Ciência

Preguiça-gigante ajuda a desvendar um Brasil ancestral

Espécie encontrada em Apiaí, no Vale do Ribeira, viveu há 12 mil anos; estado de conservação foi considerado “bom”

Por Letícia Meneghel e Mariana Dadamo 

Úmero da Catonyx (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Há 12 mil anos, no que hoje é o município de Apiaí, no Vale do Ribeira, os restos de uma preguiça-gigante, conhecida pelo nome científico de Catonyx cuvieri, ficaram preservados em uma caverna de 15 metros de profundidade, conhecida na região como Abismo Iguatemi. Foram achados, em 1999, o úmero (braço), o rádio (antebraço) e uma falange (osso do dedo) do espécime, todos em bom estado de conservação. 

Esse fóssil da megafauna tem ajudado o cientista Artur Chahud, geólogo especializado em paleontologia do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo (USP), a decifrar o ambiente do Pleistoceno em que esse animal viveu. “A partir dos estudos dos ossos, é possível identificar diversas características do animal encontrado. Nesse caso, a preguiça-gigante era um jovem adulto, saudável, sem doenças, um animal robusto com cerca de 1,67 metro de altura. Porém, era extremamente largo de comprimento”, afirmou Chahud, que produziu em coautoria um artigo científico sobre o tema. 

Os restos do fóssil estavam guardados no acervo do Laboratório de Paleontologia Sistemática do Instituto de Geociências (IGc) da USP. Os fósseis ficam protegidos atualmente no Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH) do IB em uma caixa grande envolta de um plástico, em uma gaveta que parece uma biblioteca. Estão lá dentro bem protegidos, com temperatura e umidade controlada e agora outros pesquisadores podem também estudá-los. 

O pesquisador Artur Chahud e a estudante Gabriella Pereira analisando os fósseis da preguiça-gigante achados em 1999 (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Chahud explicou que há hipóteses de que a preguiça-gigante foi uma espécie que conviveu com humanos e que os Catonyx cuvieri, por serem grandes, viviam em ecótono (área de transição entre dois biomas): o encontro de ambientes típicos de cerrado com florestas densas. Há, entretanto, hipóteses divergentes sobre os ambientes onde a megafauna pleistocênica, como a preguiça-gigante encontrada, viveu. Essas divergências nas hipóteses são comuns em estudos paleoambientais, onde as evidências podem levar a múltiplas interpretações sobre os habitats antigos. No caso específico do Catonyx cuvieri, enquanto alguns estudos sugerem a existência de um ecótono no Vale do Ribeira de Iguape, outros podem sugerir variações nas condições ambientais ao longo do tempo, influenciadas por mudanças climáticas e outros fatores ecológicos. “Ainda tem coisas a serem feitas na ciência”, acrescentou o pesquisador. 

Artur Chahud em entrevista online direto do laboratório da USP (Foto: Letícia Meneghel)

No artigo em que o cientista é coautor, o texto destaca que a preguiça-gigante morreu provavelmente de forma acidental: “O estudo da megafauna e datações realizadas com o espécime aqui descrito e outras espécies extintas da região sugerem uma potencial convivência do mesmo com grupos humanos. Contudo, não foi encontrada evidência de atividades humanas nos ossos, como cortes ou partes queimadas, sugerindo que o indivíduo deve, provavelmente, ter caído no depósito, que teria agido como uma armadilha natural”. 

De acordo com Chahud, esse tipo de pesquisa de fósseis é fundamental para a ciência. “O estudo detalhado desses fósseis nos permite entender melhor a fauna que habitava a região durante o Pleistoceno, as condições ambientais da época e os fatores que podem ter levado à extinção dessas espécies. Além disso, a preservação excepcional desses ossos oferece uma rara oportunidade de estudar a morfologia e a biomecânica desses animais em grande detalhe”, acrescentou.  

Orientação: Prof. Artur Araújo
Edição: Mariana Neves


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