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Acidente no autódromo de Ímola que matou piloto tricampeão mundial de Fórmula I ocorreu no dia 1º de maio de 1994
Por: Murilo Pascale
O dia 1º de maio, embora seja feriado, traz memórias sensíveis para muitos brasileiros, sendo fãs de esportes ou não. Foi nesse dia, no ano de 1994, que faleceu Ayrton Senna, três vezes campeão mundial da Fórmula 1, visto por muitos até hoje como o maior nome que passou pela categoria. O piloto sofreu um acidente no Grande Prêmio de San Marino, no autódromo de Ímola – este que, horas depois, custou sua vida.
“O país parou. Não teve nenhuma pessoa, de nenhum município que não sentiu e se mobilizou para acompanhar o sepultamento. Desde o momento do acidente ficamos torcendo para ele se recuperar”, conta a fã, Michely Danila, proprietária da Auto e Moto Escola Senna, na cidade de Campinas. A autoescola possuía outro nome até 1994, quando a família decidiu prestar uma homenagem após o falecimento do piloto, com autorização da família Senna. “Quando se fala no acidente, ainda tenho o flashback daquela curva.”
Para Adilson Almeida, fundador e ex-presidente da Torcida Ayrton Senna (TAS), o sentimento foi o mesmo. “Quando aconteceu o acidente, era como ver que seu time perdeu um pênalti. Ele já tinha sofrido acidentes muito piores, e na hora não me pareceu algo que seria fatal. Depois, quando fiquei sabendo que ele faleceu, não acreditei. Ele era uma pessoa que muitos tinham como herói, e fiquei ‘como assim, ele morreu? Não acredito’”.
A imagem de herói de Ayrton Senna, como mencionada por Adilson, foi construída ao longo de sua carreira. Desde seus anos iniciais, Senna impressionou os aficionados por automobilismo no mundo todo, e conforme foi vencendo, essa admiração aumentou. Sua imagem, principalmente no Brasil, deixou de ser vinculada apenas ao esporte, e ganhou proporções de um ídolo. Senna, sempre que vencia, associava suas conquistas a seu país, o que contribuiu na admiração que recebia em solo brasileiro.
“Ele mostrava que era brasileiro como nós. Sofria e torcia como nós. Então ele merecia um carinho especial dos brasileiros”, conta Ivan Gusmão, fã e grande admirador de Senna. Essa identificação quase unânime da população com um piloto era inédita até então. Mesmo que outros brasileiros tivessem atingido sucesso na categoria, anteriormente, Ayrton Senna foi pioneiro com sua popularidade. “O que o diferenciava era seu carisma, e de mostrar que o brasileiro é capaz. Não tinha ninguém que não parasse para ver o nosso país ser representado por ele”, diz Michely.
“O Ayrton era o melhor embaixador do Brasil lá fora. Ele passava uma imagem muito boa daqui, e isso abriu muitas portas”, lembra o fundador da TAS. O tricampeão, que fazia questão de empunhar a bandeira brasileira e exibi-la por diversos autódromos ao redor do globo, tinha como um de seus principais objetivos vencer um Grande Prêmio na sua terra natal – fato este que ocorreu duas vezes, em 1991 e 1993. Na segunda oportunidade, após a prova, Senna foi carregado pela multidão em êxtase, que invadiu a pista após a corrida para celebrar sua vitória.
Neste Grande Prêmio do Brasil, em 1993, Senna estava no “auge” de sua consolidação como ídolo para o povo brasileiro. Depois de ter seu nome cantado ao longo de toda a prova e ser carregado pela multidão após a vitória, o piloto deu uma volta na pista, sentado à janela do safety car da corrida, enquanto estendia a bandeira e saudava o público nas arquibancadas. Este veículo, um Fiat Tempra, hoje pertence à Ivan Gusmão. Ivan conta que, mesmo após 30 anos, o veículo ainda é reconhecido e admirado, e sempre recebe pedidos de fãs para repetirem a cena protagonizada pelo tricampeão, após sua conquista no autódromo de Interlagos.
“Ele é reconhecido como o primeiro safety car oficial da Fórmula 1. Depois que o Senna venceu e o pessoal invadiu a pista, o carro teve que resgatá-lo, e ele se sentou à porta. E nós recebemos de bandeja um espetáculo” – lembra Ivan. “Recentemente encontrei um frentista do posto de gasolina, quando fui abastecer o carro. Ele perguntou a respeito do Tempra e relatou, sobre a morte de Senna “me lembro como se fosse hoje”. Isso mostra que aquele dia nos marcou de tal forma, que até hoje recordamos”.
