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Instagram, e Serviços de Stream são ferramentas, mas o desafio está nas demandas das redes
Por Bruna Niro e Vítor Rossetto
Não é novidade para ninguém o fato de que a expansão das mídias sociais modificou as dinâmicas na sociedade. O e-commerce talvez seja uma das maiores apostas da indústria no momento. Entretanto, por sua vez, o marketing e o desenvolvimento pessoal dentro do ambiente digital, tornou-se ferramenta indispensável para quem quer consolidar ou construir uma marca.
Segundo a pesquisa de 2020 realizada pela Cuponation, um sistema de descontos online, feita em parceria à Statista, empresa especializada em análise de mercado e consumo, houve no Brasil um crescimento de 20% de usuários nas redes sociais, batendo 141.45 milhões de pessoas ativas, somente na metade do ano. Acredita-se que o aumento se deu devido às medidas de isolamento provocadas pela pandemia de coronavírus.
Ao olhar para todo esse cenário, os artistas se depararam com uma nova forma de publicitar o próprio trabalho. Desenhistas, fotógrafos, músicos, artistas plásticos e performers, não só produzem, mas também, compartilham e comercializam os resultados de seus trabalhos através dos feeds do Facebook, Instagram e Twitter.
Ao trabalhar com o Instagram e também com outras plataformas digitais como o serviço de StreamSpotify, o duo de produtores musicais, conhecido como Deekapz formado em 2014 pelos jovens de Hortolândia, Mateus Henrique dos Santos, de 24 anos, e Paulo Vitor, de 23 anos, relatam ter encontrado inúmeros desafios dentro da plataforma de comunicação. Inicialmente, a construção de uma identidade visual, a profissionalização da produção de conteúdo, poderia ter sido um grande obstáculo, entretanto, os jovens puderam contar com a presença de um diretor criativo que os auxiliou na construção e no gerenciamento das mídias digitais.
Um dilema encontrado pelo Deekapz, levando em conta principalmente o ambiente digital e a situação pandêmica em que o Brasil se encontra, é a relação entre número e processos de criação. O Instagram, bem como outras redes sociais, possui uma dinâmica de atualização quase que frenética e isso de certa forma afeta a maneira em que os materiais são pensados e produzidos. “Quando a gente vai se rendendo a esses aplicativos a essas novas ferramentas e maneiras de divulgação a gente acaba perdendo nossa criatividade. Porque como é gerado a criatividade? Com o seu bem estar! E se sentir pressionado nesse canário, sem shows, vivendo só de streaming, essa pressão vai acumulando e gerando bloqueios criativos”, relata Paulo.
O Instagram tornou-se o principal canal para a maioria dos artistas que trabalham com as redes sociais como meio de divulgação, justamente por ser um espaço quase democrático que abre oportunidades para aqueles que desejam não só divulgar, mas também dialogar com o público e até comercializar através da rede.
Compartilhar nunca havia se tornado algo tão habitual, e ainda que tal atitude tenha sido implementada de forma gradual – ou nem tanto – o fluxo de criação de conteúdo não se dá, de maneira alguma, de forma artificial. Por trás de fotos, músicas, vídeos, pinturas e poesias que rolam na vertical pelos meios digitais, existem indivíduos responsáveis por pensar, produzir e publicar os produtos que alimentam a timeline das redes sociaise dos serviços de Stream. O processo criativo, no entanto, considerando sobretudo o nicho das artes e da cultura, exige estratégias e até dinâmicas de autocuidado para lidar com as demandas do ambiente digital.
Questionada sobre as dinâmicas do Instagram, a diretora e jornalista da Agência Contatto, Talita Scotto, de 34 anos, diz que é imprescindível que os artistas estejam se firmando por lá, uma vez que a rede proporciona ferramentas e formatos que agregam muito no fazer criativo e comunicacional. Entretanto é necessário também ficar em alerta, já que o Instagram é uma instituição que pode a qualquer momento mudar a forma de se relacionar com os seus usuários. “É sempre válido pensar que é uma plataforma emprestada, que está sendo utilizada de acordo com os próprios critérios da rede” enfatiza a jornalista.
