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Encontro sobre o tema trouxe a professora Lucia Santaella e o jornalista Caio Costa
Por: Leonardo Fernandes
O jornalista e doutor Caio Túlio Costa e a professora da ECA/USP Lucia Santaella debateram sobre o tema da Pós-Verdade nos veículos de mídia atuais durante um evento online, transmitido pelo YouTube, na última quinta-feira (1). A live foi mediada pelo doutor em Criminologia e pesquisador Danilo Cymrot, e faz parte da programação do SESC São Paulo que organiza uma série de eventos chamada “Em Casa Com Sesc”, na qual exibe espetáculos musicais, apresentações de teatro e rodas de bate-papo.
Lucia iniciou a conversa abordando a popularização do termo “pós-verdade” na sociedade, levando em consideração os cenários políticos que surgiram no mundo nos anos 2010. A palavra, segundo a professora, foi muito utilizada quando o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assumiu a presidência em 2016. “Foi quando começou a ser discutida a possibilidade de algo aparentemente tão impossível, enfim acontecer. Nisso, surgiu também a ideia de fake news, que são mensagens feitas para nos enganar e alterar o que conhecemos como verdade de forma comum”, disse.
A livre docente em Ciências da Comunicação aprofundou a ideia ao falar sobre as redes sociais e como elas trazem poder ao usuário. Para Lucia Santaella, a internet está passando por uma “disseminação diluvial” de informações falsas e pós-verdades. “A verdade perdeu a importância. A mentira mudou de escala nas redes e, de repente, as pessoas se julgam capazes de proliferar informações sem que elas tenham segurança ou responsabilidade alguma. Isso se transforma numa disseminação de fakes, pois vivemos em bolhas que nos devolvem aquilo que já acreditamos, sem procurar por algo novo”.
O jornalista Caio Costa acredita que o termo “pós-verdade” romantiza uma situação que é inerente à sociedade desde sempre: a própria mentira. Para o jornalista, a ação de mentir se propagou de maneira estrondosa pela repercussão que as redes sociais deram. “Por mais que a gente critique a pós-verdade, só o fato de darmos vida a ela nos nossos discursos já faz com que se torne algo grande para ficarmos com o pé atrás”, falou.
Costa ainda pontuou a crise que a indústria da comunicação enfrenta hoje com a propagação desenfreada de fake news. “Ela é muito afetada. A comunicação trabalha com a credibilidade, e ela está sendo prejudicada no mundo todo por esses fatos baseados em notícias falsas, em agressões ao jornalismo. A indústria vive não só uma, mas várias crises e é um sistema tradicional decadente, principalmente nos jornais mais antigos”. Além disso, para Caio, a indústria da comunicação perdeu o chamado “protagonismo da informação”, a partir do momento em que as pessoas começaram a compartilhar fatos por conta própria, como em contas nas redes sociais ou chats de bate-papo.
“O problema das fake news está nas suas consequências pragmáticas”
Quando perguntada sobre a possibilidade de alguém ser mais vulnerável às fakes, caso a pessoa querer defender algo que lhe é altamente conveniente, Lucia diz que o problema não está na mentira da notícia falsa em si, mas sim nas suas consequências. “Não existe verdade absoluta, até porque a própria mentira também tem graus: gentis, bondosas, protetoras ou desculpáveis. A questão se localiza nas consequências pragmáticas que uma mentira pode provocar, pois ela fere a possibilidade saudável de uma vida social”.
“Para as pessoas que acreditam na falsidade da informação, a vida não deve ser colocada à prova de uma nova ideia que as estimule a mudar. Isso existe no futebol, na política e até no meio acadêmico, com autores renomados da filosofia e sociologia”.
Santaella acredita que a melhor forma de combater os conceitos de pós-verdade e as fake news é uma boa educação, que esteja aberta para se desenvolver no que a atualidade necessita. Nas palavras da professora, é preciso abrir o pensamento e tomar cuidado para não se tornar um proliferador de mentiras. “Se a educação não enfrenta a grande mudança antropológica que estamos passando, ela ficará completamente obsoleta. Educadores devem abrir os olhos, e o espírito, daqueles que detém a ética da curiosidade e da suspeita”, disse.
“Hoje, qualquer coisa que nos chega deve ser posta sob suspeitas brandas e fortes. Por isso, ao invés de cliques tempestivos, temos que abrir o pensamento e tomar cuidado para que nós não nos tornemos vinculadores do desmanche da verdade”, concluiu Lucia.
Orientação: Profa. Amanda Artioli
Edição: Profa. Amanda Artioli & Leonardo Fernandes
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