O carro possuído por Ivan é uma peça de destaque para qualquer fã de automobilismo. Segundo ele, o carro foi encontrado na cidade de São Roque (SP), prestes a ser sucateado. Depois de adquiri-lo e restaurá-lo totalmente, Gusmão conseguiu legitimar a autenticidade do veículo, tornando-o assim um item de coleção de alto valor. Quando questionado, ele revelou quais seriam as condições para algum dia vendê-lo. “Um leilão mundial, e uma casa de leilões de Londres já se pronunciou, avaliando-o em 10 milhões de reais.”
Porém, inspirado pelo ídolo, Ivan pretende fazer uma ação caridosa com o valor arrecadado pela venda. “Eu fiz um compromisso, moral, público e em cartório, e com a família Senna também. O valor arrecadado pela venda do Tempra vai ser transformado em uma doação para um hospital na cidade onde moro (Itabuna – BA), em memória de Ayrton Senna. Lá, será instalado um busto dele, com uma placa dizendo que o valor utilizado nas obras do hospital veio, em partes, dele mesmo.”
O tricampeão também é lembrado por diversas doações e ações de caridade que fazia no Brasil. Senna contribuía frequentemente com diversos projetos sociais, exigindo apenas que seu envolvimento não fosse divulgado. “Ele era corretíssimo, um homem muito generoso. Ajudava hospitais, e tudo sempre no anonimato, ele não queria que ninguém soubesse. Ele era uma pessoa diferenciada, e tinha diversas qualidades que admirávamos”, lembra Adilson Almeida.
Por conta da fundação, em 1988, e pelo cargo napresidência da TAS, Adilson Almeida esteve por muito tempo próximo a Ayrton Senna e sua família. Segundo ele, algumas ações beneficentes que o tricampeão fazia eram de pouco conhecimento na época, e isso enaltecia sua personalidade caridosa. “Posso dizer que ele era corretíssimo em tudo o que ele fazia, e de uma honestidade absurda. Ele abriu a sede de uma montadora de automóveis aqui no Brasil em Tatuí, no interior de São Paulo, visando alavancar impostos para a cidade. Ele queria que a cidade se desenvolvesse.” Já quanto à sede da torcida, no município de São Paulo, Adilson conta que o espaço era cedido por Milton da Silva, o pai do piloto, com quem ele tinha uma relação próxima. “Tenho o Milton como um pai para mim. Ele que nos cedeu o espaço onde era a sede da TAS, que hoje infelizmente não existe mais, somente no ambiente virtual.”
A Torcida Ayrton Senna deixou de possuir um ambiente físico no ano de 2014, e desde então Adilson deixou sua presidência. O espaço, que continha um grande acervo de itens relacionados ao piloto, ainda é lembrado com carinho por Almeida. “Era um local de visitação e de estudos. Lá tinha uma biblioteca com diversos livros que contavam a história do Senna. Recebíamos excursões de escolas, em que as crianças visitavam o local totalmente de graça. Porém, de uma noite para outra, isso nos foi tirado. Parte da família pediu o imóvel de volta, e tivemos que sair de lá”, conta.
Na atualidade, a figura de Ayrton Senna ainda está presente no dia a dia de muitas pessoas que, assim como Adilson, Ivan e Michely, o tem como ídolo. Porém, a falta do devido reconhecimento à importância do piloto é o que incomoda parte dos fãs. “Para a juventude de hoje, quem é o Senna? Hoje em dia, a cada dez alunos na autoescola, um já não vai saber quem ele é, vai achar que o nome é em razão do sobrenome da família. Mas não podemos deixar a memória dele morrer”, diz Michely. Para Adilson, o sentimento de frustração é o mesmo. “Não existe nenhum memorial para ele no Brasil. Faz 30 anos que ele morreu, e não temos nada. Tem que haver mais respeito com a imagem dele”.
Quando o assunto da memória e do legado do piloto é abordado, muitos recordam com carinho das mensagens de persistência e perseverança que o tricampeão passava. Além de ser uma referência no esporte, Senna se tornou um herói no imaginário do povo brasileiro. Um herói que, todo dia primeiro de maio, é lembrado e saudado, celebrado e sentido. “O povo lembra dele como um campeão, dentro e fora das pistas”, diz Ivan.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Giovanna Sottero
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