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“A gente está falando aqui de uma transformação cultural”, disse Luciana Temer, do Instituto Liberta
Por: Vítor Longhi
Um manifesto convocando a sociedade brasileira a estimular a educação sexual como forma de conter a violência praticada contra crianças foi lançado nesta quinta-feira (18), no encerramento do seminário que discutiu o tema, patrocinado pelo jornal Folha de S. Paulo e Instituto Liberta, uma organização não governamental que atua na proteção aos menores. O lançamento ocorreu no Dia Nacional Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Segundo explicou a presidente do Instituto Liberta, Luciana Temer – ela própria, vítima de violência na infância – o manifesto é voltado à prevenção deste crime, o que só se obteria com educação e informação do público infantojuvenil. “A gente está falando aqui de uma transformação cultural. Ela precisa ser construída hoje, devagarzinho, mas precisa começar”, afirmou Luciana no seminário realizado de forma online.
Luciana também falou que, de acordo com o Instituto DataFolha, cerca de um terço da população brasileira já sofreu alguma violência sexual antes dos 18 anos. Das pessoas que foram entrevistadas na pesquisa, somente 11% denunciaram o crime.
A presidente do Liberta relacionou os dados levantados pelo DataFolha com o fato de a violência contra as crianças praticamente não ser discutida. “Felizmente, o cenário vem mudando”, disse Luciana, apontando que, no dia do seminário, a Folha noticiou o aumento de 48% das notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes no serviço Disque 100.
“Agora, talvez, a sociedade esteja começando a entender esta violência, a cara que ela tem, a dimensão que ela tem, e começa a desnaturalizar e a reagir”, salientou.
O seminário, que levou o nome de “Caminho das Prevenções”, também contou com três convidadas: Caroline Arcari, autora do livro “Pipo e Fifi”; Elisa Bracher, diretora do Ateliescola Acaia; e a psicóloga Mariana Motta, orientadora na Escola Americana de Campinas. O debate foi mediado pelo ex-secretário de Educação do Estado e da cidade de São Paulo, Gabriel Chalita.
A psicóloga Mariana Motta descreveu sobre como foi ter um treinamento junto à equipe de psicólogos sobre a educação sexual em meio às escolas. Ela disse que não sabia da dimensão do problema, e que após uma semana de treinamento entendeu o tamanho da situação.
“Quando temos noção dos dados e da realidade, não tem como fechar os olhos para isso”, disse Mariana. Ela também contou que, naquele momento, aquilo virou uma missão de vida para ela e para os demais profissionais, tendo se transformado em política em sua escola para guiar não só funcionários mas também todas as pessoas.
A escritora Caroline Arcari disse que a violência sexual à infância é um tema relativamente recente na mídia brasileira. “A gente não imaginava, dez anos atrás, ser essa uma temática que passasse na TV aberta”, afirmou ao reforçar a importância que o assunto adquiriu, mesmo por que a grande maioria das violências contra a primeira infância é praticada por alguém em quem a criança confia.
Caroline apontou seu livro, “Pipo e Fifi”, como um exemplo sobre educação sexual para crianças e disse que a prevenção tem que ser construída junto com a criança, dialogando com o devido respeito.
Diretora do ateliê-escola do Instituto Acaia, Elisa Bracher descreveu o trabalho chamado “oficina dos sentimentos”, que é coordenado por psicólogos com intuito de prevenir possíveis abusos por meio de instrução e diálogos com as crianças. “Com esse sistema, a gente cria uma intimidade muito grande da criança com as pessoas que estão junto dela”, disse.
Ao final do seminário, Luciana Temer reforçou para a importância da educação sexual na primeira infância. “Se meninas e meninos forem fortalecidos com educação e informação suficiente para dizer não, a gente pode diminuir muito o número de vítimas”, apontou.
Aqui, link para a íntegra do 6º seminário sobre Violência Sexual Infantil.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Melyssa Kell
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