Destaque

Rir para Resistir: como a comédia drag quebra barreiras e inspira mudanças

Por Júlia Garcia

A comédia sempre foi uma aliada poderosa na luta contra o preconceito, e para as drag queens, que desde os seus primeiros passos no mundo artístico enfrentaram estigmas e discriminações, a comédia se apresenta não apenas como uma forma de entretenimento, mas como um ato de resistência diante dessa realidade. 

A arte drag é uma expressão artística que desafia e reinventa as normas de gênero, trazendo à cena personagens criativos. Longe de estar vinculado à orientação sexual, o universo drag é uma celebração da cultura e da arte acessível para todos. Com performances que combinam dublagens, dança, comédia e dramatização, cada apresentação é um espetáculo único que reflete a personalidade e o estilo de cada artista.

Paulo Gustavo, um ícone da comédia brasileira, costumava dizer: “Rir é um ato de resistência”, um lembrete de que o humor, além de entreter, também pode mudar perspectivas. Mais do que uma forma de entretenimento, o riso tem o potencial de aliviar o estresse, renovar esperanças e, ao mesmo tempo, trazer a realidade que muitas vezes é ignorada.

Azzur Lounge Bar, localizado no bairro Cambuí, é a primeira casa Heterofriendly de Campinas, atuando desde 2018 em prol do respeito por todos. (Foto: Júlia Garcia)

No Azzur Lounge Bar, localizado em Campinas, a arte drag é celebrada como uma manifestação inclusiva e transformadora. Ewister Rodrigues Barboni, representante do bar e apoiador do projeto “Stand Drag”, destaca que o espetáculo não é apenas para diversão. “É um ato de resistência! A gente desmistifica o papel das drag queens na sociedade e mostra que a arte drag vai além da comunidade LGBTQIA+”, explica. 

A proposta do “Stand Drag” vai além de um passa tempo, ela cria um ambiente de acolhimento, onde a diversão se alia à reflexão. Oferecendo, inclusive, um camarim especial para que o público experimente a sensação de se montar como drag, o Azzur promove a festa das atrações e da diversidade. “Resista, chore e seja você mesmo!” é o convite que Ewister deixa a todos que desejam vivenciar a liberdade que a arte proporciona.

Silvetty Montilla é referência nacional no universo drag, com mais de 30 anos de carreira e quase três décadas dedicada à comédia. Ela própria encara o humor como uma forma de refletir, “Tudo que você fala com humor, eu acho que é tudo muito mais fácil para entrar na cabeça das pessoas, para fazer elas enxergarem de uma outra forma e ter o respeito pelo trabalho. Eu acho que com humor é tudo muito mais leve e divertido”. Silvetty acredita que através da arte é possível evidenciar  aquilo que muitas vezes é ignorado,“Eu acho que com a nossa arte a gente pode mostrar tudo” destaca. 

Vinicius Silva, conhecido no mundo da arte drag como Aqua, desafia os estereótipos com sua aparência única — careca e barbada — desde que foi lançado nesse universo, há oito anos. Para Aqua, a arte drag é muito mais que uma performance; é um grito de liberdade. “A arte drag, não é livre apenas pro homem gay fazer. O homem hétero pode fazer, a mulher hétera pode fazer, o gay pode fazer, a lésbica pode fazer, a trans pode fazer, o trans pode fazer. Quem quiser pode fazer, porque a drag é o seu trabalho, é o seu personagem. Não é quem você é quanto a gênero, ou quanto a escolha sexual, ser drag é inspirar e ser quem você quiser ser”, afirma. 

Aqua já foi apresentada ao lado de grandes nomes internacionais, como Sasha Velor e Shangela, além de artistas brasileiros, como Gloria Groove e Pepita. Em cada uma dessas experiências, ela testemunhou o poder transformador da arte drag, que desafia normas e molda a percepção sobre o que significa ser drag. “Essas drags abriram muitas portas no Brasil, são artistas que trouxeram reconhecimento nas novelas e na rede nacional, elas caminharam muito para chegar onde estão,” declara Aqua.

