Destaque
Prática é tendência em marcas autorais e ganha força no cenário fashion
Por Letícia Meneghel
Upcycling é o processo de transformar materiais ou produtos descartados, que seriam considerados lixo, em novos itens de maior valor ou com nova utilidade. Diferente da reciclagem, que geralmente quebra o material para criar algo novo, o upcycling preserva a forma original, utilizando criatividade para dar uma segunda vida ao item.
O conceito de upcyling surgiu em meados dos anos 1990 pelo empresário e ambientalista alemão Reiner Pilz, na época ele criticava o modo de reciclagem e descarte de resíduos, acreditando na criação de valor a partir de materiais descartados, levando o termo de “upcyling”.
Porém, o conceito se popularizou em 2002 quando o químico Michael Braungart e o arquiteto William McDonough lançaram o livro “Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things”, reforçando a ideia de prolongar o ciclo de vida dos materiais.
Isabela Tedesco, especialista em Negócios da Moda, explica que o mercado de moda tem adotado essa prática e tem entendido upcyling como uma calça jeans que vai virar uma blusa ou a junção de várias peças para formar uma jaqueta.
“O mercado de moda no geral entende e define o upcycling como peças que seriam descartadas sendo reaproveitadas para virarem novas peças, estamos percebendo um olhar mais aberto em relação a isso”, comenta Isabela.
Apesar do crescimento, ela ressalta que o upcycling ainda está em seus estágios iniciais, mas vê potencial nessa prática sustentável.
“Eu vejo o começo de um olhar principalmente nas marcas autorais, mas que ainda está muito distante dessas toneladas paradas dentro da indústria. Eu falo até com um pouco de angústia, mas com alegria de discutir essa temática, porque acho que isso é muito importante, essa educação a respeito do potencial do upcycling, que precisa ser trabalhada e ter um futuro imenso, isso é uma coisa possível”, destaca.
Upcycling em Campinas
Em Campinas a marca Matos Brexo, fundada na pandemia por Ana Matos e sua mãe, tem adotado a prática do upcyling para todos seus produtos.
Para a criação das peças Ana usa tecidos, camisas, dustbag, calças, toalhas e tudo o que ela acredita ser reutilizável. Além disso, a marca trabalha com a dinâmica de produção em baixa escala, uma prática sustentável e do slow fashion (movimento que busca uma abordagem ética e sustentável focada em reduzir o consumo e a produção, promovendo escolhas de moda mais conscientes para o planeta e população).
A criadora conta que a ideia da marca surgiu pela necessidade de ajudar na renda da sua casa. Por ter uma mãe costureira, Ana conta que isso sempre fez parte de sua vida, na época ela já tinha um brechó online, mas inspirada pelas redes sociais ela decidiu reutilizar as peças do brechó fazendo customizações, o upcycling.
A marca começou com seis peças, que foram postadas nas redes sociais e tiveram grande aprovação. Com isso, Ana deu continuidade e atualmente vende suas roupas para grandes nomes da internet e da música brasileira como, Bianca Andrade, Anitta e Ana Flávia Lobo.
O produto principal da Matos Brexo são os corset feitos a partir de camisas de time de futebol, tanto dos times Brasileiros, quanto dos internacionais. Além dos corset, blusas drapeadas, jaquetas puffer, balaclavas e conjuntos são confeccionados de forma sustentável.
Para Ana, o futuro da moda está no upcycling. Ela comenta que fica feliz em ver o crescimento desse movimento em pequenas e grandes marcas.
“Antes de ser estilista, sou geógrafa, então sempre tive o viés da sustentabilidade nas minhas formas de trabalho, não acho que sejam práticas que vão salvar o mundo, mas que vão ajudar a não acabar com ele”, destaca Ana.
Enquanto algumas pessoas utilizam o upcycling para ganhar sua renda e espalhar seu trabalho, a estudante de moda Rafaela Julião não tem pretensões de lucrar com as suas produções, mantendo-as apenas para uso próprio.
Rafaela entrou em contato com o upcycling despretensiosamente, através de uma matéria optativa disponibilizada por sua faculdade. Ela conta que a partir desse contato, desenvolveu um interesse por essa área da confecção, especialmente por reforçar seus princípios.
“Sempre acreditei que esse modo de criar era o que mais me inspirava, pois penso que não precisamos de mais peças de roupas no mundo e sim reutilizar o que já existe, fazendo com que durem longos anos e sejam diferentes do padrão”, ressalta Rafaela.
A primeira produção da estudante de moda foi uma bolsa utilizando amostras de tecidos encontrados em uma caçamba.
Para ouvir a história de como a estudante fez sua primeira bolsa de upcycling, ouça o áudio abaixo.
As criadoras da marca Mamba Verde, Donna, de Santa Bárbara d’Oeste, e Laisla Fernanda, de Americana, contam como elas utilizam o upcycling em suas criações, pensando no reaproveitamento das peças, na exclusividade das roupas e na comunicação que elas querem passar com a moda.
O vídeo abaixo conta um pouco da percepção das proprietárias da marca sobre o upcycling e como elas aplicam esse conceito na empresa.
Ao unir a sustentabilidade e a criatividade, o upcycling tem se mostrado mais do que uma tendência passageira adotada por diferentes perfis, seja para uso próprio ou como fonte de renda, o reaproveitamento de materiais amplia o ciclo da peça e contribui para uma nova dinâmica na produção de moda.
Orientação: Profa. Karla Ehrenberg
Edição: Gabriela Lamas
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