Destaque

Negacionismo climático desafia a cobertura jornalística 

Rápida disseminação de teorias da conspiração e desinformação são grandes obstáculos para a comunicação científica 

Por Felipe Barbosa de Souza, Julia Ferreira de Araujo e Rafael Silveira Choairy 

Editor-chefe da revista Questão de Ciência, Carlos Orsi, diz que a imprensa que tenta equilibrar opiniões científicas e negacionistas compromete e responsabilidade do jornalismo (Foto: acervo pessoal)

“A cobertura que ignora a base científica não é jornalismo; é espetáculo,” afirmou Carlos Orsi, editor-chefe da revista Questão de Ciência. Segundo Orsi, que é também autor de livros de divulgação científica (confira aqui), o fenômeno da falsa equivalência, em que parte da imprensa tenta equilibrar opiniões científicas e negacionistas, compromete a responsabilidade jornalística ao criar uma percepção distorcida de consenso. “Hoje esse problema persiste de forma menos explícita, mas ainda reforça a importância de contextualizar os fatos de maneira precisa, sem abrir espaço para a desinformação”, acrescentou. 

O negacionismo climático, historicamente enraizado em interesses econômicos de setores como os combustíveis fósseis, permanece um desafio. Empresas desses setores, explica Erica Mariosa, jornalista especializada em ciência, exercem influência sobre a cobertura climática. “O papel das corporações em moldar a narrativa midiática é frequentemente subestimado. Muitas delas patrocinam campanhas publicitárias e fazem uso de estratégias de ‘greenwashing’,” afirma Erica Mariosa, jornalista especializada em ciência. Greenwashing é uma estratégia de marketing em que empresas promovem, de forma enganosa, uma imagem de sustentabilidade e compromisso ambiental, ocultando os impactos reais de suas atividades. Segundo Mariosa, esse tipo de abordagem visa suavizar a crítica pública, enquanto os interesses econômicos continuam a influenciar a cobertura climática, desafiando a transparência e a precisão jornalística. 

“O papel das corporações em moldar a narrativa midiática é frequentemente subestimado. Muitas delas patrocinam campanhas publicitárias e fazem uso de estratégias de ‘greenwashing’” (Foto: arquivo pessoal)

Na era digital, a rápida disseminação de teorias da conspiração e desinformação dificulta a comunicação científica. David Lapola, pesquisador do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura), da Unicamp, explica que as redes sociais permitem a amplificação de informações incorretas, afetando o entendimento público e a ação política sobre temas ambientais urgentes. “Muitas vezes, o desafio está em comunicar as incertezas naturais da ciência sem que isso fortaleça discursos negacionistas,” ressalta Lapola, pontuando a importância de uma linguagem precisa e acessível. 

O jornalismo enfrenta o desafio adicional de combater a “infodemia” que inunda o público com informações falsas ou manipuladas. Para Orsi, as redes sociais oferecem um espaço de adaptação da linguagem científica, mas também exigem estratégias visuais mais engajantes, como infográficos e vídeos, que possam combater a desinformação de forma direta. A responsabilidade dos veículos de comunicação é clara: além de informar sobre a crise climática, é preciso desmentir mitos e influências corporativas, promovendo uma narrativa que estimule o público a agir frente à urgência ambiental. 

Edição: Mariana Neves
Orientação: Prof. Artur Araújo


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