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Não há pontos positivos na nova reforma educacional, diz pedagoga Andreza Barbosa
Por: Isabela Silva e João Gabriel freire
O novo ensino médio é uma reforma educacional que visa uma transformação na estrutura e no ensino do Brasil, tendo como objetivo modernizar o sistema educacional do país, tornando-o mais dinâmico, flexível e adaptável para os estudantes. O processo para essa mudança começou com uma Medida Provisória aprovada pelo governo de Michel Temer em 2016, que depois foi convertida em lei em 2017 e começou a ser implementado no estado de São Paulo em 2021.
Essa lei trouxe a diminuição da carga horária do currículo de formação básica geral que o antigo ensino propunha. Ou seja, cortaram matérias como física, química, filosofia, sociologia, entre outras, trazendo à tona os novos componentes curriculares chamados itinerários formativos, no qual português e matemática são as disciplinas de base, abrindo a possibilidade de supostamente os estudantes escolherem o que gostariam de estudar, de acordo com os seus interesses.
Para a pedagoga e pesquisadora em políticas educacionais Andreza Barbosa, “suspostamente, segundo a lei, as escolas tinham que oferecer dois itinerários formativos, porém escolas vão oferecer os itinerários de acordo com a sua condição. Então essa escolha por parte dos alunos é bem fictícia”.
Segundo a pesquisadora, sempre houve uma dualidade no ensino médio entre formar os alunos para vestibular ou para o trabalho, acarretando uma taxa de evasão e reprovação na educação básica. Logo, o novo ensino médio viria para resolver esses problemas, sendo mais atrativo para os estudantes e estimulando-os a estudar. Mesmo que não quisessem fazer o vestibular, os alunos poderiam sair das escolas com um conhecimento mais técnico.
Porém, apesar de o plano do novo ensino médio ter uma parceria com a Novatec, programa que oferta cursos técnicos para os jovens de rede pública, ele não cumpre o prometido. “As escolas que oferecem parceria com a Novatec não podem ser consideradas escolas com formações técnicas, por conta da carga horária. Então é muita enganação, pois é vendida uma ideia de um curso técnico que jamais será reconhecido”, afirma a pesquisadora Barbosa.
Insegurança para os Vestibulares
A estudante que passou pela transição do antigo para o novo ensino médio, Maria Eduarda Couto, diz: “o novo ensino médio mais bagunçou do que ajudou. Eu não senti firmeza nas novas matérias que entraram. Então, para mim, foi realmente uma bagunça”.
A proposta do novo ensino é reprovada pelos estudantes, pois eles se sentem despreparados para os vestibulares, principalmente para o Enem. De acordo com uma pesquisa feita pelo GEPUD (Grupo Escola Pública e Democracia), 85,0% dos estudantes afirmaram que não se sentem preparados para o exame ou para outros vestibulares. “Os pontos bons do antigo ensino médio eram os preparatórios para os vestibulares. Acredito que nós tínhamos uma base melhor para se preparar”, diz Cleber Junior, estudante que passou pela transição do antigo para o novo ensino médio.
Além da insegurança para os vestibulares, os estudantes de escolas públicas se sentem inferiores aos de escola privada. “A maioria das escolas privadas mantiveram a carga horária da formação geral básica e colocaram no contraturno ou por meio de plataformas digitais os itinerários formativos. Então, para eles, não perderam nada”, afirma a pesquisadora Andreza. “Eu acho que eles sempre vão estar um passo à frente”, diz Rhayane, estudante do novo ensino médio.
Os estudantes de escolas públicas não conseguem estudar pelas plataformas digitais por conta do estilo de vida. “Praticamente 100% dos alunos são estudantes trabalhadores. Então, eles não conseguem entrar no Centro de Mídias (CMSP), pois não podem abrir mão de trabalhar para sustentar a família”, afirma Andreza Barbosa.
É evidente a precarização da educação após a implantação do novo ensino médio. “Se no antigo ensino a formação já era precária, agora ela é mais ainda, pois as possibilidades de uma formação mais ampla para os alunos do ensino superior da rede pública foram reduzidas”, diz a pedagoga Andreza Barbosa. “O diferencial para eu não ter passado em uma faculdade pública foi a falta das matérias básicas, tendo em vista um ensino em si já precário”, diz o estudante Cleber Junior.
Formação dos Professores
Outro fato que agrava a precarização do novo ensino é a falta de preparação dos professores. “O novo ensino só influenciaria a minha carreira se os professores soubessem dar as matérias conforme a grade. Alguns não sabem nem dar as matérias. Acredito que isso acontece porque eles não foram ensinados”, diz Rhayane Vitória, estudante.
Os professores são pegos de surpresa, pois não foram formados para dar aulas com os temas dos itinerários. “O curso de licenciatura em Ciências Sociais, por exemplo, continua formando um professor de sociologia. Porém, muitos professores não vão conseguir atuar nas suas áreas, pois vão ter que dar itinerários. Então não há uma formação ou preparo para isso”, afirma a pesquisadora Barbosa.
São muitos fatores que tornam o novo ensino médio uma proposta ruim. “A proposta do novo ensino médio é boa, mas no papel, porque na prática ela não funciona”, diz Vitória Pereira, estudante do novo ensino médio. “Para mim, o novo ensino médio não possui nenhum ponto positivo”, conclui a pesquisadora Barbosa.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Giovanna Sottero
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