Cultura & Espetáculos

Exposição condena exploração predatória da terra

A Carne de Gaia promove uma reflexão sobre a relação do ser humano com a biosfera

Por: Maria Luiza Machado

A pintura acrílica sobre a tela intitulada de “O deus das mercadorias” retrata o ciclo de extração do ouro, atividade econômica que desgasta o solo e é objeto de críticas pela artista (Foto: Maria Luiza Machado)

Cada detalhe da exposição foi planejado a fim de gerar uma reflexão no público sobre a intensa exploração dos recursos naturais brasileiros, focando principalmente no bioma da floresta amazônica, região estudada pela artista Beá Meira. A instalação, que ocupa os dois andares do Instituto Pavão Cultural, com tapeçarias, litografias, monotonias e pinturas acrílicas sobre o papel e a tela estará disponível a visitação até o próximo dia 29 de junho. Todo o projeto partiu de um trabalho em equipe entre a artista Beá Meira, a curadoria, as artistas convidadas, a arquiteta Teresa Mas Santacreu e funcionários da galeria de arte.

Susana Oliveira Dias, descreveu o trabalho dela como algo leve, tranquilo e livre de qualquer desentendimento. As decisões foram tomadas coletivamente entre os colaboradores da exposição, inclusive por funcionários Organização da Sociedade Civil (OSC) que auxiliaram a posicionar as obras no espaço. A curadora disse que não se sentiu sobrecarregada por ser a única curadora responsável por concretizar e divulgar as obras críticas ao manejo destrutivo da terra, visto que costuma participar de discussões similares as propostas em A Carne de Gaia.

Segundo Beá Meira, o Caderno de Estudos da Carne de Gaia reflete as experiências que teve ao visitar a Amazônia e interagir com os nativos da região (Foto: Maria Luiza Machado)

As abstrações compartilhadas por ambas as mulheres descrevem um mundo sustentável a partir de uma economia menos agressiva e devastadora, onde grandes empresas não estejam apenas preocupadas com o resultado financeiro de suas ações, mas também com o processo pela qual são feitas as mercadorias vendidas. Para aprimorar o projeto e dar lugar de fala aos mais afetados pela ocupação indevida da terra, foram feitas reuniões com alguns dos indígenas que frequentam a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) para conversarem sobre a Carne de Gaia e ajudar a artista na nomeação das obras. Segundo Beá Meira, a estadia dela na Amazônia contribuiu para expandir a própria mente, mas precisou se aprofundar ainda mais na cultura das mulheres indígenas convidadas por haver algumas divergências entre os nativos amazônicos e os da região de Campinas.

A cultura indígena foi a base para a realização do trabalho por abordar uma corrente filosófica contrária ao sistema capitalista e individualista, sendo retratada ao longo da exposição por obras feitas pelas artistas indígenas convidadas (Foto: Maria Luiza Machado)
Cada ficha do material gráfico disponibilizado está preenchida na frente e verso por informações e reflexões sobre as obras (Foto: Maria Luiza Machado)

Rayane Barbosa Kaingang, Larissa Ye´pa e Claudia Baré são as artistas indígenas convidadas para a exposição, todas elas são originarias de povos diferentes, algo que reflete nas visões de mundo e tradições que possuem. A professora amazonense, Claudia Baré, quem detalhou as colaborações das demais artistas. Elas foram responsáveis por compartilhar conhecimentos e lendas culturais próprias de suas comunidades, assim como opinar na escolha das obras e produzir artes voltadas para alguns povos indígenas.

Claudia disse que “todos” os públicos deveriam visitar a instalação, não apenas os grupos interessados nessa problemática, já que, “a preservação da natureza é um dever de todos” e apesar de não ser possível falar sobre os biomas brasileiros sem mencionar a população indígena, é necessário que haja mais interesse e ações sociais voltadas para sustentabilidade.

Abaixo, o áudio da entrevista com a artista Beá Meira falando sobre o processo criativo da exposição:

De onde surgiu a ideia?

Para a artista Beá Meira é fundamental que sejam feitas exposições de arte no interior com o intuito de tornar a arte acessível para quem mora longe dos grandes centros urbanos, ela afirma que deu preferência para a cidade de Campinas por ter visitado e aprovado o Instituto Pavão Cultural na companhia de outros artistas antes de produzir A Carne de Gaia, além de facilitar a parceria com a curadora Suzana.

A instalação Biosfera traz uma reflexão sobre todos os elementos que cercam e pertencem ao planeta Terra, enfatizando a fragilidade e complexidade do meio ambiente (Foto: Maria Luiza Machado)

“Eu moro em São Paulo, aqui, todo mundo sabe tudo. Tem exposições sobre todos os temas, todos os lugares…as melhores exposições do Brasil você vai ver aqui”, diz Beá sobre as razões de não ter cogitado realizar essa exposição na Grande Metrópole Nacional. De acordo com a ilustradora, o público-alvo da produção artística são os jovens do interior, em função disso, o próximo município a receber a exposição será Botucatu-SP.

Certamente, a quebra das barragens da VALE em Mariana-MG contribuiu para despertar um olhar crítico em Beá com relação ao modo de vida humano. Segundo a artista, foi possível ver o Rio Doce sendo carregado pela lama enquanto viajava a trabalho até uma região próxima a ele. Nessa época, a também autora de livros educativos estaria produzindo um novo material didático sobre arte para crianças e adolescentes e se emocionou ao ver o tamanho do prejuízo da população local. A partir daí surgiu a ideia de se colocar no lugar da terra.

”Eu tentei uma experiência radical de alteridade sabe, me colocar no lugar da terra…eu sou a terra, sabe?…a terra que é ferida pela mineração, a terra que é queimada pelo desmatamento, o rio que é canalizado e enfiado dentro de um mineroduto…”, diz a pintora.

O abaixo assinado da ONG Amazônia de Pé vem sendo divulgado pelas organizadoras do evento por reforçar os ideais da instalação artística (Foto: Maria Luiza Machado)

O posicionamento e inserção da estrutura Biosfera foi direcionado pela fundadora do Instituto, Teresa Chaves de Mas Santacreu, quem colaborou para finalizar algumas especificidades. O objetivo da obra é gerar uma reflexão no observador sobre a vida no planeta, desde as águas mais profundas até a camada de gases que cobrem a Terra. “Na verdade, a obra não é nem a pintura que tá em cima, nem a pintura que tá no chão do tapete, a obra é a biosfera, é o que tá entre uma e outra”, esclarece Beá Meira.

Foram espalhadas fichas contendo fotos, textos e detalhes das obras nos dois andares da instalação com o propósito de incentivar o visitante a observar todas as criações e montar seu próprio material gráfico, podendo até mesmo carimbar as últimas páginas com figuras presentes nos quadros.

Ao final da exposição, encontra-se uma mesa com uma prancheta preenchida com folhas sulfite, solicitando que uma petição da ONG Amazônia de Pé seja assinada fisicamente para preservar a floresta. Os organizadores do projeto propõem que as comunidades indígenas, quilombolas e unidades de conservação sejam os novos responsáveis por proteger o bioma e enfatizam no texto que precisam alcançar pelo menos 1 milhão de assinaturas físicas para enfrentar a oposição.

Abaixo, o vídeo da entrevista com a artista Beá Meira:

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Isabela Meletti


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