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Reconhecendo a dificuldade, o empreendedor Hélio Paschoal diz que mercado comporta outra publicação
Por Anna Luiza Scudeller
Neste sábado (11), algumas bancas de Campinas recebem a nona edição do Diário Campineiro, publicação semanal que aspira se transformar em mais um jornal impresso com circulação diária no município. “Estamos quebrando a cabeça aqui todo dia, ralando pra caramba”, disse o empreendedor Hélio Paschoal, que falou em depoimento por áudio ao Digitais, reconhecendo o desafio que tem pela frente.
“O jornalismo hoje é difícil em qualquer formato”, ponderou esse ex-editor de economia e negócios do Correio Popular, onde trabalhou por 20 anos. Formado em jornalismo pela PUC-Campinas, Paschoal, 55 anos, é também um dos responsáveis pelo portal noticioso Radar C, empreendimento que atua em regime de parceria com o novo semanário, onde trabalha a mesma equipe editorial. Com média de 20 páginas em tamanho standard, o Diário Campineiro – lançado na comemoração dos 247 anos da cidade, em 14 de julho – chega às bancas com preço de capa de R$ 4,00 ou pode ser obtido por assinatura. A seguir, as respostas de Paschoal às indagações do Digitais:
O cenário para os jornais impressos não é dos mais alentadores diante do digital. O que o levou a criar um novo jornal impresso na cidade de Campinas?
A decisão de apostar em jornal impresso na realidade não foi minha, foi de toda equipe. Todos nós que compomos o Diário viemos do jornalismo impresso. Somos todos completamente apaixonados por isso, e sentimos falta de uma segunda publicação em Campinas, que é uma cidade enorme, com espaço, e que merece mais do que uma única alternativa de jornal. Sabemos das dificuldades enormes do mercado, mas se você for avaliar friamente, o virtual não é mais fácil que o impresso. O jornalismo hoje é difícil em qualquer formato. Os dois, o impresso e o virtual, dependem de dois fatores principais. Um é a qualidade do conteúdo que eles oferecem e o outro é o leitor. Se o conteúdo não for bom, não for de qualidade e não for atraente, cedo ou tarde o próprio mercado vai perceber. E você vai perder os anunciantes, que é o que sustenta o online. Quanto ao leitor, o consenso geral é que o apreciador do bom veículo impresso acabou, mas a gente acredita que não.
Embora tenha o nome de Diário Campineiro, o jornal ainda circula com edições semanais. O interesse é se transformar em jornal diário em algum momento?
Sim, a intenção é se tornar um jornal diário. Claro que isso depende muito do que será o mercado daqui para frente. Estamos apostando um pouco na retomada da economia com a pandemia mais sob controle, o mercado voltando a se agitar… Com a economia voltando a andar, pode ser que se abra aí uma boa perspectiva. Nossa equipe hoje é muito pequena. Uma publicação diária implica numa série de outros investimentos, em pessoal, em uma redação física, está todo mundo trabalhando online ainda. A gente tem uma redação, que é a do site, que a gente usa eventualmente, mas seria necessário um investimento, um aporte muito maior. Por ora, circulamos semanalmente, apesar de o nome ser Diário Campineiro, mas é um nome que já foi pensado nessa possibilidade futura. Pode demorar um bom tempo para chegarmos lá, mas a intenção sem dúvida é virar um jornal diário.
O Diário Campineiro afirma que um dos seus objetivos é entregar ao leitor a notícia sem qualquer tipo de viés político, para que ele possa tirar suas próprias conclusões. Como isso será possível? Quais estratégias serão adotadas para isso? O jornal não contará com opiniões?
