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‘Samba da Tia Rê’ é patrimônio cultural de Valinhos

Projeto visa ressignificar o samba raiz e arrecadar alimentos para doação

Por: Nicole Nikaia e Lizandra Kelly

A terra natal de Adoniran Barbosa, Valinhos, possui um patrimônio cultural imaterial: o Samba da Tia Rê. Trata-se de um projeto fundado em 2014 pelo grupo Versá, composto por dez músicos que visam resgatar o samba raiz na cidade. Com mais de 65 edições, as rodas de samba costumam reunir mil pessoas por noite, arrecadando entre 300 e 400 quilos de alimentos para entidades sociais.

Integrantes do grupo Versá numa das últimas edições do Samba da Tia Rê (Foto: Nicole Nikaia)

O Samba da Tia Rê surgiu através da criação de um grupo de meninos que eram alunos da Escola de Samba Arco Íris. O grupo desfilou junto entre 1998 e 2002. Em 2011, eles voltam a tocar juntos com o projeto ‘Samba do Xereré’, em Valinhos. Nesse cenário, uma figura se destaca: Regina Jesuíno, conhecida carinhosamente como Tia Rê. Enfermeira no Hospital da Mulher da Unicamp, onde cuidava de pacientes com câncer, Tia Rê era uma frequentadora assídua das rodas de samba do grupo. Com seu falecimento em 2012, o grupo decide fazer uma homenagem e cria, em 2014, o samba que leva o nome de Tia Rê.

Segundo Marina Jesuíno, filha de Regina, o que sua mãe mais amava além da música era ajudar as pessoas. “Ela sempre dizia: o canto é a minha forma de levar alegria para as pessoas”, conta. Para manter a essência solidária de Regina, o evento não cobra entrada, apenas a contribuição voluntária de um quilo de alimento em prol das entidades da FEAV (Fórum das Entidades Assistenciais de Valinhos). Hoje, as reuniões acontecem mensalmente no bairro Vila Santana, no estabelecimento Valinhos Chopp.

Fabrício Bizarri, de 39 anos, é líder do grupo Versá e explica que a iniciativa tem como objetivo promover a ressignificação do samba raiz através da interpretação de grandes nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, João Nogueira e Adoniran Barbosa, que tem grande vínculo cultural com a cidade. O bairro Capuava, onde Adoniran nasceu em 1910, fica próximo ao local dos encontros do Samba da Tia Rê. “Com idades entre 30 e 40 anos, nosso grupo traz uma nova roupagem ao samba, substituindo instrumentos tradicionais por outros mais atuais, como o cavaquinho e o violão de sete cordas”, explica Fabrício.

Imagem de São Jorge doada por Marina Jesuíno. (Foto: Nicole Nikaia)

O projeto também faz homenagem a São Jorge, santo guerreiro muito apreciado pela Tia Rê. A imagem de São Jorge, doada pela filha de Regina, é um dos principais símbolos do grupo e os acompanha em todas as reuniões. O legado e o amor pelo samba foi passado de geração a geração. Marina Jesuíno é atualmente uma grande admiradora do Samba do Tia Rê e está sempre presente nos encontros. O evento, que atrai pessoas de diversas cidades, é motivo de orgulho. “É ótimo ver como o projeto cresceu, porque é um projeto social que é a cara dela”, ela diz.

Marina compartilha que o samba sempre esteve presente na vida de sua família e ainda se lembra das histórias que a mãe contava, de quando ainda estava grávida e participava das rodas de samba. “O samba vem do berço. E literalmente, do ventre”, conta. Além de ser uma admiradora, ela conta que é uma grande amiga dos integrantes do grupo Versá. “Até hoje tenho convívio com os meninos do samba, que minha mãe viu crescer desde o início, alguns deles são amigos de vida. E o samba da Tia Rê é mais que um samba, somos amigos, o projeto é uma extensão da minha família”, afirma.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Giovanna Sottero


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