Esportes

Futebol feminino ganha espaço, mas sofre com desigualdade

Por: Elizabeth Lins e Luísa Viana 

Nos últimos anos, vivenciamos o crescimento tanto na visibilidade quanto no público, no futebol feminino. A Copa do Mundo de 2019 que ocorreu na França reuniu cerca de 1,12 bilhão de espectadores ao redor do mundo. Na edição de 2023, que ocorreu na Austrália e na Nova Zelândia, o Brasil alcançou 63 milhões de telespectadores, representando um terço da população nacional. Esses números mostram o interesse do público pelas competições femininas. Em 2027 o Brasil será o país que vai sediar a Copa do Mundo Feminina, espera-se que nesta edição, assim como nas anteriores, o recorde de público seja batido.

O crescente aumento do público mundial acompanhando a Copa do Mundo Feminina (Foto: Elizabeth Lins)

Bianca Anacleto, comentarista esportiva do Canal GOAT, diz que essa evolução reflete mudanças sociais e culturais. “Se pararmos para pensar, em 2020, o Brasileirão Feminino ainda era transmitido no Twitter. Hoje, as finais já são exibidas em canais de TV aberta, como ocorreu na decisão de 2024. Isso mostra que o interesse do público existe, mas faltava uma estrutura que permitisse esse acesso”, afirma. 

A comentarista destaca no vídeo abaixo que para o público acompanhar mais avidamente esses jogos, deve haver um esforço em conjunto com times, emissoras de televisão e a CBF.

Clubes que se dedicam à modalidade, como é o caso do Corinthians, provam que o futebol feminino tem potencial de atrair o público. “No início, nossos jogos tinham cerca de mil torcedores na Neo Química Arena. Hoje, conseguimos atrair mais de 40 mil pessoas para assistir à final do Brasileirão. Isso é fruto de um trabalho de anos, que mostra que quando o futebol feminino é tratado com seriedade, ele cresce e conquista fãs”, diz Bianca. Mas mesmo com esses avanços, uma pergunta continua,  por que o futebol feminino ainda não recebe o mesmo apoio financeiro e estrutural que o masculino, mesmo com provas de que existe interesse popular?

O impacto do passado no presente do futebol feminino

O futebol feminino no Brasil carrega em sua história a exclusão. Durante quase quatro décadas, o Decreto-Lei n° 3.199 proibiu as mulheres de praticarem o esporte, com a justificativa de que ele era “incompatível com a natureza feminina”. O período de proibição contribuiu para a desvalorização da modalidade, e os efeitos podem ser sentidos até hoje. Maria Helena Srapman, jogadora do Paulista de Jundiaí, fala sobre as dificuldades encontradas. “Em primeiro lugar precisamos enfrentar o machismo no geral, depois a desvalorização do futebol feminino por sermos mulheres. Além disso, temos a falta de investimento, estrutura, conhecimento, divulgação, entre diversos outros desafios”, enumera a atleta.

Queren Gomes “Uma das principais mudanças que gostaria de ver é que nós mulheres fossemos mais valorizadas no esporte” (Foto: Paulista F.C)

A falta de incentivo na infância é outro fator que limita o crescimento do futebol feminino. Uma pesquisa da Centauro em parceria com a Consumoteca revelou que apenas 34% das meninas brasileiras sonham em ser jogadoras profissionais, enquanto 63,8% dos meninos têm o mesmo objetivo. Queren Gomes, também jogadora do Paulista, enfatiza que o preconceito ainda é uma barreira. “Escutamos muitos comentários preconceituosos, e isso é doloroso. Mas a gente tenta usar essas críticas como motivação para continuar e mostrar que o futebol feminino tem valor”, desabafa.

Apesar dos obstáculos, o argumento de que o futebol feminino não gera interesse é facilmente derrubado pelos números. Durante a Copa de 2023, o canal Cazé TV transmitiu pela primeira vez a competição, e de acordo com os dados da LiveMode, o canal alcançou 24 milhões de dispositivos únicos e nos três jogos da seleção do Brasil ultrapassou 1 milhão de transmissões simultâneas. O Brasileirão Feminino de 2024 quebrou recordes de público: foram 44.529 pessoas assistindo ao jogo, número maior do que em 2023, com 42.566, e em 2022, que foi de 41.070. Números que rivalizam com jogos masculinos de menor importância.

Wanyffer Monteiro, comentando a final da taças da favelas feminina em Jundiaí (Foto: Gabriel Lima)

Wânyffer Monteiro, jornalista, afirma: “As pessoas querem assistir, querem apoiar. O que falta é uma cultura que valorize o futebol feminino. Ainda enfrentamos preconceitos que colocam a modalidade como algo inferior. Mas, aos poucos, isso está mudando, e nós, jornalistas, temos a responsabilidade de acelerar esse processo, trazendo mais visibilidade para essas atletas”.

Maria Luísa Faustino, fã de esporte e que acompanha o futebol feminino, também acredita que a cobertura da mídia precisa ser ampliada, indo além da transmissão de jogos importantes. “Eu sinto falta de aprofundarem mais no assunto. Colocar em jornal ou em um programa sobre o futebol feminino, sobre um time específico, a situação dele, como se fosse um time masculino”, compara.

Mariana de Oliveira, gerente de uma empresa patrocinadora de equipes femininas, reforça a importância do apoio financeiro: “Investimos no futebol feminino porque acreditamos no potencial dessas atletas. Não é apenas uma questão de apoiar um esporte, mas de reconhecer que essas mulheres têm talento e que precisam de recursos para se desenvolverem”.

Com a aproximação da Copa do Mundo Feminina de 2027, o futuro da modalidade no Brasil é promissor. Maria Luisa Faustino afirma: “Eu vejo o futuro do futebol feminino brilhante. Ainda temos muito espaço para conquistar e muito preconceito para quebrar, mas acredito que estamos no caminho certo”. Beatriz Fracaroli, jogadora do Paulista, compartilha da mesma visão otimista. “O futebol feminino está trazendo orgulho para o Brasil. E meu conselho para as meninas que sonham em ser jogadoras é: não desistam. O caminho é difícil, mas o sonho vale a pena”, considera.

O problema não é falta de interesse. O que falta é oportunidade, investimento e uma sociedade disposta a reconhecer o futebol feminino como uma modalidade com o mesmo valor que o masculino. O Brasil, como sede da Copa de 2027, tem a chance de transformar essa realidade e liderar a mudança. 

Orientação: Profa. Karla Ehrenberg
Edição: Luísa Viana


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