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Novo gestor quer Correio Popular mais regional

Ítalo Barioni pretende “tirar do fundo do poço” o jornal que circula há 94 anos em Campinas

Barioni: “Um jornal cumpre seu papel quando dá voz aos grupos, às minorias” (Foto: Arquivo Pessoal)

Por Letícia Franco

Desde que assumiu o comando da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC) – grupo que edita o jornal Correio Popular – no dia 18 de janeiro, o empresário Ítalo Hamilton Barioni, 72, afirma ter estabelecido como prioridade adotar um caráter mais regional ao periódico que circula há 94 anos em Campinas e região.

Experiente em recuperação de empresas, o administrador formado pela Faculdade Padre Anchieta, de Jundiaí, assumiu o Correio na fase mais crítica da saúde financeira do jornal. Em entrevista ao portal Digitais – concedida por videoconferência – Barioni adianta já ter equacionado como resolver as dívidas trabalhistas da empresa, que acumulavam um passivo de R$ 9 milhões até o início do ano. Procurado, o sindicato não confirmou ter feito o acordo.

Barioni nasceu em Garça (SP), mas vive em Campinas desde 1966. O empresário teve seu primeiro emprego como tipógrafo em um jornal aos 12 anos de idade, e agora, como presidente executivo do diário sediado na Vila Industrial, tem se dedicado a fazer contatos com lideranças da cidade, que incluem encontros com empresários, políticos e reitores de universidades locais. Recentemente, participou de audiência pública na Câmara Municipal debatendo a circulação de fake news, contra as quais promete lutar enquanto estiver à frente da empresa.

A seguir, os principais momentos da entrevista que Barioni concedeu ao Digitais:

De onde veio a ideia de assumir o comando de um jornal diário?

Eu já sabia da situação crítica do jornal. Como faço parte do conselho econômico da Arquidiocese, mantenedora da PUC-Campinas, eu levei a ideia de arrendamento do jornal para o arcebispo, com o intuito de que a Igreja tivesse mais um órgão de comunicação, além da Rádio Brasil, para falar com a cidade. Só que, tendo em vista a situação econômica em que o jornal se encontrava, ele não poderia ser arrendado. Como meu grupo de empresas tem um braço voltado à recuperação de companhias em dificuldades, resolvi assumir eu mesmo o desafio de recuperar o Correio Popular.

O senhor já tinha tido algum contato anterior com este tipo de empresa?

Aos 12 anos, eu comecei a trabalhar como tipógrafo em um jornal e passei a gostar desse meio. Também trabalhei em uma emissora de rádio durante minha juventude. Sempre fiquei com essa verve jornalística, já que tenho três irmãos jornalistas. Um foi um dos fundadores da CBN em São Paulo e se aposentou na Globo; outro, atualmente está na editoria de esportes do Correio; e uma irmã, já falecida, que trabalhou na Folha de S. Paulo e chegou a receber um Prêmio Esso.

Quais desafios o Correio Popular tem pela frente?

Os desafios do jornal são enormes. O jornal atingiu o que eu chamo de “fundo do poço”. Apesar de a companhia enfrentar dificuldades financeiras, possui grande capacidade de recuperação. Atualmente circulamos com 15 mil exemplares por dia em Campinas e região, mas o que me anima é que temos 300 mil visitas diárias individuais no Correio Popular na internet. Temos 150 mil seguidores no Facebook e quase 30 mil assinaturas digitais. Certamente, o jornal é um grande formador de opinião, e o desafio inicial poderá ser vencido com muito trabalho, desenvolvendo ainda mais a comunicação com os diferentes públicos.

Como o senhor está tentando superar as dificuldades?

Eu mudei completamente o jornal. Quando comecei o montar a nova equipe, convidei o Luiz Roberto Saviani Rey e o professor da PUC-Campinas Marcel Cheida para comporem a nova equipe. Marcel já nos deixou para poder retomar as aulas, depois do recesso de fim de ano. Deixei claro, para o desgosto de muita gente, que o jornal deveria ter um caráter regional, que trouxesse notícias de Campinas e região, destinando apenas uma página para os assuntos do Brasil e do mundo. Na minha concepção, já há muitos veículos que informam os acontecimentos do Brasil e do mundo durante as 24 horas do dia. Por isso, para se informar sobre Campinas e região é preciso ler o Correio Popular. Já houve um aumento significativo de assinaturas e percebo que o jornal está caindo no gosto popular, justamente por privilegiar os assuntos locais.

Que papel tem um jornal diário em uma cidade como Campinas?

Vejo o jornal impresso diário como o principal formador de opinião em uma cidade. Por mais que a TV alcance muitos lares, ela é feita de segundos e minutos, trazendo informações rapidamente.  O jornal impresso aprofunda e disseca os assuntos, e traz toda a discussão ao ambiente público. O Correio é plural, não tem tendência, e dá espaço e voz para todas as correntes. O jornal tem uma missão relevante a serviço da coletividade.

A antiga direção do Correio Popular deixou um passivo trabalhista. Como esse problema está sendo encaminhado?

Após assumir o comando do jornal no dia 18 de janeiro, eu fiz um convite, no dia 19, aos três sindicatos envolvidos na questão: o principal, que é o sindicato de jornalistas; o sindicato de empregados em administração e um único empregado remanescente da parte gráfica. Para a surpresa deles, eu ofereci três prédios para serem vendidos ou leiloados. Cabe à justiça trabalhista fazer a destinação de como prover isso. Ao todo, os prédios valem R$ 15 milhões, o que paga as dívidas trabalhistas que estão em torno de R$ 9 milhões. Já posso adiantar que, através de várias assembleias e após muita discussão, entre 19 de janeiro e 10 março, conseguimos a aprovação dessa proposta e vamos encaminhar o acerto dessas contas. Foi uma grande vitória.

Quais serão os grandes compromissos que o jornal tende a construir com a população da RMC?

Nosso compromisso é privilegiar a prestação de serviço ao público. O jornal é um porta voz da sociedade. Não se trata de ser dono da verdade, ao contrário, é sobre a missão de dar voz à sociedade. Um jornal cumpre seu papel quando dá voz aos grupos, às minorias, aos políticos e à sociedade de um modo geral. As ideias da sociedade têm que ser colocadas em público e essa deve ser a pauta do jornal. É isso que o Correio tem como objetivo, além de privilegiar as boas notícias, visto que a pandemia já está trazendo uma série de complicações para a nossa sociedade.

Orientação: Prof. Carlos A. Zanotti

Edição: Letícia Franco


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Digitais é um produto laboratorial da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, com publicações desenvolvidas pelos alunos nas disciplinas práticas e nos projetos experimentais para a conclusão do curso. Alunos monitores/editores de agosto a setembro de 2023: Bianca Campos Bernardes / Daniel Ribeiro dos Santos / Gabriela Fernandes Cardoso Lamas / Gabriela Moda Battaglini / Giovana Sottero / Isabela Ribeiro de Meletti / Marina de Andrade Favaro / Melyssa Kell Sousa Barbosa / Murilo Araujo Sacardi / Théo Miranda de Lima Professores responsáveis: Carlos Gilberto Roldão, Carlos A. Zanotti e Rosemary Bars.