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Em minoria na Câmara, mulheres querem mais assentos em 2024

Partidos de Campinas se preparam para eleger vereadoras nas eleições

Por: Lizandra Lima e Washington Coutinho

Em ano de eleições municipais, a representatividade feminina na política ainda é um problema na maioria das cidades brasileiras. Em Campinas não é diferente, apenas 12% dos assentos da Câmara de Vereadores são ocupados por mulheres na atual legislatura. Apesar de quatro eleitas ter sido um recorde alcançado no pleito de 2020, esse número ainda é baixo se comparado à população feminina da cidade, cerca de 51,5%, segundo o Censo 2022 do IBGE.

“Sabemos que este ano eleitoral pode ser desafiador”, diz Suzana Rosa, Presidente Municipal do União Brasil Mulher. De acordo com Suzana, explorar melhor as chamadas “cotas de gênero” é uma opção viável, pois “elas têm sido uma ferramenta importante para aumentar a representatividade feminina na política”. Em fevereiro de 2024 os ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), aprovaram uma resolução contra as “candidaturas laranjas femininas”, onde será considerada fraude a candidatura da vereadora que ter votação pífia ou zerada. Na última eleição, nove dos últimos 10 colocados à disputa da Câmara campineira eram mulheres, que obtiveram entre seis e zero votos.

O Legislativo municipal, onde 29 das 33 cadeiras são ocupadas por homens, tem dificuldades em relação a pautas voltadas ao público feminino. Em 2023 um Projeto de Lei de autoria do vereador Nelson Hossri (PSD) sugeria a proibição da participação de mulheres trans em competições esportivas femininas, na contramão do entendimento do COI (Comitê Olímpico Internacional) que proíbe a exclusão de participantes de eventos esportivos por motivo de “status de transgênero”. Após grande repercussão e críticas, a proposta foi retirada da pauta a pedido do relator. Guida Calixto (PT) diz que as dificuldades também se estendem as vereadoras durante a execução do mandato, “como historicamente os homens sempre ocuparam o espaço de poder eles tem avesso a nossa presença”

Eleições 2024

O pleito deste ano tem o desafio de aumentar o número de mulheres com voz na Câmara Municipal de Campinas. Dos 19 partidos com representantes eleitos em 2020, apenas três elegeram vereadoras: PT: 2 (Guida Calixto e Paolla Miguel); PSC: 1 (Débora Palermo) e PSOL: 1 (Mariana Conti).

Partidos como PSB, União Brasil e Republicanos, que juntos somam atualmente 13 vereadores, disseram que eleger mais mulheres é uma das prioridades do pleito de outubro.

“Nosso objetivo é ter o maior número possível de candidatas eleitas, são 24 homens e 10 mulheres o número de pré-candidatos de nosso partido”, diz Rosana Gonçalves, Coordenadora Municipal de Mulheres no Republicanos, partido do prefeito Dário Saadi.

“O União Brasil planeja lançar 34 candidaturas à Câmara, sendo 10 femininas”, “Tenho como objetivo fazer com que, pela primeira vez, uma mulher do União ocupe uma cadeira no Legislativo da cidade”, diz Suzana Rosa, Presidente Municipal do União Brasil Mulher.

A secretária estadual do PSB-SP, Ariana Paula, afirma que o partido busca auxiliar na desconstrução de práticas que diminuam os espaços da igualdade de gênero e sugere “a garantia da reserva de cadeiras para as mulheres nas Câmaras de Vereadores para de fato ocuparmos os espaços de poder e assim contribuir efetivamente para uma sociedade mais justa e igualitária”, completa.

O presidente do Avante em Campinas, Valdeir Lucchiari, também disse que o objetivo do partido é eleger pelo menos uma mulher em outubro. Segundo ele a principal dificuldade de investir em candidaturas femininas estão relacionadas a recursos para capacitação de candidatas, “os diretórios nacionais e estaduais dos partidos liberam só 30% a mais por cada candidatura feminina, eles deveriam pensar com mais carinho em relação a esses recursos pois é muito difícil montar as chapas com mulheres preparadas, a maioria dos partidos lançam candidatas inviáveis só para cumprirem as regras e poderem lançar mais homens”.