A gente se refere a isso com relação aos textos que publicamos, as reportagens e as matérias, e vemos nisso um dos grandes diferenciais que temos. Nós, editores, não colocamos nossas opiniões em nenhum texto, e evitamos até fazer isso em título. A gente brinca muito com título, faz uns títulos criativos, mas não emitimos opinião. A mídia brasileira no geral se desviou da função primordial do jornalismo, que é informar, e passou a desenvolver paixões e levantar bandeiras a favor disso, a favor daquilo, contra isso, contra aquilo, e aqui vai desde política até determinados grupos sociais. Então, quando você vê uma matéria, por exemplo, sobre o Bolsonaro, você nunca vai ver uma notícia. Vou te dar o exemplo das manifestações de ontem [7 de setembro]: você pode pesquisar na mídia, impressa ou online, e você vai ver que elas foram antidemocráticas ou foram reflexo da vontade do povo. Bom, para a gente, o leitor é tudo menos burro. Ele quer a informação sobre as manifestações. Ele quer ver as fotos das manifestações, os cartazes desse ou daquele, quer os dados sobre os números de pessoas e ele quer ouvir o que o presidente disse. Isso é notícia, o resto é juízo de valor. Se foi antidemocrático ou se o presidente é um canalha, ou se foi a voz do povo e o presidente é um santo, e a voz das ruas que foi ouvida e a esquerda que é calhorda… Quem tem que chegar a essa conclusão é o leitor e apenas o leitor. É nesse sentido que a gente fala que não emite opinião, não fazemos comentários dentro dos textos, por respeito e por direito às pessoas de tirarem suas próprias conclusões. A nossa função não é doutrinar, e sim é informar. As conclusões devem ser por parte de quem nos lê, com base em dados e fatos, apurados e checados. Claro que se um entrevistado nosso emite uma opinião, ele está no direito dele de fazer isso e sempre será respeitado. Para opinião, existe o espaço dos artigos, na página 2 do jornal, e uma parte também no site, que é totalmente democrático e aberto a todos que quiserem expressar suas opiniões, sejam a favor disso ou daquilo. Também não julgamos isso, a gente recebe o material. Se for um material interessante, bem escrito, bem elaborado, sem dúvida nenhuma ele será publicado.
O Diário Campineiro tem uma relação com o portal Radar C, aqui de Campinas. Por acaso, os dois empreendimentos vão operar em conjunto?
Sim, o Diário Campineiro e o Radar C na verdade já operam de maneira integrada. É tão integrado que a equipe dos dois veículos é a mesma, são os mesmos editores. O conteúdo dos dois é compartilhado livremente. São veículos formalmente independentes, o que não quer dizer que sejam uma empresa só. São duas coisas diferentes, geridas de maneiras distintas, mas que trabalham estritamente dentro dos mesmos princípios de isenção editorial, sempre buscando qualidade e sempre tentando levar o máximo de assuntos diferentes para o leitor. Queremos, principalmente, incitar a leitura, que é uma coisa que está fazendo muita falta. E para isso tentamos ser o mais variados possível em termos de assuntos. A gente fala de praticamente tudo, varia muito o conteúdo editorial do jornal e do site.
É um pouco difícil encontrar o jornal nas bancas de Campinas, especialmente nos bairros. Por acaso, a intenção é atuar com assinaturas?
Ainda somos um produto muito novo. Tem muita aresta para aparar, um monte de problemas para resolver, e um deles é essa questão da distribuição. A nossa meta é que as assinaturas cheguem a um determinado volume que nos sustente, que nos permita continuar existindo independente de qualquer outra coisa. Contudo, também é um processo que leva tempo, é algo a ser perseguido constantemente. Acreditamos que chegaremos lá, mas também leva tempo, não é uma coisa que a gente vai resolver do dia para noite, mal chegamos no mercado. Ainda precisamos conquistar a confiança do leitor, a preferência do leitor, e isso é um processo que leva algum tempo. Mas sim, estamos trabalhando para isso.
Ao que sabemos, você teve uma passagem pelo Correio Popular. Poderia fazer uma relação dessa passagem com o projeto Diário Campineiro?
Em relação à passagem pelo Correio, todo mundo aqui, que faz parte desses dois projetos, passou pelo Correio. Foi a nossa grande escola no jornalismo impresso. Trabalhei como editor lá por mais de vinte anos. Vários dos meus colegas que estão agora comigo aqui na redação também, mas não tem como relacionar uma coisa com a outra. O Correio Popular e o Diário Campineiro são projetos totalmente diferentes e com posturas completamente distintas. A única correlação que podemos fazer é que todos aprendemos lá a fazer jornal impresso, e hoje estamos aplicando o que aprendemos lá da forma que a gente sempre desejou usar. Não temos empresário, nem político, nem ninguém por trás do jornal e nem por trás do site. Somos nós mesmos que estamos fazendo, que estamos quebrando a cabeça aqui todo dia, ralando pra caramba, passando por grandes dificuldades financeiras, todos nós. Porém, estamos apostando nesses dois projetos. A gente, pela primeira vez, é livre para desenvolver um trabalho que sempre quisemos desenvolver, tomando as nossas decisões, trabalhando e fazendo o jornal e o site em conjunto. É um novo aprendizado para todos nós, mas que estamos encarando, apesar de todas as dificuldades, com um prazer enorme, e esperamos que se reflita nos dois produtos que estamos fazendo, tanto no site quanto no jornal.
Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti
Edição: Fernanda Almeida
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