Cultura & Espetáculos
Artistas comentam que a Prefeitura de Campinas não disponibiliza a Cultura como um direito universal
Por: Amanda Atalaia e William Castro
A reabertura dos centros culturais, teatros e salas de espetáculos de Campinas, trouxe de volta o debate sobre os repasses e incentivos da Prefeitura Municipal aos movimentos culturais da cidade. Com uma população de mais de 1,2 milhão de pessoas, segundo dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a questão traz à tona como o poder público municipal manuseia e distribui seus recursos para as atividades culturais.
Em entrevista via web conferência para o Digitais, Tiche Vianna, diretora e pesquisadora do Barracão Teatro, espaço de investigação e criação cultural localizado no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, reforça seu ponto de vista e sua indignação referente à prefeitura da cidade. “Os eventos culturais promovidos pela Secretaria de Cultura não chegam aos pés do tamanho da produção cultural da cidade, ela deveria fazer muito mais, ela tem condição de fazer muito mais, ela tem o que fazer”, sugere.
O Barracão Teatro, segundo ela, é um espaço agregador de fazedores de cultura dentro da criação cultural e da comunicação das artes, e ele surgiu com o objetivo de trazer as pessoas para dentro do teatro e fazer com que elas acreditem que o espaço teatral é um espaço para todos, e não somente um espaço intelectual e universitário. “Todo mundo teve que lutar por todo mundo, então investimos nesse lugar e esse é um lugar público e o lugar de políticas públicas”. Como exemplo do que venha a ser a importância do investimento do poder público na área cultural, Tiche Vianna, ressalta o que ocorreu durante a pandemia quando o espaço criou peças que foram transmitidas de forma online, sem receber nenhum incentivo.
De acordo com a artista, a cidade tem um potencial que as próprias universidades trouxeram, com inúmeras atividades culturais acontecendo ao mesmo tempo, porém elas não se cruzam. Tiche detalha que uma vez o Barracão Teatro foi se apresentar no Centro de Convivência, no Centro da cidade, e a questionaram sobre de onde o grupo viera. “A cultura faz a gente se sentir pertencendo a um lugar, então a gente investe em cultura para fazer o cidadão lutar pela sua cidade. A gestão pública de Campinas precisa aprender a fazer isso pela cidade, ela faz isso só para um núcleo empreendedor, para uma certa elite”, protesta.
Já Adriano Bueno, funcionário concursado da Secretaria de Cultura, militante e membro do CONDEPACC (Conselho de Patrimônio Histórico e Cultural de Campinas) da cidade, afirma ter uma perspectiva bastante crítica do trabalho que vem sendo feito pela prefeitura. Ele adiciona que grande parte dos equipamentos culturais da cidade estão abandonados, como as casas de cultura, as bibliotecas e os museus. “Eles estão em situação de precariedade”. Além disso, Adriano expõe que a secretária de cultura é uma empresária do ramo de transportes da cidade e, segundo ele, ela sequer é do ramo da Cultura. “O que ela desenvolve é apenas um trabalho que visa atender interesses do capital na cidade, interesses que se contrapõem ao interesse público, ao interesse conjunto da população”, acredita.
Adriano ainda afirma que muitas das atividades que acontecem na Estação Cultura são independentes e não têm apoio algum da Secretaria de Cultura, só cedem o espaço, mas são as pessoas que organizam suas atividades, desde divulgação a aluguel de equipamentos. Já para Tiche, a Estação é um dos maiores territórios culturais da cidade de Campinas. “Ela agrega artistas de vários lugares, de várias linguagens e vários tipos de cultura, do artesanato ao teatro, passando pela arquitetura, música, poesia, violeiros antigos, hip hop, dança de rua”, revela.
Marina Amadeu e Marcelina Silva, integrantes da ONG e Companhia de Dança Eclipse, treinavam breaking em um dos auditórios da Estação Cultura, disseram que não conhecem nenhuma atividade cultural promovida pela prefeitura, e sentem que os incentivos culturais não partem da prefeitura de Campinas, e sim do PROAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo) que disponibiliza recursos para eventos e espetáculos os quais elas participam.
De acordo com Ricardo Pereira, coordenador de Teatros e Auditórios de Campinas, a cidade manteve suas atividades de forma reduzida durante a pandemia, com a realização de gravações, além de peças de teatro com o público reduzido durante a fase amarela. Segundo ele, o retorno do público aos espetáculos foi se normalizando aos poucos, e dois exemplos com grande público foram a apresentação da Orquestra Sinfônica e o Concerto para Dois, musical da atriz Cláudia Raia.
O administrador afirma que, além desses espetáculos, a prefeitura também fomenta a produção cultural local, através do edital FICC (Fundo de Investimentos Culturais do Município de Campinas), em que o produtor deve se inscrever, aguardar aprovação para contemplação, e ao final do processo recebe uma quantia para custear os gastos de produção e apresentação de espetáculo ou de outros meios artísticos.
Questionado em relação à Estação Cultura, tombada pelo CONDEPACC, considerada por muitos o maior patrimônio histórico-cultural da cidade, o coordenador diz que a Estação Cultura é um grande polo cultural de Campinas, que recebe diariamente pessoas com muita diversidade cultural. Segundo ele, lá acontecem ensaios de grupos e oficinas, e no último mês os eventos foram retomados com força. Ele completa dizendo que, além de ceder os espaços na Estação Cultura, a prefeitura sempre deu incentivo para as produções locais da cidade.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Editor: Sophia de Castro
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