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Para jornalista, é preciso superar o tabu da morte

Roteirista e blogueira, Camila Appel disse aos estudantes ser essa a sua “missão de vida”

Por: Isabela Meletti

A jornalista Camila Appel, blogueira do jornal Folha de S. Paulo e roteirista do programa “Conversa com Bial”, da Rede Globo, disse ser necessário que a sociedade procure superar o tabu da morte, estágio da vida ao qual estão associados outros temas “espinhosos”, como a eutanásia, o suicídio e o luto.

No evento Reverbera, em palestra a estudantes da Escola de Linguagem e Comunicação (ELC), da PUC-Campinas, nesta terça-feira (12), Camila afirmou que considera sua missão de vida colocar esses temas na mídia e torná-los tão naturais quanto os assuntos banais do cotidiano. Para isso, criou o blog “Morte Sem Tabu”, no site do jornal Folha de S. Paulo, onde busca debater o tema e interagir com seus leitores.

A jornalista Camila Appel, no evento Reverbera, da Escola de Linguagem e Comunicação, da PUC-Campinas (Foto: Daniel Ribeiro)

Formada em administração de empresas com especialização em antropologia e desenvolvimento, a jornalista disse que escolheu muito cedo sua área de formação. “Penso que hoje, eu teria cursado jornalismo”, ponderou ao afirmar que sua bagagem foi importante para chegar aos trabalhos que desenvolve atualmente.

Camila: “Entendi que era necessário falar sobre o tema, porque a dor e a morte são universais” (Foto: Daniel Ribeiro)

Em sua palestra, Camila se referiu ao livro “A negação da morte”, de Ernest Becker, para apontar a relação que existe entre não pensar sobre a morte e o surgimento de quadros depressivos. “Quando as pessoas se limitam a viver somente situações positivas, negando aquilo que é considerado ruim, elas se tornam despreparadas para momentos de alta negatividade, como a dor do luto e a morte, podendo adquirir quadros de depressão”, afirmou.

De acordo com Appel, a falta de informações e o silenciamento dessa temática contribui para a persistência da morte como um tabu. “Quando iniciei meu trabalho escrevendo obituários para a Folha, percebi que existia um grande tabu acerca da morte na mídia. Havia pouca informação e muito eufemismo sobre o assunto. Foi aí que comecei a pesquisar mais a respeito para tentar entender o motivo de todo esse estigma”, contou.

“Entendi que era necessário falar sobre o tema, porque a dor e a morte são universais e a negação delas afeta nosso modo de lidar com diversas situações comuns da vida, como doenças e o envelhecimento, por exemplo”, afirmou Camila.

Em seu blog na Folha de S. Paulo, a jornalista entrevista pessoas que estejam ligadas ao tema, desde alguém em processo de luto a um especialista em preparar cadáveres. Ela já colheu depoimentos, por exemplo, de agentes funerários, coveiros, tanatopraxistas e necromaquiadores, que contam o cotidiano de seu trabalho, expondo a importância desses profissionais na hora do falecimento.

Durante o evento, a jornalista falou a respeito de alternativas ao protocolo de ressuscitação de pacientes terminais e distanásia. “O paciente com doença terminal tem o direito de escolher a maneira como vai morrer e ele deve saber disso. Se deixar seu ‘testamento vital’, a pessoa escreve se prefere morrer naturalmente ou se quer ficar ligado a aparelhos”, explicou.

O blog de Camila conta com uma aba chamada “O que você quer ser quando morrer?”, que detalha os diversos destinos para o corpo ou as cinzas de um falecido. Com as técnicas atuais, podem se transformar em objeto para estudo científico, uma joia ou uma obra de arte. “As pessoas precisam compreender que falar sobre a morte e seus desdobramentos possibilita lidar com ela de uma forma mais leve e mais interessante”.

Roteirista de projetos documentais da Rede Globo, Camila foi quem levou ao ar as denúncias de assédio sexual contra o curandeiro conhecido por João de Deus, que cumpriu pena em reclusão e hoje se encontra em casa, com tornozeleira eletrônica. “Foi uma cobertura difícil, pois pelo menos seis ministros de estado pressionavam para que o tema não viesse a público”, contou.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Melyssa Kell


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