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O professor Kabengele Munanga, no Café Filosófico, contesta a existência de “democracia racial” no Brasil
Por Sophia de Castro
O antropólogo e professor Kabengele Munanga, da Universidade de São Paulo (USP), afirmou, em conferência para a gravação do programa Café Filosófico, no auditório da CPFL-Campinas, que a população que se autodenomina “parda” ou “mestiça” precisa assumir a negritude que compõe parte de seu patrimônio genético e engrossar os movimentos emancipatório da comunidade negra. “A comunidade negra ganha muito com essa união”, disse o docente, pois a ideia tão propalada de “democracia racial” não existiria no Brasil.
“Essa ideia foi difundida pela elite dominante como forma de apresentar uma sociedade sem preconceitos, o que não é verdade”, afirmou ao defender a manutenção de cotas raciais nas diversas instituições brasileiras, como universidades, serviço público e organizações partidárias.
Conforme avaliou o antropólogo, o conceito de democracia racial foi um fator impulsionador de debates contrários à implantação de políticas de cotas. Munanga transitou entre argumentos usados entre estudiosos que discutem como em um país miscigenado, em que todos seriam mestiços igual ao Brasil, negros, brancos e indígenas teriam deixado de existir e, portanto, não teriam negros para se beneficiar pelas cotas.
De acordo com análise do antropólogo, a real situação dos mestiços no Brasil é diferente da ideia de um país livre de preconceito, defendida por alguns estudiosos. Segundo ele, os mestiços não estão junto aos brancos, que tanto os reivindicam. “Os mestiços estão juntos com os negros, preteridos e invisibilizados”, avaliou.
O professor argumentou também como a ideia de democracia racial encobre os conflitos raciais e afasta as comunidades mestiças da construção de identidade. “Sem identidade não é possível se mobilizar e lutar”, disse ao relembrar como apenas a pressão feita pelo movimento negro nas instituições inseriu pretos e mestiços na sociedade.
Ao ser questionado pelo jornalista Carlos Medeiros sobre a divisão entre pardos e negros, Munanga lembrou a pesquisa em que o IBGE, nos anos de 1980, perguntou com qual cor de pele o entrevistado do censo se definia, o que originou cerca de 140 cores diferentes. Para o professor, essa divisão é consequência do ideal do branqueamento, um desejo de fugir da cor da pele negra. “É uma alienação, uma maneira de você colocar a máscara branca, apesar da pele negra”, disse.
Aqui, acesso à conferência de Kabengele Munanga no Café Filosófico.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Pietra de Moraes
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