Destaque
O ex-ministro Renato Janine Ribeiro adverte para a revisão que deverá ser feita em 2022
Por: Laura Nardi
Criada em agosto de 2012, a lei que prevê cotas para ingresso nas universidades federais (Lei 12.711/2012) deverá ser revista em 2022, quando completará dez anos em vigor. A revisão do dispositivo legal, sob o governo de Jair Bolsonaro, levou preocupação ao debate “Universidade do futuro”, ocorrido nesta terça-feira (5), promovido pela Folha de S. Paulo.
“Se não houver inclusão, não há futuro”, afirmou o ex-ministro da Educação e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro. Para ele, assim como para os demais participantes do evento, a manutenção da política de cotas é indispensável para buscar reduzir o grau de desigualdades historicamente elevado no país.
Para Janine, a universidade no Brasil sempre foi elitista e excludente. O país se democratizou com acesso mais amplo à universidade em função das políticas de ação afirmativa – popularmente chamadas de cotas – as quais abriram mais espaço para alunos oriundos da rede pública, baixa renda, negros, pardos e de origem indígena. As cotas determinam que todas as universidades federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia reservem, obrigatoriamente, 50% das vagas de cada curso para tais grupos, permanecendo os demais 50% das vagas sujeitas a ampla concorrência.
“A política de cotas foi criada no governo Lula e reiterada no governo Dilma, sendo intensificada naqueles mandatos. De lá para cá, elas foram mantidas tais e quais, sem mais entusiasmo, sem mais estímulo e sem mais incentivo”, disse o ex-ministro, que teme retrocesso desse projeto, amplamente avaliado como fundamental para a redução da exclusão social.
De acordo com o ex-ministro, “temos que estar atentos para vigiar o governo federal, porque, diante das últimas declarações, ele é perfeitamente capaz de, em algum momento, baixar uma medida provisória que sabote as cotas. Isso não me espantaria”, alertou Janine, dizendo ser evidente que o governo Bolsonaro não tem o menor interesse de melhorar o ensino público e promover a inclusão social.
Presente do no bate, Silvana Bahia, coordenadora da Pretalab, – uma iniciativa de estímulo às mulheres negras na tecnologia – salientou que as políticas de ação afirmativa são urgentes e importantes. Para ela, o acesso à educação continua sendo um privilégio no Brasil de 2021, mesmo que hoje exista um dado positivo de que 50,3% dos estudantes de universidades públicas sejam negros. Segundo disse, a universidade do presente ainda está significativamente ligada à desigualdade estrutural da sociedade, mas que, quando se pensa em acesso, a política de cotas foi a mais efetiva já adotada para pensar a transformação social e uma mobilidade econômica das pessoas negras no país.
Silvana disse ter sido a primeira pessoa de sua família a ingressar em um curso superior, tendo essa porta sido aberta pela política de cotas. “Quando falo que eu sou a primeira pessoa da minha família a acessar a universidade, não é uma história especial minha. Na verdade, é uma história de muitos, dos que só vão chegar à universidade a partir de políticas de ação afirmativa”.
Cofundador da 99jobs, uma comunidade colaborativa de carreira, Eduardo Migliano comentou como esse contraste estrutural impacta o quadro “pós-faculdade”, quando da inserção no mercado de trabalho. Segundo disse, os processos seletivos de empresas no Brasil reproduzem o racismo estrutural. “Toda a seleção, todos os vieses e todos os olhares são geradores de racismo estrutural”, afirmou.
Sendo a Lei de Cotas para o ensino superior aplicada nas instituições de ensino federais, nas universidades particulares a política de bolsas e financiamentos estudantis é definida por regime próprio. As unidades da PUC (Pontifícia Universidade Católica), por exemplo, localizadas em campus em seis estados brasileiros, podem aderir a dois outros instrumentos oferecidos pelo Governo Federal: o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e o ProUni (Programa Universidade para Todos), que auxiliam no ingresso e na permanência de alunos de baixa renda em instituições privadas de ensino superior.
Professor da PUC-SP e pesquisador do Núcleo de coordenação de iniciativas e serviços de internet (NIC.br), Diogo Cortiz destacou a relevância de políticas inclusivas na universidade particular como uma “ponte entre realidades distantes, trazendo uma transformação social”. Ele contestou argumentos que atribuem a universitários bolsistas a possibilidade de queda de qualidade do ensino na instituição privada.
“É totalmente o oposto. Pelas experiências que a gente tem enquanto corpo docente, esses alunos entram com uma garra e vontade tão grandes, que eles sobem muito o nível dos cursos”, avaliou o professor Cortiz.
Aqui, acesso ao seminário “Universidade do Futuro, 2º dia”, promovido pela Folha de S. Paulo.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Fernanda Almeida
Veja mais matéria sobre Destaque
Provão Paulista incentiva estudantes da rede pública
Desde 2023, a prova seriada se tornou porta de entrada para as melhores universidades do Estado de São Paulo
Sistema de Educação ainda requer ajustes para incluir alunos PcD na educação física
Apesar dos avanços na educação, alguns profissionais ainda se sentem despreparados para lidar com esse público nas aulas
Revolução na luta contra Alzheimer: Unicamp lidera avanços com IA na inovação farmacêutica
Pesquisas inovadoras unem tecnologia e biociência na busca de tratamentos eficazes para doença neurodegenerativa
Projeto social promove atividades pedagógicas em escolas de Campinas
São pelo menos 280 jovens mobilizados nos encontros e quatro escolas que abraçam as atividades propostas
Valinhos é eleita a cidade mais segura do Brasil em 2024
Uso de tecnologia e aumento de 30% no efetivo da Guarda Civil Municipal aumentam a segurança e a qualidade de vida na cidade
Novembro Azul destaca o papel da hereditariedade no avanço do câncer de próstata
Especialista explica como o fator genético pode acelerar o câncer masculino