Saúde
Por Caroline Da Vinha
A contaminação por Aids entre jovens de 15 e 24 anos tem aumentado nos últimos 10 anos em Campinas. Segundo dados do Ministério da Saúde, a taxa de detecção nesta faixa etária subiu 29%, ou seja, de 7,9 para cada 100 mil habitantes em 2006, aumentou para 10,2 a cada 100 mil pessoas em 2016.
A infectologista Cláudia Tadia Lopes Lourenço, do Centro de Referência Municipal DST/AIDS da Prefeitura de Campinas, esclarece que um dos motivos para esse aumento é que os jovens aparentemente não sentem medo do contágio. “Com a maior divulgação dos resultados positivos para quem tem o HIV e faz tratamento, pode-se passar a impressão de uma doença menos agressiva do que anteriormente”.
De acordo com Cláudia, os homens continuam sendo o sexo com a maior notificação de casos de Aids. Em 2006, foram detectados 1,9 homem para cada mulher e, em 2016, o número alcançou 2,7 homens para cada mulher. “Existem várias hipóteses para explicar o porquê disto, entre elas: homens se testam mais; a forma de transmissão é maior em relação anais do que vaginais; o número de casos entre HSH (homens que fazem sexo com homens), entre outras”, afirma.
Mesmo tendo avanços no tratamento antirretrovirais, ainda não existe cura e o tratamento é para o resto da vida.
Relato
João Paulo (nome fictício), 24 anos, foi diagnosticado com Aids aos 17 anos de idade. A descoberta da doença fez com que João se isolasse da família e dos amigos, com medo das reações. “Me senti a pior pessoa do mundo, não sabia o que fazer e a quem recorrer. Tive medo do preconceito”, diz.
Após o primeiro tratamento, João Paulo percebeu que precisava de ajuda e, assim, decidiu abrir o jogo com a família. “No primeiro momento eu sentei com meus pais e contei, eles ficaram assustados e não paravam de chorar. Depois de algumas horas eles me abraçaram e me deram todo o apoio”, conta.
Já no trabalho, a situação ainda é difícil. João, que trabalha como analista de sistemas, sofre preconceito dos colegas de trabalho. “Todos sabem, até porque eu saio muitas vezes para fazer exames e falto ao trabalho por causa dos efeitos colaterais dos medicamentos. Muitos não sentam mais perto de mim, outros começaram a trazer talhares e copos de casa com medo de contrair a doença”.
Apesar de tudo isso, ele busca fazer com que o preconceito não altere o dia a dia. “Quero crescer na vida, quero ter uma família e quero viver. Sou muito jovem para morrer. Fico chateado com o preconceito, mas tento mostrar para as pessoas que isso não é necessário”, comenta.
Apoio
Mas, para aqueles que não conseguem enfrentar esse desafio sozinhos, existe a Associação de Apoio a Portadores de Aids Esperança e Vida, uma entidade sem fins lucrativos que desenvolve projetos de reabilitação e reinserção em Campinas há 28 anos.
O fundador da ONG, Roberto Geraldo da Silva, conta que ministra palestras e desenvolve projetos para alertar e conscientizar as pessoas sobre a doença. “A palestra é a principal ferramenta no trabalho de prevenção. Nós fazemos uma abordagem técnica, mas comportamental, que faz com que os participantes comecem a refletir e busquem alternativas de mudanças, de tratamento e adotem práticas seguras de prevenção”, esclarece.
Atualmente a ONG atende 400 pessoas, sendo 25 nos leitos na enfermaria. “Oferecemos cuidados especiais para aliviar as dores das feridas do corpo e da alma, além de muito respeito e carinho”, afirma Silva.
Editado por Dorothea Rempel
Orientação de profa. Cyntia Andretta e profa. Maria Lúcia Jacobini
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