Destaque
Movimento de resistência busca ocupar lugares e discussões sobre uma minoria que se expressa através da dança
Por Gabriela Moda
As batalhas de dança da cultura hip hop desempenham um papel de resistência na sociedade. Ganhando cada vez mais espaço e ocupando lugares que antes não ocupavam, como as Olimpíadas, as batalhas carregam a história de pessoas que dançavam para protestar e resistir. As battles, como são chamadas, abrem espaço para que outros artistas também tenham um lugar para se expressar, como DJ’s, MCs e dançarinos de danças urbanas de forma mais ampla.
As battles, responsáveis por um impacto social e político, buscam visibilidade, credibilidade e respeito em uma sociedade que ainda carrega resquícios de preconceito com essa cultura.
Marcos Costa ou Marqin, como é conhecido no cenário artístico, participa de batalhas desde 2009 e comenta que as battles surgiram no Bronx em Nova York em meados dos anos 70. As batalhas que inicialmente eram de breaking, tinham o objetivo de apaziguar alguns conflitos territoriais entre a comunidade negra e latina da região. Essas manifestações culturais, sociais e políticas foram ganhando espaço de acordo com o crescimento do número de campeonatos, fazendo com que a cultura se disseminasse em diferentes países através de DVDs, que permitiam a outros dançarinos aprender novos movimentos e se encontrar para trocar conhecimento.
Hoje, esses encontros entre artistas ainda enfrentam desafios, como explica Ary Matté, organizador de batalhas, como a Breaking House Party, na cidade de Campinas. “A parte mais desafiadora de organizar as batalhas é conseguir criar um formato que possa receber diferentes estilos e não só o breaking. Unir pessoas de diferentes vertentes da dança em locais mais acessíveis e mais confortáveis é uma das questões mais difíceis que eu enfrento hoje”, comentou Matté.
Os desafios que permeiam a organização das batalhas são: se adaptar a novos formatos, a divulgação dos encontros, a escolha de jurados para cada batalha, escolher DJs que entendam os diferentes estilos de dança, para tocar de acordo com o que cada vertente necessita em questão de musicalidade. A chegada do breaking aos jogos Olímpicos de 2024 também fez com que mudanças e novos formatos fossem impulsionados devido a maior visibilidade e o interesse das pessoas em participar de encontros como esse.
Ouça a explicação de Marcos Costa, o Marqin, sobre o contexto das batalhas.
Jymmi Klaytom Santos começou a se interessar pelas batalhas ao frequentar eventos de dança e enxergar uma oportunidade de sair da zona de conforto, mesmo com o medo do julgamento. As battles sempre tiveram um caráter de resistência de povos que são minoria e por mais que hoje a participação nesses encontros seja mais ampla, a maioria dos dançarinos ainda carrega esse viés de pertencimento e resistência em sua dança. “A vontade de ser alguém está atrelada à luta do meu povo, das minorias, dos oprimidos dentro da sociedade, que sempre buscam ser o melhor num ambiente que muitas vezes é desigual” comentou o artista.
Os dançarinos que batalham também enfrentam uma série de dificuldades, principalmente quando falamos da minoria que hoje divide espaço com outros artistas que não fazem parte desse grupo de pessoas. “Tudo que vem do preto é olhado pela sociedade como algo de segunda classe, algo marginalizado. Infelizmente, esse buraco é muito mais embaixo do que a gente pensa!”, afirmou o dançarino.
Os DJs desempenham papel importante, pois são eles que conduzem as batalhas, a energia dos dançarinos e do público presente. Ocupando uma posição de influência nesses encontros, os DJs são capazes de se posicionar politicamente através da escolha das músicas que são tocadas em uma battle, uma vez que a faixa escolhida está diretamente ligada à expressão corporal e facial do artista que está batalhando.
“Ter posicionamento político em um meio onde se protesta e luta pelos mais vulneráveis é algo de extrema importância, não se faz justiça estando em um posicionamento neutro, se posicionar é importante”, afirma o produtor musical e DJ Alisson Lobo, conhecido como Mazatik.
As batalhas ainda têm um longo percurso pela frente quando falamos em ocupar espaço na sociedade, acabar com o preconceito que se tem sobre essa cultura e principalmente ser reconhecido como um movimento que tem um impacto político e social capaz de facilitar diálogos.
Confira neste vídeo como funciona uma batalha de dança!
Orientação: Profa. Karla Ehrenberg
Edição: Bianca Freitas
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