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Redes registram 550 milhões de iterações durante debate

Lula e Jair Bolsonaro, em debate que permitiu interação corpo a corpo entre os candidatos presidenciais às eleições de 30 de outubro (Imagem: YouTube)

No domingo, os candidatos Lula e Bolsonaro participam da maior live jornalística registrada no YouTube

Por Aline Nascimento

Na noite desse domingo (16), durante o primeiro debate presidencial após o resultado do primeiro turno — que bateu o recorde de maior live jornalística do Youtube —, os usuários da rede social Twitter comentaram ininterruptamente sobre o embate, opinando, ironizando situações inusitadas e verificando a veracidade dos fatos apresentados pelos candidatos, colocando #DebateNaBand nos assuntos mais comentados da noite, contabilizando mais de 892 mil tweets.

Candidatos à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT), se encontraram pela primeira vez após o resultado do primeiro turno, em embate organizado pelo portal UOL, grupo Bandeirantes, Folha de S. Paulo e TV Cultura, com apoio do Google e YouTube. Dividido em três blocos, além das perguntas mediadas por jornalistas, cada candidato teve 15 minutos para debater livremente entre si, totalizando 30 minutos de discussão sem mediação.

No primeiro bloco, ao iniciarem o debate sem mediação, Lula perguntou a Bolsonaro quantas universidades e quantas escolas técnicas a gestão dele fez. Inicialmente, o presidente se desviou do assunto, falando sobre o Auxílio Brasil. Em sua resposta, citou que Lula “prometeu água pro Nordeste, e agora está prometendo picanha e cerveja”. Ele questionou se o petista não “fica vermelho com essas propostas mirabolantes e mentirosas”. Ao citar picanha e cerveja, twitteiros ironizaram o argumento. O youtuber e comentarista de animes e novelas Fábio Garcia ironizou esse questionamento em sua conta, brincando que Lula ri quando se lembra de uma picanha e uma cerveja gelada.

Ri enquanto lembra de uma picanhinha e com cerveja gelada”, Fábio Garcia. (Foto: Twitter)

Apesar do desvio de assunto, Lula insistiu na pergunta, e Bolsonaro respondeu, afirmando que, por conta da pandemia, não tinha sentido abrir universidades e escolas, já que elas ficariam fechadas por dois anos. Em seguida, o ex-presidente Lula rebateu: “Não vou perguntar de universidades porque o senhor parece que não sabe”.

A resposta do petista gerou um grande alvoroço entre os usuários do twitter, que, entre memes e provocações, reagiram ao momento. Dentre eles, a conta oficial da União Nacional dos Estudantes (UNE) que repetiu o questionamento feito por Lula. “Quantas universidades e escolas técnicas o seu governo fez Bolsonaro?”.

Quantas universidades e escolas técnicas o seu governo fez Bolsonaro?” União Nacional dos Estudantes. (Foto: Twitter).

Após falarem sobre educação, Lula emendou com o tema da pandemia da Covid-19 e questionou a demora da chegada da vacina. O ex-presidente afirmou que a CPI da Covid comprovou que a gestão de Bolsonaro cobraria um dólar a mais por cada dose da vacina Covaxin. No entanto, o presidente afirmou que o opositor estaria mentindo, e que nenhuma dose da Covaxin foi vendida para o Brasil. Nesse momento, a jornalista Vera Magalhães, em sua conta na rede social, desmentiu Bolsonaro, compartilhando uma reportagem comprovando o que Lula havia dito, e reiterando que “Não teve o contrato de Covaxin graças à CPI, que trouxe o caso à baila”.

“Não teve o contrato de covaxin graças à CPI” Vera Magalhães. (Foto: Twitter).

A jornalista Vera Magalhães foi uma das jornalistas convidadas do debate. Muito assídua em sua conta no Twitter, Vera fez uma cobertura jornalística paralela do debate em sua rede social, compartilhando vídeos dos bastidores, dentro do estúdio, e comentando situações sob sua perspectiva.

“Bolsonaro faz anotações o tempo todo”, Vera Magalhães.

Bolsonaro falou sobre a obra da transposição do rio São Francisco, recentemente inaugurada por ele. Em um momento de embate, Lula afirmou que Bolsonaro era “cara de pau” em dizer que o PT não fez nada pelo Nordeste, e provocou Bolsonaro, afirmando que as obras que ele diz ter feito (transposições, ferrovias), na verdade foram apenas finalizadas por ele, e que foram idealizadas e iniciadas pelos governos petistas. Por fim, ele questionou se Bolsonaro acha que os nordestinos acreditam que ele fez essas coisas. Bolsonaro ficou calado.

“Nem mentindo ele consegue ganhar esse debate”, Eduardo Bolsonaro.

Segundo pesquisa qualitativa de opinião feita pela Quest durante esse debate, e divulgada na madrugada (17), a discussão sobre quem teria feito a transposição do São Francisco foi altamente repercutida pelos usuários, no segundo turno. Esse comportamento gerou comentários opinativos sobre o desempenho dos candidatos nesse momento; mas sobressaindo os comentários entusiasmados com um confronto mais acalorado dos dois.

Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e deputado federal, comentou que “nem mentindo ele [Lula] consegue ganhar esse debate”. Enquanto isso, Lucas Paiva, um twitteiro muito repercutido no país, brincou com a dedicação de Bolsonaro em obter votos no Nordeste, ao fazer essas declarações, dizendo que Bolsonaro estava quase falando “meus cactos” (nome que faz referência a campeã do BBB 21, Juliette Freire, que tinha um apelo nordestino) “para tentar puxar votos do Nordeste”.

