Ciência
O empreendedor Ubiratan Bizarro conseguiu fazer do seu negócio um instrumento de inclusão
Por Caio Santos, Giovana Viveiros e Renan Fiorentini
“Bira” é o apelido pelo qual é chamado Ubiratan Bizarro Costa, morador de Sumaré (SP) e designer de produtos em seu empreendimento, a Bizarro Design. Para quem não o conhece, o estranhamento que a palavra “Bizarro” pode causar é substituído rapidamente por admiração, afinal, seu principal produto é um acessório de inclusão. A trajetória de Bira é marcada pela criatividade e ganhou projeção nacional e internacional em 2020.
Bira e sua criação, as Luvas Extensoras Biônicas, permitiram que o maestro João Carlos Martins voltasse a tocar piano, após enfrentar diversos problemas nos dedos das mãos e, devido a uma cirurgia para solucionar as dores, perder os movimentos. Sem contato com o maestro, Bira criou o primeiro protótipo da luva e apresentou a Martins durante um concerto em Sumaré, dias antes do Natal de 2019. O projeto foi aperfeiçoado e permitiu que o maestro tivesse um grande recomeço na carreira.
Com esse nome, “Luvas Extensoras Biônicas”, elas podem até parecer acessórios das mais estranhas ficções científicas; no entanto, são totalmente mecânicas e não possuem motores, baterias, micro computadores, controladores ou produzem força. A ideia surgiu enquanto assistia televisão: uma matéria sobre o maestro despertou o senso criativo de Bira, que logo projetou as luvas e deu a ele. O que era um presente pontual tornou-se um produto de inclusão que auxilia no cotidiano, devolvendo a autonomia dos usuários, e que também pode ser utilizado na fisioterapia, como no caso do chef de cozinha e apresentador Edu Guedes, que as utilizou durante a recuperação após um acidente.
Atualmente, as “Luvas do Maestro”, como foram apelidadas após a repercussão do caso, tornaram-se o principal produto de Bira e são fabricadas em uma pequena produção em série. Com um olhar atento às necessidades do próximo, o designer segue colocando as mãos na massa e se dedicando ao design de produtos que promovam a inclusão. Seus próximos lançamentos serão voltados para deficiência física e motora, auxiliando pessoas com dificuldades para andar, sentar e se levantar. Um dos projetos é de um exoesqueleto – estrutura que, ao ser vestida, serve de suporte – que está em fase dos últimos testes para lançamento. Outra proposta de Bira é um equipamento que pode permitir que um cadeirante possa andar.
Bira se considera um “cara que tem ideias estranhas para diversos mercados”. O empreendedor reconhece que poucas empresas se interessam pelo design industrial e, por isso, nada contra a maré, seguindo seu caminho como pode. Para o inventor, criar e empreender transformando vidas faz parte de sua identidade: o que deveria ser apenas hobbies, como arte, desenho artístico, maquetes e protótipos, também acaba se tornando seu trabalho. Rindo, ele afirma: não fica rico porque vive brincando enquanto trabalha.
A combinação perfeita entre empreendedorismo, diversão e transformar vidas parece bastante atraente e, de fato, é. Para o designer de produtos, a possibilidade de diminuir, mesmo que apenas em partes, as dificuldades de pessoas que sofreram um AVC, por exemplo, é muito gratificante.
Para quem começou trabalhando em agências de propaganda e estudou design técnico até abrir seu próprio escritório de design de produtos – focando em trabalhos técnicos para indústrias -, a veia empreendedora de Bira e a vontade de ajudar ao próximo mudaram seu caminho. Depois de se apaixonar pela área de Design Inclusivo, o inventor uniu criatividade e solidariedade, encontrando e construindo de maneira sólida seu próprio perfil empreendedor, baseado em três pilares: atitude, inovação e empatia.
Enfrentando desafios diários para impedir que esse sonho acabasse, pode-se dizer que Bira recebeu um grande incentivo para não desistir da área, apesar das dificuldades de empreender com Design Inclusivo no Brasil. Em 2022, ao participar do programa “Domingão com Huck”, da TV Globo, o designer ganhou R$ 360 mil no quadro ‘The Wall’. Para quem acredita em destino, Bira recebeu o prêmio por merecer a chance de ajudar cada vez mais pessoas, como já tem feito nos últimos anos. Sendo o destino responsável ou não, a verdade é que não são esses R$ 360 mil, nem qualquer outra quantia que pagam o trabalho do designer: o brilho nos olhos e o sorriso no rosto de quem recebe as luvas LEB são a grande recompensa.
Orientação: Prof. Artur Araújo
Edição: Mariana Neves
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