Destaque
Skatistas e patinadores podem se dar bem nas pistas, mas às vezes um momento de lazer acaba em um desentendimento histórico
Por Laura Leite e Maria Eduarda Mubarak
Embora pouco comentada fora do universo dos esportes, a rivalidade entre skatistas e patinadores remonta à década de 1980, na Califórnia, época em que os patins em linha começaram a ganhar popularidade. O foco da disputa, no entanto, está no uso da parafina (também conhecida como ‘vela’) pelos rollers, que precisam espalhá-la pelos obstáculos para diminuir o atrito entre eles e as barreiras.
Por serem obrigados a dividir espaços públicos, os praticantes dos esportes frequentemente se desentendem, já que um precisa da vela – enquanto o outro se prejudica com o uso dela. O prejuízo muitas vezes é doloroso: como os obstáculos ficam escorregadios, os skatistas acabam perdendo o equilíbrio e se machucando.
Recentemente, uma discussão entre um skatista e uma patinadora acabou em luta corporal na Lagoa do Taquaral, em Campinas-SP. Não se sabe ao certo quem iniciou a briga, mas o motivo é o mesmo de sempre: o uso da vela.
Em entrevista, um patinador da região metropolitana de Campinas, que preferiu não se identificar, explicou o que pensa sobre a separação dos espaços para os dois esportes:
“Eu acredito que se hoje tiver uma divisão de pistas nós estaremos alimentando o preconceito, porque daí vai ser aquele negócio: ‘vai andar na sua pista, não na minha’. Aí eu vou ser obrigado a andar só nas pistas de patins e um dia que estiver a fim de andar em outro lugar, não vou poder.”
Depois, o roller contou sobre sua relação com skatistas e como ele enxerga o relacionamento entre ambas as partes:
“Eu sou amigo de todos os skatistas (da RMC)… mas vai de pessoa para pessoa. Às vezes você vai conversar com outra pessoa, o cara vê que você é de outro esporte e já te trata mal, te ‘zoa’…Acredito que a relação varia muito do estilo da pessoa, de como ela trata, se ela sabe conversar”, comenta.
E completou dizendo que o relacionamento dos patinadores com os skatistas tem alguns problemas:”Às vezes o skatista não quer ter um bom relacionamento com a gente, ou ele já tem esse preconceito por sermos patinadores e usarmos vela… Às vezes acontece essa pré-discriminação por causa do esporte.”
Por outro lado, Lucas Cavallero, skatista e professor de skate, de 30 anos, também morador de Campinas, aponta que a verdadeira razão para desavenças não está necessariamente relacionada ao esporte, mas ao comportamento individual:
“Não costuma haver desavença. Nós, skatistas, respeitamos todos. Desavenças acontecem quando há má utilização da pista, como andar sem olhar para os lados, passar parafina exageradamente ou cortar a vez dos outros praticantes. Cada um tem sua vez no espaço, e cortar a vez dos outros não é aceitável”, pondera.
Políticas Públicas
A prefeitura de Campinas tem desenvolvido projetos para aumentar a quantidade de pistas na cidade e reformar as existentes, a fim de melhorar a convivência entre skatistas e patinadores e oferecer mais opções para os praticantes dos dois esportes.
“A gente tem um número crescente de pistas, às vezes temos de entender que não dá para atender todos de forma completa, principalmente para atender essa grande comunidade esportiva do skate. Algumas das pistas têm manutenção periódica e mais constantes por conta de serem mais usadas, outras ainda precisam de mais manutenção e isso requer orçamento, por isso, antes da gente construir novas pistas, pensamos em cuidar das que já têm disponíveis para o público.” Comentou Fernando Vanin, Secretário de Esportes de Campinas.
Mesmo com vários projetos para a ampliação de espaços e pistas de skate, Fernando comenta que o orçamento para que os projetos saiam do papel ainda é muito baixo. E, sempre que podem melhorar algo nas pistas isso se torna prioridade.
Enquanto isso, tem algo que skatistas e patinadores concordam: faltam bebedouros e iluminação adequada nas pistas. O patinador que preferiu não se identificar, relata:
“A maioria das pistas em que nós andamos não são bem cuidadas. Muitas delas não tem água para tomar, não tem iluminação adequada, a pista está abandonada com buracos. São bem precárias as pistas, para falar a verdade.”
De outro lado, Lucas, o skatista, afirma:
“Elas estão bem cuidadas. Os skatistas sempre procuram melhorias para estes espaços. No entanto, elas não são suficientes. A comunidade do skate costuma se unir para buscar melhorias, como solicitar à prefeitura a melhoria da iluminação e a construção de bebedouros, de bancos etc. Não são apenas skatistas que utilizam as pistas, mas também ciclistas, patinadores e pessoas que andam de patinete. Na parte burocrática, são principalmente os skatistas que buscam estas melhorias. Se cada modalidade se unisse e corresse atrás, seria bem melhor”, destaca Lucas.
Embora existam diferenças de opinião e até alguns hábitos que geram atritos entre skatistas e patinadores, é fundamental que ambos compartilhem os mesmos espaços e se unam na busca por melhorias. Ambos os esportes são novos e os praticantes ainda têm muito a aprender e descobrir sobre as práticas – de manobras e de convivência.
É impossível e injusto generalizar as atitudes e comportamentos de um grupo e de outro, mas, no geral, as brigas acontecem entre pessoas que têm um temperamento mais forte e/ou não estão em um bom dia.
Ambos os esportes pregam paz e amor e, de certa forma, a maioria dos atletas segue o lema. Ainda assim, é preciso que todos aprendam a dividir, respeitar e compreender o outro.
Orientação: Profa. Karla Ehrenberg
Edição: Mariana Dadamo
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