Destaque
Para Isabela Leite, nunca foi tão difícil exercer a profissão como nos dias atuais; ela fez curso de segurança pessoal para se prevenir da violência nas coberturas de rua
Por: Bruno Costa
Formada em jornalismo pela PUC-Campinas, Isabela Leite sente na pele as dificuldades de ser uma jornalista, principalmente nos dias atuais. Há 14 anos no mercado, ela admite nunca ter se intimidado com os comentários constrangedores que ouviu ao longo da carreira. “Já encontrei gente que tentou me impedir de trabalhar, mas eu nunca desisti”, afirma. Para se prevenir das violências físicas, principalmente nas coberturas externas, ela fez um curso de segurança pessoal, uma prática que está se consolidando na imprensa brasileira.
“O jornalismo é uma profissão difícil para quem trabalha em redação, mas não me vejo fazendo outra coisa”, admite Isabela, que integra a equipe da GloboNews, em São Paulo, onde atua como repórter e apresentadora nos noticiários. Com passagens pela EPTV Campinas e Band Campinas, ela também trabalhou no G1 São Paulo e em assessorias de imprensa. Seu começo na carreira foi na Folha de Valinhos. Hoje, além do jornalismo, ela é aluna no curso de pós-graduação em Direito Internacional e Direitos Humanos, na PUC-Minas.
“Sempre gostei da área de comunicação e via uma possibilidade de mudar o mundo, fazendo jornalismo”, conta. A experiência em diferentes redações e editorias e a participação em coberturas marcantes, como as eleições presidenciais e a Copa do Mundo, mostraram à jornalista a importância da profissão. Entre tantos aprendizados, ela percebeu que, como jornalista, não conseguiria mudar o mundo. “Mas posso mudar a vida de uma pessoa”, admite. Leia a entrevista que a jornalista concedeu ao Digitais sobre a cobertura política nas eleições 2022:
Digitais: Como o jornalista deve se comportar com a polarização dos dias atuais?
Isabela Leite: É difícil, porque as pessoas podem ter as suas opiniões. Para uma polarização não ser violenta, temos que respeitar as opiniões de esquerda, de direita e de centro, sejam elas quais forem. Como jornalista, temos que ouvir todos os lados, mas sempre com o olhar não violento. Isso não é muito o que a gente tem vivido, hoje.
Na sua opinião, a linha editorial de um jornal interfere na cobertura política?
A linha editorial sempre vai existir, mas eu nunca fui impedida de trabalhar ou de fazer uma determinada pergunta por causa de uma linha editorial. Acho que a linha editorial dos jornais vai ter um viés mais político ou mais econômico, mas isso não pode interferir, de certa forma, no nosso trabalho. É preciso [que o jornalista] entenda o viés de cada jornal e veículo para ter um direcionamento, mas isso não pode impedir dele trabalhar e fazer suas pautas.
Como você define uma boa cobertura eleitoral?
O jornalista deve saber primeiro decifrar bem as pesquisas. Há pessoas que entendem além dos números. A gente [jornalista] se prende aos números, mas é preciso entender um pouco o que está por trás dos números na cobertura eleitoral. Temos que olhar para aquele resultado e para as estratégias de campanha, saber quem é aquela população, quem é o candidato que vai atingir, quem é o eleitorado que vai decidir o voto e qual é a situação de momento que pode ou não decidir uma eleição. Não é só ficar nos números. Uma cobertura eleitoral mais completa vai nesse sentido. Ela deve ir além dos números, dar cara para o eleitorado e também mostrar o que as pessoas querem que mude no país ou que continue.
Por que é dado tanto destaque para o presidente da República e não para deputados, senadores e governadores? Tem como mudar este cenário?
Sempre falo que, na verdade o Congresso, o Legislativo e o nosso parlamento definem muito da nossa vida. Se você pergunta para boa parte do eleitorado, ele não lembra em quem votou para deputado estadual federal e para senador na última eleição. Ou seja, se não lembra, não acompanhou e também não tem ideia da importância do parlamento, porque o presidente não governa sozinho. Acho que uma educação política na nossa sociedade pode mudar isso e a imprensa tem um fator fundamental nesse sentido.
A atual gestão do governo Bolsonaro fragilizou o poder do jornalismo?
Não. Os ataques que foram feitos aos jornalistas, de uma forma geral, deixou nosso trabalho mais difícil, mais acho que foi o contrário. O jornalismo se fortaleceu porque trouxe um olhar de manutenção da democracia, que é o que a gente [jornalista] tem tentado lutar. Hoje, acredito que a gente não pode perder o nosso estado democrático de direito, que fortaleceu o jornalismo profissional e que se propõe a trazer uma informação de qualidade e conteúdo com profundidade, e não sair vomitando as coisas sem sentido e nenhum aprofundamento.
Você vê diferença entre a eleição deste ano e as outras?
Sim. Eu estava em Brasília cobrindo a eleição de 2018 e teve um fator de um outsider: um candidato que surgiu às vezes sem um olhar muito atento da cobertura, mas que foi se fortalecendo. Com a polarização, havia um antipetismo, mas também uma dissolução da esquerda com o Ciro Gomes (PDT), que estava mais forte nas pesquisas. Este ano há uma revisão do eleitorado e um candidato como o ex-presidente Lula (PT), fora da prisão, sem as condenações, absolvido, não devendo nada para a justiça. Temos um cenário muito diferente com o acirramento da polarização, que está muito maior.
Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Marina Fávaro
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