Dificuldades ideológicas

Suzana Rosa (UNIÃO) afirma que visões ideológicas também são um empecilho para o apoio a mais mulheres na política. “Mulheres dos partidos de centro-direita podem enfrentar dificuldades internas, como percepção de Viés de Gênero, cultura que favorece homens em posições de liderança e influência, estereótipos de papel de gênero, equilíbrio entre trabalho e família”, relata.

Em 2022, o PRTB formulou um pedido de cassação contra Guida Calixto (PT) por distribuir em escolas públicas a história em quadrinhos “Territórios Negros” que contém a frase “fogo nos racistas”. De acordo com o partido, a vereadora quebrou o decoro parlamentar por incitar a violência. De acordo com Guida, os argumentos das tentativas de cassação que endereçam a ela e outras vereadoras são absurdos e não ocorrem com homens. “Nós mulheres temos que estar a todo tempo sendo provadas”. A parlamentar diz que eleger mais mulheres pode ser apenas o primeiro passo rumo à inclusão feminina na política. “É preciso entender o que seu partido defende e que inclua as mulheres, como por exemplo defender a saúde, porque nesse setor existem pautas que incluam a participação feminina e que olham para as mulheres”, explica.

Mulheres e a vida política

Vereadora Guida Calixto (Foto: Arquivo Pessoal)

As dificuldades perduram por toda a vivência política, a vereadora Guida Calixto (PT), eleita com 3.645 votos em 2020, ocupa uma das quatro cadeiras na bancada da Câmara Municipal de Campinas. No entanto, relata como é viver essa minoria representativa. “Quando eu subo para me posicionar o vereador fala que eu não sei do que estou falando, não li sobre, cita os outros mandatos que já teve e quer dar carteirada” e acrescenta: “tem ofensas, tentativa de silenciamento, apelidos pejorativos, o ‘Grita Calixto’ é como me chamam quando me posiciono fortemente. Além das tentativas de cassação, eu recebi duas e a Paolla do mesmo partido uma, então dentre cinco tentativas de cassações três são contra vereadoras. E sempre com argumentos absurdos”, denuncia.

Devido à problemática, conforme a vereadora, a presença das mulheres é importante em todo corpo político de representação para apoio feminino como menciona Guida. “As mulheres estão militando em espaços religiosos como liderança também, em conselhos de saúde, discutindo a educação pública para que as políticas públicas possam valer, além das mulheres sindicalistas”, afirma.

O engajamento político começou desde cedo na vida da vereadora, ela nasceu numa família que a política já era discutida e conviveu num ambiente que debatia as pautas sociais do bairro. Formada em direito e funcionária pública, participou de greves como servidora e em 2003 filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT).

Seu histórico relaciona-se com posicionamentos, pois dentro do partido representa demandas de interesse coletivo, mas não somente isso, de forma democrática, discute pautas para o bem comum. “Eu posso falar também da questão ambiental, saúde, educação e outros. Discuto no meu partido questões orçamentárias que incluem todos além de mulheres. O lugar de fala não pode interditar a discussão, então temos que poder falar sobre tudo e todos”, defende.

HQ Territórios Negros, faz mapeamento de territórios negros em Campinas, foi o material usado como tentativa de cassar o mandato de Guida Calixto (Foto: Divulgação)

Os projetos de Guida em seu mandato inclui assuntos diversos, em destaque a produção da HQ Territórios Negros, material didático anti-racista discute o conceito Milton Santos de territórios e as atribuições sociais através dele; Programa Mulher Viva voltado para mulheres em situação de violência doméstica e familiar, promove a autonomia financeira e geração de empregos e renda; Projeto de Lei que visa criar o Programa Municipal de Cozinhas Solidárias, com objetivo de combater a fome e a desnutrição, bem como promover a segurança alimentar.

“O quadro político tem que parar de ser representado apenas para gente rica e a classe média” reflete Guida sobre as barreiras desde a candidatura até o mandato numa conjuntura de apenas quatrlo representantes mulheres.


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