Ciência

Ciência busca desvendar os mistérios dos fungos-zumbis

Capacidade de mudar comportamento de insetos é estudada para o controle biológico de pragas

Por: Pietra Mesquita

O corpo de frutificação do fungo, o ascoma e o estroma, já formado (Imagem: João Araújo)

Eles já povoaram a cultura pop com games e séries, como The Last of Us, e livros e filmes como Melanie: A Última Esperança. São os fungos-zumbis, denominados no mundo científico como fungos entomopatogênicos, em especial os dos gêneros Cordyceps e Ophiocordyceps. Mais que parasitas, esses organismos são capazes de mudar o comportamento dos insetos, eventualmente matando-os. Essa característica tem inspirado inúmeras pesquisas científicas no Brasil e no mundo. Os fungos entomopatogênicos têm sido estudados para controle biológico de pragas, mas também em outras áreas como medicina, estudo de ecossistemas etc.

O poder de alterar o comportamento do hospedeiro está relacionado ao conceito de fenótipo estendido, cunhado pelo biólogo Richard Dawkins. O termo refere-se à ideia de que a expressão de genes não se limita ao organismo que os carrega, mas pode também influenciar o ambiente e outros organismos. Nesse caso, a ocorrência parasitária nas espécies rompe com a visão tradicional de que genes apenas influenciam o próprio organismo em que estão. Muitos hospedeiros, em função da infecção, terminam por ostentar uma espécie de haste.

De acordo com o biólogo Mateus Ribeiro, especialista em fungos, esses entomopatogênicos parasitam vários insetos das ordens Blattodea, Coleoptera, Dermaptera, Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Isoptera, Lepidoptera, Mantodea, Odonata e Orthoptera. “Pegando o clássico caso da formiga, a ‘zumbificação’ funciona quando o fungo consegue infectar o inseto ao entrar em contato com os esporos”, explicou Ribeiro. “Após o contato, o esporo começa a germinar na cutícula. Feito isso, um esporo dá origem a um tubo de germinação, que invade o exoesqueleto do inseto até chegar à hemocele [principal cavidade do corpo de muitos invertebrados, onde circula a hemolinfa, que é o equivalente ao sangue nos vertebrados]”, acrescentou. O fungo termina por produzir o estroma, o ‘talinho’ que sai do corpo da formiga.

Mais que uma haste no corpo do hospedeiro, os fungos do gênero Ophiocordyceps levam o inseto a mudar o comportamento. “Uma vez que a infecção se espalha dentro do corpo da formiga, o fungo faz com que ela vá até um galho alto, já controlando sua coordenação motora, na parte inferior de uma folha, para fincar as mandíbulas e ficar bem presa. Uma vez que isso é feito, o corpo de frutificação cresce e espalha novos esporos, que caem no solo e criam a chamada ‘Zona de Matança’ [espaço onde outros insetos podem ser contaminados]. Formigas que passarem pela zona e tiverem contato com esporo acabam sendo infectadas, reiniciando o ciclo de vida do fungo”, concluiu.

Orientação: Prof. Artur Araújo
Edição: Mariana Neves


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