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TSE debate sobre gênero e feminismo

Jornalista Pietra Chaves mediou bate-papo com Djamila Ribeiro e Jaqueline de Jesus                                                             

Por: Leonardo Fernandes

Djamila Ribeiro (no topo à esquerda), Jaqueline de Jesus (no topo à direita) e Pietra Chaves em live do TSE. As professoras abordaram a questão de gênero como pauta social e política. (Imagem: YouTube)

O Tribunal Superior Eleitoral promoveu discussões com referências femininas do jornalismo, dos estudos sociais e da psicologia durante o mês de março, no projeto intitulado “Mulheres Debatem”. Para o último encontro, realizado nesta sexta-feira (26), o TSE convidou a professora e escritora Djamila Ribeiro, e a também professora e psicóloga Jaqueline de Jesus para um bate-papo sobre gênero e feminismo. O encontro foi mediado pela jornalista Petria Chaves e apresentado pelo ministro e professor Luís Roberto Barroso.

As convidadas abordaram como principal tópico a desconstrução de gênero nas pautas das esferas política e pública. Djamila, cuja obra literária carrega o tema do chamado “feminismo plural”, destacou que a sociedade precisa refletir sobre quais grupos são abordados quando o feminismo é levantado. “Temos que nos perguntar de quais mulheres estamos falando. Mulheres negras? Indígenas? Lésbicas? Trans? Esse debate precisa ser pensado de maneira interseccional e pensar nisso é abordar a questão de raça também. O feminismo nos dá chance de olhar para as opressões estruturais como um todo”, disse. 

A professora também destacou que o feminismo negro, do qual é conhecedora e carrega vivência, sustenta como base a quebra de paradigmas sociais que se desdobram para outros preconceitos. “Ele (o feminismo) nos faz pensar sobre saídas emancipatórias que podem acabar não atendendo as outras também. Isso seria jogar e alimentar com os trâmites dessa mesma estrutura de opressão e por isso o estudamos”, falou Djamila.

No caso de Jaqueline de Jesus, que é uma mulher trans, a psicóloga contou sobre sua trajetória de vida desde a infância até o mundo acadêmico e como o preconceito presente em sua vida serviu de motivação para buscar os estudos da psicologia social. “Não importava meu desempenho acadêmico, eu sempre sofria algum tipo de bullying. Aprendi que eu certamente teria menos referenciações do que outras pessoas por ser uma mulher negra, trans e de origem periférica, então foi um ato além de resistência. Foi de insurgência”, disse a professora.

Djamila: “A consciência intelectual orienta as práticas políticas, então precisamos entender os retratos e as realidades das mulheres no Brasil hoje”. (Imagem: YouTube)

Djamila Ribeiro pautou que a sociedade demanda de trazer essas discussões, que são fundamentais, para além das “bolhas” dos espaços institucionais. “A consciência intelectual orienta as práticas políticas, então precisamos entender os retratos e as realidades das mulheres no Brasil hoje. Desconstruções não são apenas debates acadêmicos”.

A escritora ainda falou sobre o preconceito acerca da discussão da ideologia de gênero e o afastamento deste debate em ambientes escolares brasileiros. Nas palavras de Djamila, as pessoas contra este tipo de estudo fazem isso para causar confusão e dúvidas na sociedade. “Colocam a questão da ideologia de gênero como se quiséssemos ensinar coisas sexuais às crianças nas escolas, esses absurdos. Mas essas pessoas esquecem que já há uma ideologia de gênero no Brasil que dá permissão para a violência política às mulheres e o feminicídio. Nós discutimos isso para justamente enfrentar tais crimes desta ideologia”.

A resistência ao patriarcado nos setores sociais

Na conversa, as profissionais também comentaram sobre a forte presença da figura masculina e normativa na sociedade. De acordo com Jaqueline, a realidade da resistência é uma guerra, cujas defesas devem ser bem pensadas. “Estamos vivendo numa realidade de guerra; mas quais armas usamos, sabendo que nosso inimigo está muito mais armado pela estrutura do que nós? Será que certas visibilidades não são mais úteis para eles do que nós? Precisamos pensar numa representatividade que nos traga segurança”, afirmou. 

“Quais homens estão no poder? Os brancos e ricos, do patriarcado. Homens negros também são discriminados em nossa sociedade. Então é preciso pensar em todos os sujeitos que são atravessados por várias identidades e que sofrem com o sistema opressor”, complementou Djamila. 

“Precisamos de uma educação inclusiva e aberta e lutar pelo “desvoto” de que só os homens brancos merecem o mundo político. Devemos encontrar alternativas, agora, para diminuir problemas no futuro e este é o dilema de todas as gerações”, concluiu Jaqueline.

Orientação: Profa. Amanda Artioli

Edição: Profa. Amanda Artioli & Leonardo Fernandes


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