Destaque
Mercado editorial e a participação das crianças na produção do conteúdo pautaram a live que está no YouTube
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Por Lívia Dentini
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Os desafios e as oportunidades para produzir conteúdo jornalístico voltado para crianças levaram a um debate organizado pelo Coletivo Colo, que tem a professora Juliana Doretto como diretora. A discussão reuniu o jornalista Nilton Valentim, diretor-adjunto de redação do Diário do Grande ABC, com experiência na produção do suplemento Diarinho, e o jornalista André Romero Fernandes, atual editor de imagem da EPTV e integrante do grupo que criou o projeto Libinha, uma edição especial dirigida ao público infantil do Jornal Liberal de Americana.
O debate está disponível no canal no YouTube do coletivo Colo e os enfoques das conversas foram atender a demanda de leitores em contextos regionais, onde a comunicação com esse público enfrenta limitações de linguagem e representatividade. André Romero explicou os objetivos do projeto desenvolvido na Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, produto do trabalho de conclusão de curso, orientado pelo professor Marcel Cheida. O trabalho foi estruturado em três etapas: um suplemento produzido em parceria com o Jornal Liberal de Americana e publicado em 2024 como edição comemorativa no Dia das Crianças, a criação da personagem Libinha, uma aranha jornalista.
Em seguida, André apresentou uma história em quadrinhos protagonizada por Libinha, que mistura elementos fictícios em tom jornalístico, trazendo informações reais, como a vivência da personagem com um grupo de escoteiros locais, que foram de fato entrevistados para coletar opiniões das crianças da comunidade. Por fim, ele apresentou o podcast Hora do Curioso. voltado ao público infantil e pensado como uma ferramenta lúdica e informativa pode estimular o interesse das crianças pela arte.
Nilton Valentim destacou a complexidade do jornalismo infantil com a frase: “Não é você falar de criança, é você falar para a criança, que é uma coisa muito mais difícil”. Ele compartilhou sua experiência no Diarinho, suplemento voltado ao público infantil, onde começou a trabalhar em 2000. Com caráter educativo e, ao mesmo tempo, com intuito de ser divertido, o Diarinho se diferenciava das tradicionais hard news ao trazer pautas leves, utilizadas como apoio pedagógico por escolas. O jornalista ressaltou que, embora atualmente o suplemento esteja enxuto, ele continua sendo veiculado.
Durante a live, os participantes refletiram sobre a importância do jornalismo infantojuvenil local e os impactos da ausência desse tipo de conteúdo na formação das crianças. Valentim destacou que o suplemento Diarinho foi fundamental para incentivar o hábito da leitura e promover identificação com o público leitor. Ele relembrou o caso de crianças que, após participarem de uma matéria sobre o isolamento durante a pandemia, levaram o suplemento à escola para compartilhar com colegas. “O suplemento faz a criança gostar de ler, faz a criança se ver”.
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Romero acrescentou que o jornalismo tradicional costuma não ser direcionado para as infâncias, com redações pequenas e pouca abertura para conteúdos direcionados ao público infantil. Segundo ele, as crianças em diversos casos, veem o jornalista como uma figura distante e, quando aparecem na mídia, é geralmente em situações específicas. Ele defendeu que crianças têm percepções próprias sobre a realidade e podem ter visão de mundo com problemáticas.
O debate também abordou a questão da sustentabilidade financeira do jornalismo infantil. A mediadora Juliana Doretto apontou que, em momentos de corte de gastos, essa produção costuma ser a primeira a ser descartada. Valentim explicou que o Diarinho sobrevive por estar incluso dentro do jornal diário que circula no Grande ABC, apesar de ter sido reduzido e não gerar lucro. André Romero relatou que o suplemento Libinha foi desenvolvido pelo esforço dos estudantes, já que o jornal parceiro cedeu espaço, mas não recursos financeiros.
Ao ser questionado sobre as mudanças na interação com o público infantil ao longo dos anos de existência do Diarinho, Nilton Valentim destacou um contraste marcante: hoje, as crianças estão acostumadas a se ver em telas, e por isso, quando se reconhecem impressas no papel, a reação costuma ser de
encantamento. Ele também observou que, com o tempo, tornou-se mais difícil acessar esse público diretamente, especialmente por conta das restrições impostas pelos próprios responsáveis, que têm se mostrado mais cautelosos ao autorizar entrevistas com os filhos.
Para Juliana Doretto, a live destacou ser necessário persistir na produção de jornalismo infantil de qualidade, mesmo diante de tantos desafios. Para ela, olhares sensíveis ainda conseguem criar conteúdo relevante para as crianças, “mas é preciso que haja um esforço coletivo para garantir a continuidade desse tipo de iniciativa”, frisou.
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Edição: Murilo Sacardi
Orientação: Profa. Rose Bars
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