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Livreira de Campinas propõe a dessacralização do livro

Patricia Meira, especialista em literatura infantil, organiza evento para construção de pequenos leitores

Por: Bruna Azevedo

Nos dias 13, 14 e 15 de junho será realizado o Criançando, evento gratuito de literatura infantil que conta com a organização de Patricia Meira, livreira campineira que carrega uma bagagem de 20 anos no universo da literatura infantil. A programação será na Biblioteca Municipal Professor Ernesto Manoel Zink, das 11 às 18 horas quando serão realizadas palestras, sessões de autógrafos com autores, feira de livros e contações de histórias. Será um evento voltado para as crianças, porém, o público adulto também é convidado. Esse é apenas um dos projetos literários nos quais Patricia está envolvida. No período da pandemia Patricia ficou desempregada, e decidiu criar seu sebo online, Capítulo 2, contando inteiramente com seu acervo pessoal de mais de três mil livros infantis. Além disso, a livreira atua de modo presencial na livraria Candeeiro, desde 2023. “Tenho uma relação muito íntima com os livros, costumo dizer que eles salvaram a minha vida. Leio desde os cinco anos de idade”, diz a livreira.

Patricia Meira apresenta a obra “Em frente à minha casa” de Marianne Dubuc como uma celebração à imaginação da criança (Foto: Bruna Azevedo)

Patricia é livreira há 20 anos, desde que resolveu mudar os rumos de sua vida profissional, já que havia se formado em gastronomia, e durante um passeio pela Livraria Cultura de Campinas refletiu sobre seguir sua paixão, os livros. “Isso foi uma mudança de vida. Desde então, fui me encantando pelo universo da literatura infantil, fui estudando muito e aprendendo com os melhores professores de literatura infantil do Brasil”, conta Patricia.

A profissional explica a complexidade que gira em torno da produção de uma boa literatura infantil, por se tratar de um objeto muito abrangente, envolvendo ilustrações e textos. Além disso, o texto deve representar as ideias do autor em poucas palavras, tudo isso a fim de atrair a criança. “Tem um livro que eu adoro, chamado Em frente à minha casa, de Marianne Dubuc. Esse livro é maravilhoso por ser uma celebração à imaginação da criança. Com imagens simples e pequenas palavras. Fico encantada quando um autor consegue com poucas palavras dizer tanto”, acrescenta a livreira.

No seu dia a dia trabalhando em “chão de loja”, – como Patricia se refere ao atendimento presencial em lojas – na livraria Candeeiro, sua rotina consiste em organizar a parte infantil da livraria, atender aos clientes, realizar pedidos, devoluções, e organizar os eventos da agenda cultural. Patricia foi chamada para compor a equipe da livraria antes de sua inauguração. A proprietária, que foi sua cliente em outras livrarias, a chamou para selecionar o acervo infantil do projeto. “Nada desse setor infantil da Candeeiro entra aqui sem eu ter escolhido. Cada livro daqui eu já li. Não trabalho com algumas editoras. Eu trabalho somente com obras que respeitem a inteligência da criança. Minha ideia foi sempre buscar livros que respeitem a criança como um ser pensante”, diz Patricia.

Espaço Livraria Candeeiro apresenta acervo variado com programação de eventos culturais (Foto: Bruna Azevedo)

A livreira aborda a questão do hábito da leitura para as crianças, ao mencionar que o objetivo principal do livro infantil não é a formação de conhecimento, e sim a diversão do leitor, a fim de torná-lo íntimo daquele objeto. “Se eu dei um livro para uma criança e ela saiu do ambiente em que está, seja esse um ambiente saudável ou não, e essa criança acaba se transportando para aquele livro, por quinze ou trinta minutos, meutrabalho já está feito.

O objetivo do livro é esse”, diz Patricia. Sob sua perspectiva, para além da construção desse hábito, a escolha da criança deve ser levada em consideração, visto que, cada uma terá preferência por algum gênero de livro diferente. Entretanto, a literatura não de acesso igualitário à todas as crianças, e a democratização do livro deve ser pautada. Segundo Patricia, os livros de sebos podem chegar a custar 70% menos do que nas livrarias, apresentando extrema relevância por ser mais acessível, além de ser uma ode a economia circular. Nesse sentido, a livreira fala sobre a sacralidade da leitura, “O livro tem que perder o conceito de sagrado. Essa noção de que o livro é só para quem tem dinheiro, ou curso superior. E que as pessoas não tenham medo ou constrangimento ao entrar em uma livraria em um bairro chique como esse. Então, para tirar esse sagrado do livro, ele deve estar onde as pessoas estão.”

Ulysses Semeghini, visitante ávido da Candeeiro, indica o livro “Flâneuse” de Lauren Elkin (Foto: Bruna Azevedo)

Ulysses Semeghini, de 76 anos, professor de economia aposentado na UNICAMP, é um cliente fiel do estabelecimento. “Eu moro no Cambuí, e gosto muito daqui, mas sempre se ressenti um ponto cultural na região. E acho que essa livraria está cumprindo esse papel. Espero que se mantenha. O aluguel no Cambuí é caro, e os estabelecimentos comerciais abrem e fecham continuamente. Essa livraria é uma das únicas de Campinas com o acervo diversificado que vai muito além dos best-sellers”, conta Ulysses. O cliente comenta brevemente sobre uma obra intitulada Flâneuse de Lauren Elkin, que encontrou no vasto acervo da Candeeiro. O termo “flâneur” usado no livro foi popularizado pelo escritor francês Charles Baudelaire em seu ensaio O pintor da vida moderna. “Flâneuse é uma pessoa que caminha sem destino pela cidade, a relação da pessoa é com a cidade. Essa autora faz uma versão feminina disso. Ela resgata coisas interessantes da cidade, pega os trajetos que Virginia Wolf fazia em Londres, e faz a mesma coisa com Jorge Sandi, em Paris. Ainda estou na metade do livro, mas já recomendo”, conta Ulysses.

Por outro lado, a professora da Universidade do Vale do Sapucaí, Roberta Gaio, de 64 anos, achou, por um acaso, o espaço da Candeeiro. Ao tomar um café no bairro do Cambuí caminhou pelas ruas e se deparou com a livraria. “Hoje eu comprei uma coleção da Simone Beauvoir, O segundo sexo. Eu venho estudando e trabalhando com uma temática envolvendo mulheres, poder e história. Eu adorei a livraria. É um espaço de conhecimento, de divulgação artística, trabalhos infantis. Entrei por causa de um livro de gatos, que adoro, sou gateira. E acabei encontrando livros de editoras que não conhecia, com uma pegada bem artística nas capas. Além disso, há uma valorização de autores e autoras campineiras”, diz Roberta.

Orientação: Prof. Gilberto Roldão

Edição: Giovanna Sottero


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