Resistência no Brasil: Comunidade LGBTQ+

O Brasil há 14 anos é considerado um dos países que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), só em 2023 foram registrados 257 assassinatos de pessoas LGBTQIA+. Entre as vítimas, 127 eram pessoas trans e 118 homens gays, além disso a pesquisa mostrou que a cada 34 horas, uma vida é perdida devido à violência motivada pelo preconceito.

Ainda assim, a resistência da comunidade LGBTQIA+ segue firme. O GGB destaca que cerca de 20 milhões de brasileiros e brasileiras se identificam como LGBTQIA+, 10% da população, o que significa que a luta por direitos e visibilidade tem ganhado novas frentes, como a arte drag. 

Em 2023, um avanço importante foi a reativação do Conselho Nacional LGBTQIA+, no entanto, o cenário ainda exige cautela e mobilização. De acordo com pesquisa da organização Gênero e Número, com o apoio da Fundação Ford, 92,5% das pessoas LGBTQIA+ relataram aumento da violência contra a comunidade. Diante disso, a resistência também se traduz em atos culturais e políticos que desafiam o preconceito e transformam a dor em luta.

Nesse cenário, a resistência também ganha novas formas e núcleos. Seja em palcos como o “Stand Drag” ou em espaços cotidianos, a comédia drag reafirma que o humor pode ser uma ferramenta de resistência poderosa, capaz de desconstruir preconceitos e de transformar a luta por igualdade em um ato vibrante e colorido. “O humor é uma ferramenta de libertação, usada de forma cuidadosa para tocar a sensibilidade de cada um, sem nunca perder o compromisso com a inclusão e o acolhimento”, ressalta Ewister Barboni.

A Drag Queen, Aqua, compartilha sua trajetória como artista, revelando como o personagem nasceu e se tornou uma poderosa ferramenta de desconstrução. Com uma estética ousada e performances marcantes, Aqua conta sobre os desafios e as conquistas que marcaram seus oito anos de carreira. 

Orientação: Profa. Karla Ehrenberg

Edição: Mariana Dadamo


Veja mais matéria sobre Destaque

Preço do tomate afeta custo da cesta básica em Campinas


Consumidores mudam hábitos alimentares para adequar situação orçamentária, dizem comerciantes


Emdec testa tecnologia em 25 semáforos sonoros em Campinas


Proposta é ampliar a autonomia de deficientes visuais em seus trajetos; prefeitura já distribuiu 100 tags


Intercom Sudeste termina em clima de festa na PUC-Campinas


O Intercom Sudeste, encontro de pesquisadores e estudantes de comunicação sediado pela PUC-Campinas em 2025, terminou neste sábado, 17/05.


Galinha Pintadinha cisca no quintal do Intercom Sudeste


O criador da série animada infantil “Galinha Pintadinha”, Juliano Prado, compartilhou a trajetória do desenho brasileiro.


Inteligência Artificial auxilia na criação musical


O produtor e DJ Marcio Claver apresentou ferramentas que auxiliam no processo de criação em projetos sonoros e de podcasts.


Pesquisadores se reúnem para repensar a comunicação


A tarde foi marcada pela apresentação dos Grupos de Trabalho (GT’s) participantes do segundo dia de Intercom Sudeste 2025.



Pesquise no digitais

Siga – nos

Leia nossas últimas notícias em qualquer uma dessas redes sociais!

Campinas e Região


Facebook

Expediente

Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes / Daniel Ribeiro dos Santos / Gabriela Fernandes Cardoso Lamas / Gabriela Moda Battaglini / Giovana Sottero / Isabela Ribeiro de Meletti / Marina de Andrade Favaro / Melyssa Kell Sousa Barbosa / Murilo Araujo Sacardi / Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.