Daqui a pouco mandando ‘meus cactos’ pra tentar puxar voto do nordeste”, Lucas Paiva.

Ao início do segundo bloco, iniciando-se as perguntas dos jornalistas convidados, Vera Magalhães perguntou aos candidatos sobre o compromisso deles em não mexer na composição de ministros do STF. Dado ao acontecimento anterior, em que no debate da mesma emissora durante o primeiro turno, o presidente Bolsonaro fez ataques direcionados à Vera, a maneira como os candidatos se dirigiram a ela foi comentada. O ex-presidente Lula se aproximou da jornalista, afirmando que não iria agredi-la, enquanto o presidente Bolsonaro manteve um tom ameno, chamando-a de “prezada” e declarando “satisfação em vê-la”. O jornalista e diretor de redação da revista Fórum, Renato Rovai, comentou que Lula fez uma alusão à agressão sofrida por Vera. “Na canela de Bolsonaro”, brincou.

“Na canela de Bolsonaro”, Renato Rovai.

O jornalista e colunista do UOL Josias de Souza questionou os candidatos sobre a relação da Presidência com o Congresso, e citou escândalos de compra de apoios e corrupção de ambos os governos. Para responder à pergunta, Bolsonaro apresentou uma lista preliminar impressa com, segundo ele, nomes de 11 deputados do PT que receberam recursos do “orçamento secreto” — escândalo de sua gestão —, afirmando que o modelo de atendimento às demandas congressuais foi de criação do deputado federal Rodrigo Maia, e que ele não tinha relação com isso.

Simultaneamente, em sua conta pessoal, Rodrigo Maia publicou um vídeo se defendendo e explicando que o orçamento secreto — “que, pelo jeito, não é tão secreto” — era um mecanismo criado por Bolsonaro e pelo ex-ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, mostrando um documento assinado por eles, o que comprovaria sua afirmação.

Link de acesso ao tweet e documento citado

Após a pergunta de Josias, Bolsonaro iniciou o terceiro bloco, onde houve a segunda sessão de debate livre, fazendo uma provocação sobre Lula não ter respondido à pergunta do jornalista sobre corrupção, e lhe refez a questão. O ex-presidente ficou alguns minutos argumentando e reiterou que “não precisava ter quebrado as empresas”. Davy Albuquerque, cofundador do aplicativo/jornal digital “Conexão Política”, opinou que fora da Rede Globo “fica impossível para Lula vencer algum confronto”.

“ Impossível para Lula vencer algum confronto”, Davy Albuquerque.

Por conta desta discussão acalorada, o candidato petista administrou mal seu tempo, deixando-o se esgotar quando Bolsonaro ainda tinha cinco minutos de fala, permitindo que o presidente fizesse um longo monólogo ao final do bloco. Esse erro não passou despercebido, e os usuários criticaram-no. O jornalista e professor da PUC-SP, Leonardo Sakamoto, afirmou que Lula administrou mal o tempo, mas que Bolsonaro desperdiçou o tempo ganho “repetindo um discurso voltado para sua bolha”.

“Lula administrou mal o tempo e deixou cinco minutos pra Bolsonaro falar sozinho ao final do bloco”, Leonardo Sakamoto.

Em um dado momento, após Lula terminar seu argumento e passar a vez para Bolsonaro, o presidente colocou a mão no ombro do petista, pedindo para ele continuar por perto durante a resposta. Apesar de esse momento anteceder um confronto mais acalorado, o que animou os usuários espectadores, para muitos, este comportamento de Bolsonaro foi visto como uma tentativa de atiçar o concorrente. O jornalista Pedro Dória, rosto da Newsletter e canal Meio, disse que Bolsonaro estava “se aproximando, buscando contato físico… Tentando atiçar, provocar”.

“Bolsonaro se aproximando, buscando contato físico… Tentando atiçar, provocar”, Pedro Dória.
 

Durante o debate, muitos usuários perceberam dados e informações incorretos, manipulados e mentirosos nas falas dos candidatos, e procuraram desmentir em suas contas. Uma questão recorrente dentro da rede social é a queixa de que não há nenhuma checagem instantânea dentro do próprio debate.

A chef de cozinha e influenciadora Paola CaroselLa, dentre tantos usuários, repetiu o questionamento em sua conta pessoal: “Por que o debate não tem checagem da veracidade das falas, dados e números apresentados em tempo real?”

“Por que o debate não tem checagem da veracidade das falas?” Paola Carosella.
 

Ao fim do debate, o diretor da Quaest Felipe Nunes, especialista em pesquisa de opinião e redes sociais, divulgou em sua conta pessoal uma pesquisa de opinião feita durante o debate. Dentro do Twitter, Instagram, Facebook, sites e blogs, Lula obteve cerca de 44.5% de menções positivas ao longo do debate, enquanto Bolsonaro atingiu o percentual de 36.5%.

Menções e sentimentos por candidato (Foto: Quaest).

O ex-presidente Lula teve o maior percentual de menções positivas, em relação às negativas, no primeiro e segundo bloco (43% e 46%, respectivamente), comparado a Bolsonaro (39% e 34%). Já no terceiro bloco, Bolsonaro sobressaiu, atingindo o percentual de 51%, enquanto o petista caiu para 39%. A pesquisa apurou que, em todas as redes sociais analisadas, houve quase 550 milhões de interações sobre o debate entre 17h e 23h.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Melyssa Kell


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