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Além da busca por saúde e liberdade, a pandemia da Covid-19 também acelerou o fenômeno
Por: Luís Felipe Buzzetti e Marina Fávaro
Nos últimos anos, os discursos e os comportamentos que dizem respeito ao envelhecimento se alteraram. Com o objetivo de romper com a imposição estética e, sobretudo, a obsessão pela juventude eterna, surge o fenômeno da “Revolução das Grisalhas”, em que mulheres passaram a abandonar a tintura dos cabelos em busca de saúde, liberdade e identidade.
O etarismo é um preconceito baseado na idade das pessoas, podendo ser dirigido a qualquer faixa etária. Segundo o Relatório Global sobre Etarismo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), 16,8% dos brasileiros com mais de 50 anos já se sentiram vítimas de algum tipo de discriminação ligada à idade. Para a fisioterapeuta e gerontóloga Mariana Santimaria, o etarismo na velhice é mais impactante, pois é uma discriminação pervasiva e estrutural, além de afetar, de modo mais nocivo, as mulheres.
Em conformidade a isso, pesquisadoras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) detectaram que o etarismo afeta mais o público feminino. Em entrevista à TV UFMG, a coordenadora da pesquisa Marlise Matos diz que existe uma tendência da sociedade em valorizar a aparência física feminina e, com isso, há uma tentativa de apagar as marcas do envelhecimento, o que pode ser exemplificado através da pintura dos cabelos.
Isso acontece em virtude da supervalorização da juventude e da pressão estética à qual o público feminino é submetido desde a infância. Sobre a primeira, a gerontóloga Mariana explica que existe uma tendência de ver a juventude como um atributo positivo. Ela ainda ressalta que a velhice, por outro lado, possui dois extremos: a velhice decadente e a velhice ativa, com características juvenis. Em relação à pressão estética, a psicóloga Júlia Grannier afirma que “colocada em posição de desejo e objetificação, o corpo e a aparência feminina têm passado ao longo dos anos por diversos padrões considerados desejáveis”, contribuindo para que as mulheres vivam relações complexas com o próprio corpo.
Nos últimos anos, há uma tendência de as mulheres assumirem os fios grisalhos. De forma indireta e mesmo sem saber, elas acabaram rompendo com a imposição estética e consequências etárias às quais são condicionadas. Com a pandemia da Covid-19 e, consequentemente, com as restrições sanitárias, essa tendência se intensificou, pois permitiu a transição do cabelo colorido para o grisalho.
Para a professora de Relações Públicas da PUC-Campinas Cíntia Liesenberg, esse fenômeno foi acentuado durante a pandemia devido ao tempo de reclusão, mas também em virtude de um posicionamento de valorização social e política em relação ao envelhecimento, rompendo com a associação entre mulher e juventude. “Por estarem reclusas em casa e com a imagem menos exposta, mulheres se livraram da necessidade de pintar o cabelo. A internet também foi responsável por favorecer essa transição”, ressalta.

A contadora Valéria Barssi (55) conta que a pandemia foi um incentivo para assumir os fios brancos. “Na realidade, eu sempre tive vontade, mas, durante a pandemia, eu criei coragem para assumi-los”, diz. Nas palavras da cabeleireira Rosinei Silva (50), que também deixou de pintar o cabelo durante a pandemia, “muitas vezes, pensei em voltar a colorir o cabelo, porque me sentia velha e desleixada”.

Além da vontade individual e das questões de saúde, Valéria e Rosinei afirmam que foram influenciadas a assumirem os cabelos grisalhos por causa de celebridades que também os assumiram, como a Glória Pires. Nessa perspectiva, a professora Cíntia revela a importância das figuras públicas assumindo os fios grisalhos, haja vista que, para ela, “são pessoas que têm voz e presença conquistada, além de já saberem lidar com esse meio”. As celebridades são capazes de influenciar e, portanto, naturalizar a tendência por meio da própria aparência.

No entanto, apesar de intensificada na pandemia, a tendência não é recente. Prova disso é a aposentada Neide Domingues (64), que deixou de tingir o cabelo há cinco anos por questões de saúde. Ela afirma que recebeu comentários maldosos até mesmo da própria família e que, em muitos casos, esses comentários acabam estimulando mulheres a desistirem do processo, o que não aconteceu com ela.

A maquiadora Giovanna Visnardi (35) que possui fios grisalhos desde os 18 anos por causa de fatores genéticos também deixou de pintá-los antes da pandemia. Ela afirma que foi um processo lento e difícil, uma vez que “ao assumir os cabelos grisalhos, você também acaba assumindo que não tem mais 20 anos”. Ela diz que quando deixou de pintar os cabelos, o assédio também diminuiu. Segundo a psicóloga Júlia, o envelhecimento não é visto como algo desejável e, consequentemente, o assédio acaba sendo minimizado.
Tanto a contadora Valéria e a cabeleleira Rosinei, que foram influenciadas por celebridades, quanto a aposentada Neide e a maquiadora Giovanna, que em virtude do pioneirismo na tendência não foram influenciadas por famosas, afirmam que se sentem fazendo parte da história, porque acabam inspirando mulheres do próprio círculo social a também assumirem os fios grisalhos. Pensando nas futuras gerações, elas acreditam que fazem parte de uma geração de mulheres responsáveis por naturalizar essa tendência.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Sophia de Castro
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