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Acontecimentos recorrentes de preconceito trazem à tona o debate sobre o tema no esporte
Por Diego Linardo e Gustavo Cabral
Casos de racismo em partidas de futebol tornaram-se recorrentes ao redor do mundo. O combate a esses acontecimentos e ao preconceito no esporte ganhou mais visibilidade a partir de 2023, ano em que o atacante Vinícius Júnior, atleta do Real Madrid e da Seleção Brasileira, foi alvo de críticas, cânticos ofensivos e até ameaças de morte em alguns jogos na Espanha. Tais casos, todavia, não se restringem apenas ao Velho Continente. No Brasil, especialmente em jogos internacionais, alguns clubes relataram que torcedores foram alvos desse preconceito.
Em partidas da Conmebol Libertadores e da Copa Sul-Americana, clubes como Fortaleza, Corinthians, Botafogo e Atlético Mineiro tiveram torcedores que passaram por essas situações, cometidas não só por torcedores de outros clubes Sul-Americanos, mas também por outros brasileiros.
O racismo encontra-se tão enraizado na sociedade que por vezes passa despercebido. Gui Negão, atleta do sub-15 da equipe do Corinthians e da Seleção Brasileira, comenta como o apelido acabou aceito por ele.
“Negão veio no primeiro time em que joguei. Me destacava pelo tamanho e pela força quando comparado com os outros meninos, e com isso veio o apelido de Gui Negão, que está aí até hoje e espero que permaneça pro resto da vida”, afirma o jovem centro avante.
A luta contra o racismo tende a ser ampliada perante as novas leis e punições que surgem diante dos novos casos. Um exemplo é a criação da Lei 22.084/2024, conhecida como Lei Vini Jr, que complementa a legislação de combate ao racismo em eventos esportivos.
Do ponto de vista jurídico, o clube pode sofrer punições civis e esportivas por conta desses atos de seus torcedores. É o que explica Guilherme Marreta, especialista em direito desportivo e funcionário da Ponte Preta.
“Quando identificamos um torcedor que praticou violência, o excluímos do quadro de sócios (caso seja) e o proibimos de frequentar as dependências do clube. Quando isso não ocorre, a punição se aplica ao próprio clube. Podendo ser uma multa, jogos de portões fechados ou perda do mando de campo as sanções mais comuns”, explicou.
Nesse contexto social, surgem grupos e frentes relacionados não só ao combate ao racismo, mas a todas as formas de violência e preconceito. Olívia Pilar, do Coletivo Marta, explica como o seu grupo faz parte dessa luta.
“Nós fazemos pesquisas que estudam fenômenos da intersecção entre Comunicação e Esporte. A maior parte delas dialoga com temáticas invisibilizadas no âmbito do esporte – como questões de gênero, raciais e sociais. Quando ocorre um caso de preconceito, analisamos esse processo através de estudos que combinem a base teórica utilizada no grupo com outras perspectivas práticas. Assim, produzimos conteúdos que visam compreender melhor como essas dinâmicas de opressão ocorrem no esporte.
A pesquisadora ainda aponta possíveis intervenções para amenizar o problema: “Primeiro é preciso pontuar que preconceito é crime e deve ser tratado assim. Além disso, punições que envolvem o esporte precisam combinar medidas imediatas com processos educativos que auxiliem a impedir novas ocorrências, como programas de conscientização, workshops, campanhas educativas, cartilhas e outras medidas”, explicou.
Diante disso, fica evidente que o combate ao preconceito precisa de mais apreço e espaço na grande mídia, para que possamos diminuir esses casos. A intolerância tem se mostrado presente e os meios nos quais a luta contra ela são realizados, não só no esporte mas também no dia a dia, devem estar no foco das pessoas e ser de fácil acesso e visibilidade.
“O meu desejo é que acabe, porém acho que ainda é muito difícil. As pessoas de um jeito ou de outro tentam atingir o ser humano nas fraquezas, e para ser sincero a fraqueza do povo preto sempre vai ser a cor, e como forma de abalar o outro é muito difícil que tenha um fim”, pondera Gui Negão.
Edição: Murilo Sacardi
Orientação: Profa. Karla Ehrenberg
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