Destaque

Pesquisadores propõem requalificar Semana de 22

Berriel e Ruy Castro querem que centenário “estude a fundo” o movimento modernista           

Ruy Castro: “Se não acontecia primeiro no Rio, não acontecia em lugar nenhum” (Imagem: YouTube)

Por Vitória Landgraf

A melhor maneira de comemorar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 – no ano que vem — será relativizar a importância do movimento considerado por São Paulo um divisor de águas na cultura brasileira, cuja intenção foi deslocar para os paulistas o protagonismo que o Rio de Janeiro, então capital do país, desempenhava na produção cultural do período. Foi o que propuseram o escritor e jornalista Ruy Castro e o professor de História Literária, da Unicamp, Carlos Eduardo Berriel, em seminário promovido pelo canal do Sesc no YouTube.

“Não é tudo o que dizem, é bem menos”, comentou o historiador da Unicamp, autor do livro “Tietê, Tejo, Sena”, obra que investiga as conexões entre o Modernismo e a elite paulista dos barões do café. Ruy Castro, colunista da Folha de S. Paulo, morador do Rio de Janeiro e autor do recém-lançado “Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 20”, foi na mesma direção: “o soneto já havia acabado, anos antes, no Rio”, observou ao mencionar uma das heranças atribuídas à Semana de 22. O evento ocorreu remotamente na tarde de quarta-feira, 31.

Segundo Berriel, a consagração da Semana de 22 como um marco do Modernismo é uma ideia equivocada, construída exclusivamente pelos modernistas de São Paulo, “pelo pessoal da USP”. O pesquisador também enfatizou que a repercussão da Semana de Arte Moderna é fruto de uma autoavaliação dos artistas paulistas, como o poeta Mário Andrade, um dos fundadores do Modernismo no país. “Ser o narrador da sua própria saga é dar ênfase àquilo que você acredita ser importante”, completou Ruy Castro.

Nos anos iniciais da década de 20, o Rio de Janeiro já era uma metrópole dinâmica e aberta às novidades – observou Castro – ao acentuar que os paulistas praticamente excluíram a participação dos cariocas na Semana de Arte Moderna. “Se não acontecia primeiro no Rio, não acontecia em lugar nenhum”, contou Ruy Castro, autor de obras que esmiúçam a modernidade do Rio de Janeiro no século XX.

O escritor também ressaltou a participação de alguns poucos artistas cariocas, como Di Cavalcanti e Ronald de Carvalho, responsáveis por estimular grandes artistas a fazerem suas exposições naquele evento da elite paulista. “Cem anos depois, e as pessoas não sabem que os cariocas foram muito importantes para o evento. Sem eles, não teria ocorrido”, afirmou.

Os debatedores lembraram que, naquele mesmo ano, no Rio, ocorreu a exposição referente ao primeiro centenário da Independência, um grande festival que trouxe tecnologia e inovações da Europa. O evento teria influenciado – asseguram — fortemente o movimento modernista brasileiro, mais do que a Semana de Arte Moderna. “Eu diria que ali foi a verdadeira entrada do Brasil na Modernidade”, apontou o jornalista.

Ao final do debate, Barriel e Ruy Castro admitiram que o movimento paulista produziu obras de alto nível, mas reforçaram que é preciso entender o que foi esse movimento e colocá-lo em um quadro equilibrado na vida cultural brasileira. “A grande contribuição das análises contemporâneas sobre a Semana é rebater essa visão totalizante que se criou”, ponderou o historiador Berriel.

O debate protagonizado por Ruy Castro e pelo professor Carlos Eduardo Berriel contou com a medição da pesquisadora Flávia Prando, do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo. Ela é mestre e doutoranda em música, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP).

Aqui, acesso ao link para o debate “Modernismo à beira mar”

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Letícia Franco


Veja mais matéria sobre Destaque

Provão Paulista incentiva estudantes da rede pública


Desde 2023, a prova seriada se tornou porta de entrada para as melhores universidades do Estado de São Paulo


Sistema de Educação ainda requer ajustes para incluir alunos PcD na educação física


Apesar dos avanços na educação, alguns profissionais ainda se sentem despreparados para lidar com esse público nas aulas


Revolução na luta contra Alzheimer: Unicamp lidera avanços com IA na inovação farmacêutica


Pesquisas inovadoras unem tecnologia e biociência na busca de tratamentos eficazes para doença neurodegenerativa


Projeto social promove atividades pedagógicas em escolas de Campinas


São pelo menos 280 jovens mobilizados nos encontros e quatro escolas que abraçam as atividades propostas


Valinhos é eleita a cidade mais segura do Brasil em 2024


Uso de tecnologia e aumento de 30% no efetivo da Guarda Civil Municipal aumentam a segurança e a qualidade de vida na cidade


Novembro Azul destaca o papel da hereditariedade no avanço do câncer de próstata


Especialista explica como o fator genético pode acelerar o câncer masculino



Pesquise no digitais

Siga – nos

Leia nossas últimas notícias em qualquer uma dessas redes sociais!

Campinas e Região


Facebook

Expediente

Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes / Daniel Ribeiro dos Santos / Gabriela Fernandes Cardoso Lamas / Gabriela Moda Battaglini / Giovana Sottero / Isabela Ribeiro de Meletti / Marina de Andrade Favaro / Melyssa Kell Sousa Barbosa / Murilo Araujo Sacardi / Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.