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Traumas e estigmas dificultam processo de adoção tardia 

A permanência prolongada em abrigos e serviços de acolhimento afeta o desenvolvimento de crianças e adolescentes

Por Diogo Mosna e Yasmin Souza

As dificuldades e os traumas enfrentados por crianças em processo de adoção tardia, termo que designa a adoção daqueles que já saíram da primeira infância e possuem maior autonomia, destacam a complexidade desse processo, que envolve adaptação emocional e relacional tanto para os adotantes quanto para os adotados.

A pedagoga Dayane Cristina Ormenese acredita que os principais fatores que dificultam a adoção de crianças mais velhas e de adolescentes no Brasil são o preconceito de se ter uma criança com mais idade em casa, a adaptação mais longa que é exigida e o medo dos pais em processo de adoção. A criança mais velha tem mais lembranças, memórias e uma personalidade já formada, e cabe à nova família se adaptar a ela. 

Hoje em dia outro fator que aumenta esse número, segundo Dayane, são os grupos de irmãos. É difícil ter o desmembramento de irmãos dentro do serviço de acolhimento e de ter um casal que queira adotar um grupo. Devido à dificuldade de achar adotantes, algumas vezes eles são separados uns dos outros. 

Segundo a pedagoga, o serviço de acolhimento pode prejudicar a relação da criança com possíveis famílias adotivas e com a vivência delas em sociedade. Uma criança que é criada dentro desse serviço institucional acaba vivenciando um mundo completamente diferente. “Muitos desses jovens sofreram rejeições não somente com a família anterior, mas com outras possíveis adoções. Isso acaba criando várias barreiras e sentimentos de não pertencer a lugar nenhum”, declara Dayane. 

O serviço social pode ajudar nesse cenário desconstruindo o preconceito em torno da adoção tardia, através de políticas e de assistência para as famílias que adotam crianças mais velhas e grupos de irmãos. Trabalhar a imagem em torno da adoção desse grupo específico de crianças é fundamental, de acordo com Dayane, para mostrar que esse tipo de adoção também dá certo. 

O psicólogo João Souza explica que é chamada de tardia a adoção de uma criança que já passou da primeira infância (Foto: Yasmin Souza)

A assistente social Bruna Cipriano afirma que a institucionalização estendida dessas crianças afeta a relação delas com possíveis famílias adotivas, sobretudo nas questões de aceitação e confiança, de dificuldade em vincular-se ao meio em que será inserida e de medo, insegurança e ansiedade.

Outro ponto ocasionado por essa estadia prolongada é a defasagem na aprendizagem apresentada pela criança e adolescente, que se dá pela baixa frequência escolar ou o ambiente em que se encontram. Bruna comenta que isso ocorre muitas vezes devido às emoções que o indivíduo experimentou ao longo da vida.  

“A ansiedade que impera por um novo lar traz a desatenção no momento da aula ou de uma voz de comando, por mais simples que seja”, revela Bruna. A criança que não aprendeu a identificar seus sentimentos, dentro de um contexto vulnerável, apresenta dificuldade na apropriação do conteúdo escolar. 

Bruna conclui que isso não impede que a mesma aprenda em outro momento, porque é uma dificuldade momentânea por conta das emoções vivenciadas, com muitos pensamentos de como será sua nova família, preocupações e aceitação em recebê-la. 

João explica que a legislação é apoiada por vários sistemas, de média e baixa complexidade, que fazem o acompanhamento da família em período de adoção. A Guarda da Infância e da Juventude e o Conselho Tutelar promovem um acompanhamento próximo da família, pelo menos no início, para que ela se sinta respaldada a conseguir dar sequência no processo de adoção. 

Confira a seguir o vídeo do psicólogo João Souza a respeito dos traumas decorrentes da adoção tardia e dos estigmas em torno desse processo.

João defende que o papel da família adotiva é suprir as necessidades básicas, físicas e emocionais da criança que foi adotada. Para que a criança seja adotada, deve haver uma estrutura financeira, familiar e funcional adequada, e que todo esse suporte seja transmitido para a criança, a qual já passou por uma ruptura brusca e por momentos delicados.

O advogado Josafá Ribeiro da Silva com sua família (Foto: Arquivo pessoal)

Josafá Ribeiro da Silva, pai de um filho adotivo, relata que “a adaptação da criança foi um tanto difícil, pois ela chegou com vários medos e nós tivemos muita paciência até que ela se sentisse segura”. Ele comenta que foi feito um processo de preparação emocional junto aos filhos biológicos e de ajuda profissional para superar isso. Para Josafá, a preparação foi vitoriosa por ter sido feita de forma branda e contínua. 

Escute agora um áudio da pedagoga Dayane Cristina Ormenese sobre o sistema de apadrinhamento de crianças e adolescentes em adoção que também tem trazido bons resultados.

Orientação: Profa. Karla Caldas

Edição: Gabriela Lamas


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