Cultura & Espetáculos
Criado há mais de 30 anos, o Cine Clube José Cesarini oferece sessões gratuitas de cinema, permitindo que jovens tenham acesso a filmes clássicos em rolo
Por André Martins e Leonardo Périco
Fundado pelo artista Alan Duarte, o Cineclube José Cesarini promove cinema gratuito em Itatiba há mais de 30 anos, sendo um importante ponto de encontro para a comunidade local.
A professora de arte Débora Cássia Delollo, frequentadora assídua do cineclube junto a sua filha, Iluá, destaca a importância do local: “Este espaço é uma oportunidade única para os jovens de hoje conhecerem e apreciarem filmes em rolo, algo raro e precioso.”
O fundador do cineclube, Alan Duarte, relata que seu amor pelo cinema começou cedo e foi o que inspirou sua criação do espaço. “A vida inteira eu gostei de cinema. Acho que minha paixão começou aos cinco anos, com um projetorzinho à manivela. Eu não tinha, então, outra coisa que gostasse mais do que cinema. Um dia pensei: ‘Puxa, poderia montar um cinema gratuito para quem não tem condições’,” conta ele.
Além das exibições de filmes, o espaço oferece exposições e eventos culturais,virando um centro cultural aos moradores. A recente reabertura do espaço, após um incêndio que fez com que perdesse grande parte de seus rolos de filmes, foi prestigiada por importantes figuras locais e reafirma o compromisso de Alan com o acesso universal à cultura.
Manter o cine ativo apresenta desafios constantes, envolvendo custos e questões técnicas. Alan destaca a complexidade de manter a estrutura funcionando: ”Os desafios são muitos, porque há gastos. A lâmpada de um projetor, por exemplo, é cara, porque tudo é feito de xenônio.” Ele menciona que, atualmente, recebem uma pequena verba, da prefeitura, o que ajuda na compra de insumos e manutenção básica.
Apesar dos recursos modestos, Duarte ressalta que o objetivo do projeto nunca foi o lucro, mas, sim, proporcionar lazer e cultura à população de Itatiba e região. “Queremos divertir e reunir o público.”
Ele ainda destaca a parceria com seu amigo Jonathan Teles, o Jô, que há oito anos atua ao seu lado no cineclube e, em sua visão, está preparado para continuar o projeto no futuro: “Quando eu não estiver mais aqui, ele vai continuar o trabalho”, visualiza.
Segundo o jornalista Caio Coletti, formado pela PUC Campinas e redator no site Omelete, o aumento do preço dos ingressos e o fechamento de cinemas populares têm transformado a ida ao cinema em um privilégio, tornando os cineclubes gratuitos ainda mais essenciais. “Conforme o cinema se torna cada vez mais uma experiência elitizada, com o aumento do preço dos ingressos e o fechamento de cinemas de rua e populares, a instituição e preservação dos cineclubes gratuitos é essencial para que ainda seja possível, para a população pobre, ter acesso à cultura”, avalia. Ele ainda enfatiza o papel transformador da arte ao proporcionar novas perspectivas, “introduzindo novas possibilidades de futuro e a representação de realidades similares e diferentes da do espectador, desenvolvendo assim a capacidade de empatia, consciência e transformação.”
A curadoria dos cineclubes desempenha um papel importante, afirma Coletti, ao facilitar o acesso a filmes independentes e variados que muitas vezes ficam de fora do circuito comercial. Ele ressalta, ainda, que os cineclubes ajudam a resgatar obras históricas e culturais, além de dar espaço a novas narrativas. “Acredito que é importante, até por isso, calcar a multiplicidade de pontos de vista, nacionalidades, gêneros cinematográficos e formatos, mantendo um olhar para perspectivas marginalizadas no circuito comercial, como cinema latino, cinema africano, cinema negro, cinema dirigido por mulheres, etc”, considera.
Ele destaca que, ao expor os espectadores a produções diferentes, os cineclubes ajudam a ampliar a visão do mundo, promovendo empatia e compreensão de outras realidades. “O cineclube, por sua natureza, tem a capacidade de trazer novas possibilidades de futuro ao espectador, oferecendo representações que refletem ou contrastam com a sua realidade, estimulando a consciência e transformação”, afirma.
Coletti, ainda, reforça que a curadoria atenta e diversificada é uma forma de resistir à homogeneização do mercado cinematográfico, onde muitas produções independentes ou alternativas são deixadas de lado. “Quando o cineclube se propõe a destacar pontos de vista diferentes, ele não só oferece acesso à cultura, mas fortalece a importância de obras artísticas frequentemente ignoradas. Isso ajuda a formar um público mais crítico, informado e exigente”, afirma.
Ainda, segundo ele, a valorização de filmes de diferentes origens e formatos é um caminho para construir um espaço cultural mais inclusivo e plural.
O Cineclube José Cesarini fica na Rua Benedito Franco de Godoy, n.º 81, Jardim Coronel Peroba, e realiza sessões às quintas, 20h, e domingos, 15h, com programação divulgada no Facebook da rádio CRN de Itatiba.
Confira a entrevista em áudio de Lilian contando sua história com cineclube e o trabalho de Alan Duarte em Itatiba.
Orientação: Profa. Karla Caldas
Edição: Gabriela Lamas
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