Entre processos de criação, desafios, obstáculos e por meio de um espaço proporcionado, não somente, mas também pelas redes sociais, os jovens conquistaram importantes títulos e conseguiram se firmar na indústria fonográfica. Paulo e Mateus, além de serem ouvidos por pessoas de aproximadamente 72 países de acordo com o Spotify, participaram também de boa parte da produção musical do álbum e do projeto audiovisual “Bluesman” do Rapper Baco Exu do Blues que, posteriormente veio a ser premiado no Festival de Cannes.
O uso das redes sociais para venda de produtos
As redes sociais como meio de rentabilidade têm se tornado habitual e, facilitado por vezes as relações de consumo. A Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD) afirma em um estudo publicado em outubro de 2020 que a venda em redes sociais teve um engajamento de 14,9 %. Para Talita Scotto, “o e-commerce de toda forma veio para ficar há tempos. As redes sociais, só completaram integrando plataformas e ampliando a experiência do consumidor, tornando uma extensão na comunicação e na venda”, afirma a diretora da agência Conttato.
Todavia, os formatos em que as relações mercantis se dão dentro do espaço das mídias sociais, não são resumidos à forma tradicional – aquela que é integrada a recursos e plataformas majoritariamente comerciais. O artista multimídia e estudante de artes visuais na Unicamp, de 19 anos, João Botas, por exemplo, trabalha com a venda em um formato ‘artesanal’ em que as informações sobre preços, fretes e tamanhos de obras estão explicadas em um material previamente produzido. “Comecei a vender há menos de um ano, quando a pandemia impediu a realização de feiras expositivas, das quais participava” completa o estudante.
As formas como os artistas utilizam as suas redes é bastante diversa. Botas, embora trabalhe com a venda nesse formato ‘artesanal’, ele utiliza também da plataforma, como um portfólio, mas em momento algum, o jovem se desvincula de seu trabalho enquanto pessoa. As mídias sociais para ele assumem um importante papel na atualidade: “averdade é que artistas e trabalhadores da cultura em geral precisam de espaços para mostrar seus trabalhos. Espaços formais de exposição já são difíceis normalmente, e na pandemia, o acesso me parece ter ficado ainda mais distante. As redes sociais se configuram então, como plataformas possíveis para nós que estamos buscando nos construir, crescer dentro de comunidades artísticas emergentes, buscar apoio e alguma forma de sustento financeiro para que possamos continuar”, acredita.
Assim como a dupla de produtores musicais – Deekapz – Botas também enxerga e lida com as ambiguidades proporcionadas pelas dinâmicas das redes sociais. O jovem que ilustrou a capa do livro ‘Letra Solta: Memoriais da Quarentena’ (2021) e participou do curta animado ‘Quando tudo isso passou’ (2020), conta que se sentiu sobrecarregado com as lógicas de compartilhamento, curtidas e engajamento.
O estudante e artista multifacetado de 19 anos, que carrega em seus trabalhos resultados de acúmulos e experiências, sejam internas ou externas diz que o tempo digital não respeita o tempo de criação artística. “Isso é algo que precisa estar muito claro para nós se não quisermos nos deixar afetar demais pela pressão gerada por essa demanda dos feeds infinitos. A criatividade não é um processo linear, é uma rede que se constrói com o tempo e precisa, dentre outras coisas, do ócio para aflorar”, explica.
A dualidade promovida pelo Instagram e por outras redes sociais salta para fora das telas. Ora as plataformas assumem um importante papel na divulgação e na comercialização de produtos e, em um outro momento, os números e até o alcance gerado pelo algoritmo já está a comprometer o fluxo de criação de artistas e produtores de conteúdo. Lidar com os extremos talvez seja, no momento, para grande maioria, o principal desafio a se encarar no mundo digital.
Orientação: Prof. Gilberto Roldão
Edição: Letícia Almeida
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