou de fato histórico – a recente criação, na semana passada, de uma coordenadoria para os povos indígenas no município de São Paulo, onde ainda existem comunidades de 18 diferentes etnias.
Apesar de encarar a iniciativa como um fato importante, Gabriela disse que é preciso ocupar a coordenação do novo órgão com representantes de povos indígenas. Ao concordar com a gestora de políticas públicas, Avani ponderou a necessidade da presença das etnias nas decisões. “Não se pode deixar um não indígena falar por nós.”
“A população indígena na cidade é muito maior [numericamente] que no contexto rural e mesmo assim não tem visibilidade”, lamentou Gabriela. Segundo a pesquisadora, para que a luta indígena tenha visibilidade é necessário que a população brasileira se conscientize sobre a causa, que seja militante dos direitos dos povos indígenas e que realize a fiscalização das políticas públicas adotadas pelas autoridades governamentais.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Laryssa Holanda
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